Se você fizer uma viagem de avião, pode compensar as emissões que aquecem o planeta daquele voo fazendo coisas como dirigir menos e desligar as luzes de casa? A resposta é sim, mas uma opção pode ser menos eficaz que a outra. Segundo um novo estudo, a maioria das pessoas avalia mal as opções que têm maior efeito sobre as emissões de dióxido de carbono.

Como você se classifica ao escolher as melhores maneiras de reduzir suas emissões? Faça este miniteste baseado na pesquisa e veja se suas opiniões se encaixam nas respostas realistas.

Ser vegetariano ou reduzir as embalagens?
Você decide diminuir as emissões de gases do efeito estufa tornando-se vegetariano durante um ano. Sua amiga não quer mudar de dieta e prefere reduzir a poluição comprando só alimentos pesados na hora (sem qualquer tipo de embalagem). Quantos anos sua amiga levaria para economizar a mesma quantidade de gases do efeito estufa que você?

Resposta: Você teria de evitar os alimentos embalados durante aproximadamente 11 anos para ter o mesmo efeito que um ano sem comer carne, segundo um estudo de 2013. Quase todo mundo na pesquisa original errou, dando a resposta média de 1,1 ano. (A variação possível de respostas corretas é de 10,5 a 11,7 anos. Isso porque seria quase impossível, e não necessariamente uma boa ideia, eliminar completamente todas as embalagens. Para reduzir a decomposição, somos obrigados a ter pelo menos algumas.)

Quais são os grandes consumidores de eletricidade em sua casa?
Uma casa gera um monte de gases do efeito estufa, mas nem todos os eletrodomésticos e dispositivos são equivalentes. Por quantas horas você poderia deixar uma lâmpada LED acesa para produzir a mesma quantidade de gases do efeito estufa que uma secadora de roupas cheia?

Resposta: Você poderia deixar a luz LED acesa durante aproximadamente 300 horas, ou 13 dias seguidos, e ter a mesma pegada de carbono que uma secadora cheia. No grupo de pesquisa original, a resposta média foi 60 horas. Talvez trocar por um varal? (A variação da resposta certa é de 272 a 354 horas, dependendo da potência da lâmpada.)

Vai tirar férias?
Digamos que você vai pegar um voo só de ida, na classe econômica, de Nova York a Londres. Você poderia compensar essas emissões desistindo dos hambúrgueres de 200 gramas. Quantos você precisaria não comer para compensar esse voo?

Resposta: Aproximadamente 278 hambúrgueres —o equivalente a toda a carne consumida por um americano médio em 15 meses. Por isso, se você não pretende ficar em Londres e não quer voltar para casa de barco a vela, precisaria desistir de carne durante mais de dois anos para compensar as emissões de sua viagem (de ida e volta). Na pesquisa original, o palpite médio foi 100 hambúrgueres. (A variação de respostas corretas era entre 146 e 410, porque estudos diferentes têm estimativas diferentes das emissões provocadas pela pecuária e o processamento da carne.)

Quão melhores são os carros híbridos?
Você tem um carro de porte médio e é ecologicamente consciente, então adota um limite rígido de 160 quilômetros por semana. Se você trocar por um carro híbrido, quantos quilômetros poderia dirigir produzindo a mesma quantidade de gases poluentes?

Resposta: Em média, poderia dirigir cerca de 240 quilômetros, mas dependendo dos carros. Por exemplo, se você trocar um Toyota Camry por um Toyota Prius, poderá percorrer 304 km –quase o dobro! O grupo da pesquisa tendeu a superestimar a compensação de carbono, com uma avaliação média de 320 km. (A variação correta é de 180 a 304 km, porque carros diferentes têm desempenhos diversos.)

Você ficou muito longe?
Resposta: Nesse caso, não se sinta mal. Você não foi o único. Pesquisadores questionaram 965 pessoas nos Estados Unidos e no Canadá, e só uma respondeu corretamente a 3 das 4 perguntas. Ninguém acertou as quatro.

Quando pediram aos participantes para classificar o efeito das diferentes atividades, 4 em cada 5 pessoas subestimaram a importância dos voos para o clima. Mais da metade superestimou a importância das sacolas de compras reutilizáveis.

“Fiquei um pouco surpreso com a persistência de algumas ideias erradas”, disse Seth Wynes, aluno de doutorado na Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e o autor principal do estudo, que foi publicado em agosto na revista Climatic Change.

Wynes disse que as pessoas talvez tenham subestimado as fontes de gases do efeito estufa que não podemos ver, como as emissões agrícolas, e dado muito peso àquelas que encontram no dia a dia.

“Você não vê as emissões de metano que uma vaca produz”, disse Wynes. “Mas vê a fumaça saindo pelo escapamento do carro.”

Os EUA e o Canadá são dois dos principais emissores mundiais de gases do efeito estufa, tanto em emissões totais como per capita. Em média, cada pessoa produz por ano mais de 15 toneladas de dióxido de carbono, um dos principais fatores do aquecimento global. É aproximadamente três vezes a média britânica e cerca de oito vezes a da Índia.

Para muitas pessoas em todo o mundo, é claro, pegar um avião até Paris e comer menos bifes não é uma opção, para começar. Um relatório do ano passado publicado na revista médica The Lancet sugeriu reduzir bastante a carne vermelha para as pessoas que consomem muita, como os americanos ou os canadenses, mas não para os pobres do mundo, que precisam de mais proteína animal para melhorar a saúde.

“Não vivemos em um mundo onde todo mundo tem uma espécie de orçamento de carbono, como um cartão de crédito de carbono, onde só podemos gastar X toneladas de CO2 por ano”, disse a doutora Shahzeen Attari, professora-associada na Universidade de Indiana em Bloomington que estuda percepções climáticas e tomada de decisões, e que não participou da pesquisa.

Além disso, reduzir as emissões de carbono para conter a mudança climática exigirá mudanças políticas abrangentes no nível governamental e uma reformulação das redes de energia mundiais.

Mas as pegadas de carbono individuais ainda contam, especialmente nos países mais ricos. As emissões familiares, incluindo uso de energia, compras de alimentos e transporte, representam um quinto de todas as emissões dos Estados Unidos.

Quando os participantes da pesquisa foram solicitados a escolher a principal mudança de estilo de vida que poderiam fazer para reduzir as emissões, dirigir menos foi a resposta mais comum. Na realidade, a mudança mais significativa seria ter menos filhos. As três seguintes são viver sem carro, evitar viagens aéreas e fazer uma dieta vegetariana. (Ser vegetariano, por exemplo, é oito vezes mais eficaz do que trocar as lâmpadas por outras mais modernas.)

Para elucidar algumas percepções enganosas sobre o clima e ajudar as pessoas a tomar melhores decisões, o estudo recomenda mais informação e o enfoque em atividades de alto impacto, assim como rótulos indicando a pegada de carbono nos produtos de consumo, semelhantes aos rótulos nutricionais nos alimentos.

“Estamos nessa estranha situação de muita tensão”, disse Chris Jones, palestrante em psicologia social e ambiental na Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha. “Nós sabemos que deveríamos ser pessoas melhores ambientalmente, mas também estamos cercados de tentações.”

Estas podem assumir a forma de costeletas de cordeiro ou de férias no exterior.

Para compensar essas “negligências ocasionais”, as pessoas tendem a utilizar o que Jones chama de “banco de bondades desfocado”, uma espécie de contabilidade frouxa dos impactos do carbono. Por exemplo, se alguém recicla e faz compras no comércio local, pode usar essas ações positivas como justificativas por comer carne com frequência, quando na realidade a compensação do carbono não é equivalente.

Compreender a classificação das diversas atividades também pode ajudar as pessoas, que do contrário poderiam escolher uma única boa ação ecológica e considerá-la suficiente. Se essa ação for reciclagem, teria um pequeno efeito sobre as emissões, comparada com fazer menos viagens de avião ou trocar um carro esportivo-utilitário por uma bicicleta.

Attari indicou, entretanto, que agir melhor não precisa significar uma total autonegação.

“Também há essa ideia de que ser ecológico significa que você tem apertar o cinto”, disse ela. “Nem sempre precisa ser menos. Pode ser fazer a mesma coisa, mas de modo mais inteligente.”

Diminuir seu aquecedor alguns graus no inverno ou cortar a carne da dieta pode ter um grande efeito sobre sua pegada de carbono, mas não exige uma reorganização completa da sua rotina diária.

“Não precisamos nos transformar em calculadoras”, disse Attari. “Apenas devemos saber as coisas mais eficazes que podemos fazer, e fazê-las.”

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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