Como serão os carros do futuro ainda é uma discussão que agita o mundo, pois vai além da tecnologia específica dos veículos e envolve o próprio conceito de mobilidade.
Já existe uma sinalização aceita consensualmente de que:
- Mais dia menos dia o carro será acionado por energia elétrica;
- Vai se reduzir a interferência do ser humano em sua condução.
Mas ainda se discute como será gerada a eletricidade, que pode se originar dos ventos (eólica), rios (hidráulica), solar, térmica (combustível fóssil ou carvão), química (fuel-cell) ou nuclear. Além disso, o ritmo em que o motorista será substituído pelo computador não depende só da tecnologia do automóvel, mas da infraestrutura de cada país.
Vai se tornando claro também que não haverá uma solução global para os carros do futuro, mas diversas regionais. Cada país (ou região) desenvolve uma tecnologia mais adequada aos seus recursos naturais. Países produtores de petróleo serão provavelmente os últimos a adotar integralmente o carro elétrico, mas deverão eletrificar um razoável percentual de sua frota para se ajustar ao rigor cada vez maior da legislação que limita as emissões de dióxido de carbono.
A presença do carro autônomo será também gradual nos países, em função das condições de infraestrutura para recebê-los. A KPMG, empresa internacional de consultoria e auditoria, pesquisou recentemente a adequação de um país para implantar a autonomia veicular e o Brasil ficou mal na foto.
A mudança do automóvel convencional, com motor a combustão, para um novo padrão nos carros do futuro, também está sendo questionada. Vai diretamente para o elétrico ou por uma transição com o híbrido, provocada pelos problemas das baterias?
E no caso do elétrico, de onde virá sua energia? De um pacote de baterias ou da célula a combustível (fuel-cell)? E para complicar mais um pouco: no caso da fuel-cell, o carro será abastecido com hidrogênio ou com outro combustível líquido (como um álcool, por exemplo) do qual se extrairá o H2?
Carros do futuro: hidrogênio extraído do álcool
Na minha opinião, solução do tipo “sopa no mel” para os carros do futuro no Brasil seria o carro elétrico movido por fuel-cell com o H2 extraído do etanol. A Nissan já levou um veículo que funciona exatamente assim para ser desenvolvido pela Unicamp. Vantagens?
- Solução superamigável com o ambiente, pois o carro é acionado por motores elétricos e expele água pura pelo escapamento;
- É um carro elétrico, mas sem o pesado e caro pacote de baterias: apenas duas ou três para o funcionamento de equipamentos e uma reserva para momentos em que os motores exigem uma dose maior de energia elétrica;
- Nenhum problema de abastecimento nem demora na recarga, pois já existe uma completa rede de postos em todo o país com bombas de etanol;
- Custo de manutenção tão reduzido como o elétrico com baterias pois também dispensam a parafernália exigida pelo motor a combustão: escapamento, injeção, polias, correias, alternador, catalisador, filtros, óleos, fluidos, velas e outras;
- Não tem, como o elétrico, a autonomia limitada. Neste aspecto, ele se comporta exatamente como um carro com motor a combustão.
O automóvel elétrico com célula a combustível (H2) já existe e é produzido pela Toyota (Mirai), Honda (Clarity) e Hyundai (Nexo). Só não alçou voo pela dificuldade da obtenção, armazenamento e distribuição do hidrogênio.
Por outro lado, o “calcanhar de Aquiles” do elétrico a fuel-cell abastecido com etanol é o reformador, equipamento que extrai o H2 do álcool. Grande, pesado e caro, inviabiliza sua presença no automóvel. Mas o reformador poderia ser instalado no posto e neste caso, receberia etanol da bomba de um lado e entregaria hidrogênio – do outro – no tanque do automóvel.
O reformador é pesado, caro e grande, alegam os que se opõem à ideia. Porém, mais leve, barato e menor que o compressor necessário em qualquer posto que tenha bomba de GNV!