Uma montadora como a Ford — responsável pela popularização do automóvel no século 20 — não pode ficar de fora do segmento de SUVs médios se quiser ser competitiva no Brasil. Como sabemos, esse nicho é amplamente dominado pelo Jeep Compass, que, sozinho, vende mais do que todos os seus concorrentes juntos. A decisão da Ford de entrar nesse segmento com o SUV chinês Territory pode ser um começo, mas não é a solução. A resposta para o Jeep Compass chama-se Ford Bronco Sport, o novíssimo utilitário esportivo lançado recentemente nos EUA.
Mas a situação não é tão fácil. De cara, o Bronco Sport é menor do que o Compass. Ele mede 4,386 m contra 4,416 do Compass. Ganha, porém, na distância entre-eixos: o Bronco Sports tem 2,669 m e o Compass tem 2,636 m. Na largura, o Bronco Sport também ganha: 1,887 m contra 1,818 m. Na altura, o Ford tem 1,783 m contra 1,639 m do Jeep. Quanto à capacidade do porta-malas (grande problema verificado no Ford Territory), só conseguimos comparar as medidas até o teto. O Bronco Sports tem 821 litros na versão 2.0 e 917 litros na versão 1.5, enquanto o Compass oferece 770 litros na versão 4×4. Não conseguimos obter a capacidade do Bronco Sports até o vidro. A do Compass é de 410 litros.
O principal problema para o Ford Bronco perante o Compass é a falta de versões 4×2. Todas as versões fabricadas nos EUA são 4×4. Para ser realmente competitivo, o carro teria que oferecer versões 4×2, mais baratas. O Jeep Compass 4×4 de entrada custa R$ 176.990. Se o Ford Bronco Sport fosse produzido no Mercosul, seria mais fácil oferecer alternativas. Entretanto, a Ford teria planos de produzir o Escape na Argentina, ocupando a linha que era do Focus. Se isso ocorrer, o problema está resolvido, mas a montadora não confirma. Afinal, o Escape também deve ser produzido no México, o que facilitaria suas exportações para o Mercosul.
É quase certo que a Ford trará o Escape híbrido, para ocupar espaço também no mercado de eletrificados. Porém, esse mercado é ainda menor do que o de SUVs 4×4. Curiosamente, a Ford tem tantas opções de opções de utilitários esportivos que, ao mesmo tempo, parece não ter nenhuma que sirva 100% para o mercado brasileiro. O Territory — que chegou mal posicionado em preço, muito caro — dificilmente vai tirar vendas da concorrência (não apenas o Jeep Compass, mas também o Volkswagen Tiguan e o Chevrolet Equinox).
O Bronco Sport seria uma solução interessante para a Ford justamente por oferecer uma alternativa intermediária entre os dois Jeeps fortes do mercado: Renegade e Compass. Com 4,386 m, o Bronco Sport se posicionaria entre o Renegade (4,232 m) e o Compass (4,416 m), deixando o Territory (4,580 m) para quem deseja um SUV mais confortável. Para isso, claro, seria necessário mexer no preço do Territory, o que é possível. Também não podemos esquecer que a atual geração do EcoSport já tem oito anos. Quando esse carro mudar, certamente terá mais capacidade para enfrentar não apenas o Jeep Renegade 4×2, mas principalmente os piores inimigos da Ford no segmento de SUVs compactos, como Volkswagen T-Cross, Chevrolet Tracker e Hyundai Creta.
O Bronco Sport tem características que agradariam o consumidor brasileiro. O motor 1.5 EcoBoost turbo tem apenas três cilindros, portanto é bem compacto, com injeção direta, e entrega bons 182 cv de potência (6.000 rpm). O torque é de 258 Nm a 3.000 rpm. O carro também está preparado para receber o motor 2.0 EcoBoost turbo de quatro cilindros, também com injeção direta, de 248 cv (5.500 rpm) e 373 Nm (3.000 rpm). O câmbio é automático de oito marchas nas duas configurações.
Para além dessas características, o Ford Bronco Sport foi pensado nos mínimos detalhes para ser um carro prático. Ele tem vários itens de conveniência para quem deseja viajar para o campo ou praia, numa clara demonstração de que, pelo menos nos EUA, os Jeep Renegade e Compass agora têm um rival muito forte pela frente.
Mas não é só isso. Essa nova família de SUVs da Ford também tem o novo Bronco. Diferentemente do Bronco Sport, que é um SUV familiar, o Bronco é um veículo todo-terreno com carroceria sobre chassi. O carro mirou diretamente no Jeep Wrangler, um grande rival da Ford nos EUA. Na semana passada, a Ford do Brasil divulgou um comunicado sobre suas vendas, dizendo o seguinte:
“A pré-venda da nova família Bronco nos Estados Unidos teve uma receptividade sem precedentes na história da Ford: mais de 165.000 clientes fizeram o depósito de US$ 100 nas três primeiras semanas para reservar o SUV. E mais de 13 milhões de pessoas sintonizaram na televisão ou buscaram as redes sociais para conhecer os novos modelos.
Poucas horas depois da revelação da nova linha 4×4, no dia 13 de julho, a hashtag #FordBronco dominou as plataformas das mídias sociais e foi o assunto mais comentado do Twitter nos EUA. Tornou-se também o principal tema de pesquisa do Google, atraindo mais de 5,4 milhões de visitantes ao site da Ford nas primeiras 48 horas, em busca de informações e reservas. No total, o site já soma até agora de mais de 19,5 milhões de visitantes.
No dia seguinte, todas as 2.000 unidades da edição especial Bronco Sport First Edition estavam esgotadas. O mesmo ocorreu com os modelos Bronco First Edition de duas e quatro portas, que tiveram a produção duplicada para 7.000 unidades para atender os interessados.”
Onde há fumaça, há fogo, diz a sabedoria popular. Por que a Ford do Brasil estaria divulgando o sucesso do Bronco nos EUA se não tivesse algum interesse no carro em nosso mercado? No mínimo, a empresa americana está tentando criar uma imagem favorável para o Ford Bronco perante os consumidores brasileiros. Primeiro, cria-se o desejo. Depois, cria-se a necessidade. Esse sistema movimenta a indústria automobilística desde que a Ford revolucionou o mundo, em 1913, ao produzir o Modelo T em massa e reduzir seu preço de US$ 900 para US$ 260.
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