A facilidade proporcionada pelo e-commerce, bem como pelos aplicativos de delivery, reforçaram a cultura do capitalismo durante o isolamento social. Sem levantar da cama, hoje é possível trabalhar, comprar aquela roupa desejada há meses, pedir o almoço, a janta e ainda fazer a despesa do mercado.
Segundo o contador, administrador e especialista em e-commerce, Victor Corazza Modena, de 30 anos, esse movimento faz parte da busca do indivíduo por qualidade de vida. “Essa nova realidade nos trouxe uma nova rotina e, consequentemente, novos hábitos tecnológicos que deixaram de se concentrar apenas nos jovens. Hoje, independente da faixa etária, todos estamos conectados e temos acesso aos serviços de forma muito mais rápida e prática. Para o consumidor, a lógica é simples: ‘se eu posso ter tudo sem sair de casa, porque não aderir?”, explica.
Para as empresas, a intensificação da conectividade trouxe benefícios. “Além do home office reduzir o budget com passagens aéreas e outras despesas, tornou a realização de reuniões ainda mais práticas e flexíveis”, pontua Modena, alegando que as empresas poderão caminhar para um modelo híbrido de trabalho a fim de conciliar o remoto com o presencial.
IMPACTOS
Mas de clique em clique, podemos entrar em um frenesi de consumo desenfreado que, por sua vez, impacta diretamente o meio ambiente, seja pela produção de lixo ou mesmo pelo esgotamento dos recursos.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2018 cada brasileiro produzia cerca de 1,039 kg de lixo ao dia, resíduos que vão para os aterros sanitários.
Já neste ano, durante a pandemia, a coleta de materiais recicláveis pelos serviços de limpeza aumentou 28% em maio, e 30% em junho na comparação com o mesmo período de 2019. Mas isso não se resume apenas aos descartáveis. De acordo com o Departamento de Limpeza Pública da Unidade de Gestão de Infraestrutura e Serviços Públicos (UGISP), de março a agosto deste ano foram coletadas 56.899 toneladas de lixo orgânico, o que equivale a uma queda de 2,65% em relação o mesmo período do ano passado, que teve 1.550 toneladas a mais de lixo. Em contrapartida, a coleta de recicláveis teve crescimento de 6,76% no mesmo período.
É por todas essas estatísticas que o historiador Samuel Galiego, de 33 anos, alerta para a reflexão em torno das motivações que existem por trás dos nossos hábitos de consumo e como isso afeta nosso ecossistema. “Enquanto as necessidades reais tiverem um caráter secundário no processo de produção, e o principal horizonte seguir pautado pela acumulação, haverá o risco de colapso, dado que os recursos naturais são finitos e o tempo da natureza não acompanha a velocidade do consumo estabelecida pela necessidade de expansão produtiva e acumulação de capital”, reflete.
A presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Patrícia Iglecias, afirma que é possível tentar reduzir os impactos da produção de resíduos, e que esse esforço deve começar dentro das próprias empresas através da logística reversa. “A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) reconhece no resíduo sólido reutilizável e reciclável não somente um bem econômico, importante para o setor produtivo, mas também um bem de valor social, pois é uma fonte geradora de trabalho, de renda e de cidadania. Por isso, fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores de produtos e embalagens definidos na legislação estão obrigados a viabilizar a coleta e o retorno dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento ou outra destinação adequada”, diz.
MUDANÇA
Em busca da redução dos impactos ambientais, muitos buscam estilos de vida menos nocivos ao meio ambiente. Foi com esse intuito que a produtora cultural Maria Carolina Dalmazo, de 26 anos, aderiu ao vegetarianismo. “Além de toda questão do sofrimento animal, que por si só já é motivo de sobra para eu cortar o consumo de carne, também aderi ao vegetarianismo devido à minha relação com o meu corpo, minha saúde e o meio ambiente. Hoje, além de não comer carne, eu evito ao máximo consumir produtos industrializados, principalmente os que seguem a linha veg dentro de uma empresa que não é veg e colaboram em silêncio com o sofrimento animal”, explica.
A lógica é simples e o Greenpeace explica. Ao reduzir o consumo de carne, a necessidade de devastação de áreas de mata nativa para a prática de atividades agropecuárias também reduz. Mas quem não deseja cortar a carne da alimentação, pequenos esforços podem fazer a diferença. A iniciativa ‘Segunda sem Carne’, proposta pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) sugere que ao menos um dia por semana todos deixem de consumir carne e dessa forma, cada pessoa poderia poupar a emissão de 14kg de CO2 na atmosfera, que equivale a 100 km rodados por um carro, além de poupar 3400 litros de água, que é o mesmo que 26 banhos de 15 minutos.
Na prática, toda e qualquer mudança de hábito pode fazer a diferença. O primeiro passo pode ser a redução do consumo. Um pedido a menos do delivery hoje, uma compra que pode ser adiada para amanhã. O meio ambiente agradece.