O novo Nissan Kicks foi revelado com um incomum sistema híbrido em série chamado de e-Power. A tecnologia está confirmada para o Brasil e tem potencial para ser um divisor de águas no segmento de híbridos, pois seu conceito é consolidado há décadas por trens de carga e caminhões gigantes de mineiração.
E não, não tem nada a ver com o Toyota Prius. Na verdade, o Kicks é mais parecido com um veículo elétrico.
Para entender, vamos relembrar como funciona um veículo híbrido pleno, ou seja, capaz de rodar só com a força de um de seus motores. Nesses modelos há dois propulsores de tração: um a combustão e outro elétrico. Um complexo sistema eletrônico escolhe qual dos motores será usado, e pode acionar os dois simultaneamente quando o motorista precisar de mais potência.
Esse gerenciamento requer amplo conhecimento da fabricante, pois o ideal é que o motorista nunca perceba qual motor está em uso, e a transição entre eles deve ser imperceptível.
Como você deve imaginar, isso custa caro, a ponto de marcas que não têm conhecimento pleno da tecnologia optarem por migrar diretamente para o segmento de elétricos, como a JAC.
Aí entra a sacada dos carros híbridos em série. Como o nome diz, os motores são acoplados em sequência, e não trabalham simultaneamente (ou em paralelo). Neles, o propulsor a combustão tem como único propósito gerar eletricidade para o motor elétrico.
São duas as maiores vantagens. Primeiro, você abre mão do câmbio e da necessidade de um gerenciamento eletrônico refinado — afinal, agora só um motor traciona o carro. Isso deixa o veículo mais leve e barato.
A segunda virtude é que todo motor a combustão tem uma faixa de rotação ótima, onde ele entrega o máximo de eficiência. O sobe-desce do conta-giros, aliás, é um dos maiores vilões do consumo de combustível. É a mesma lógica dos carros com câmbio CVT, que ficam em uma rotação específica quando o pedal do acelerador é acionado até o fim.
Por esses mesmos motivos trens de carga e veículos ultrapesados usam o mesmo conceito. Nestes casos, há uma vantagem extra: o controle de aceleração de um motor elétrico pode ser feito com uma precisão impossível de se aplicar em um conjunto a combustão, algo essencial quando você está movimentando centenas ou milhares de toneladas.
Quase um powerbank
Voltemos ao Kicks. Os mais atentos podem questionar a diferença dele para os primeiros BMW i3, que vinham com um motor a combustão para ampliar seu alcance. O alemão, porém, é um elétrico de autonomia estendida, e não um híbrido paralelo.
A maior diferença é que o i3 tem uma bateria enorme: os primeiros modelos tinham uma capacidade nominal de 21,6 kWh, enquanto o Kicks comporta só 1,57 kWh. E olha que a bateria do Nissan nem é tão pequena: o Prius, por exemplo, acumula só 0,75 kWh.
Outra diferença é que o i3 pode ser recarregado em uma tomada e permite que você abra mão da gasolina. No Kicks isso não é possível, e nem faria sentido: sua autonomia apenas no modo elétrico é de poucos quilômetros.
Agora, se você já foi procurar um powerbank e viu a diferença de preço de acordo com a capacidade, dá para imaginar quão mais barata é a bateria do Kicks em relação à de um modelo elétrico.
E não é só na hora de comprar que o dono do Kicks híbrido irá economizar. A Nissan incluiu no SUV o sistema e-pedal, que estreou no Leaf. Com ele é possível dirigir usando apenas o acelerador.
Seu funcionamento é simples: ao aliviar o pé direito, o carro passa a usar o motor elétrico para reduzir a velocidade do carro (gerando eletricidade enquanto isso). Além de aumentar a autonomia, esse sistema poupa os freios convencionais, que são bem menos usados e duram mais.
Por aqui, o Kicks híbrido manterá o conjunto de motor 1.2 12V a combustão e outro, elétrico, de 129 cv e 26,5 kgfm — este último disponível desde 1 rpm. Naturalmente a tecnologia e-Power será mais cara do que a versão convencional 1.6, mas ela é bem mais em conta do que o Renegade plug-in híbrido.
No Brasil, a versão híbrida do Kicks será a topo da gama. No Japão, o Note e-Power, que estreou a tecnologia, custa 50% a mais que a versão de entrada do monovolume. Se essa diferença for aplicada ao Kicks, o SUV híbrido custaria pouco mais de R$ 122.500, valor não muito distante da versão mais cara do momento, a SL Pack Tech, que é vendida por R$ 108.790.