As vantagens ambientais e sustentáveis dos carros elétricos são irrefutáveis, conforme já abordamos neste espaço do TecMundo. Mas sempre existem críticos que argumentam que “não é bem assim” e que a fabricação e a manutenção das baterias desses modelos seriam tão poluentes para o planeta quanto os carros a combustão.
Ledo engano. Além de essa linha de raciocínio não levar em consideração a fabricação dos modelos a combustão, apenas o refinamento do combustível fóssil representa cerca de um terço das emissões de um veículo comum antes mesmo de ele chegar ao tanque de gasolina. A queima do combustível também é problemática, já que converte em movimento apenas uma pequena parcela da energia armazenada em cada mililitro.
Esse olhar enviesado também não leva em consideração o desenvolvimento galopante de novos modelos de baterias, em destaque nos mercados europeu e asiático, que apontam uma equiparação de resistência e preço até 2025 nas baterias e em seus valores na comparação entre veículos elétricos e a combustão, segundo reportagem recente da revista Quatro Rodas.
Gigantes do setor como a Tesla já estão trabalhando em designs diferenciados para baterias de carros elétricos a serem lançados nos próximos anos. Os novos processos de fabricação dessas baterias vão usar menos água, menos energia e trocar o lítio por silício, o elemento mais abundante na superfície da Terra.
Reciclagem
Outro argumento ingênuo daqueles que dizem que os carros elétricos são piores para o meio ambiente do que os convencionais é a reciclagem das baterias. A grande pergunta geralmente é: o que fazer com as baterias quando elas “viciarem” e precisarem ser trocadas?
Apesar de não servirem mais para movimentar um carro elétrico, as baterias antigas desse tipo de veículo ainda têm uma longa vida útil quando direcionadas a outras aplicações. Já é comum casas off-grid usarem baterias velhas de carros da Tesla e da Nissan para armazenar energia solar para uso à noite. As peças também podem ser inseridas em grandes estações de armazenamento de energia que servem como backup para redes públicas de grandes cidades, especialmente na Austrália.
Mesmo com essas alternativas, é importante lembrar que as baterias de carros elétricos modernos não precisam ser trocadas com frequência. A Lexus espera que seus modelos mais recentes possam rodar até 10 milhões de quilômetros com a mesma bateria. Outras estimativas apontam que o consumidor só deve começar a ser impactado pela perda de autonomia de uma bateria desse tipo após 10 anos.
O diferencial do Lexus UX 300e é a bateria com ar resfriado. (Fonte: Auto Mania/Reprodução)
Substituição
Vale lembrar que, com o avanço da tecnologia, alguns modelos já têm capacidade de carregar suas baterias de 0 a 80% em menos de 1 hora. A estrutura para a troca de baterias também vem sendo estimulada, como é o caso da montadora chinesa NIO, que chegou à marca de 500 mil trocas de bateria em 2020. Gratuita para clientes diretos da companhia, o serviço também pode ser feito para terceiros com uma cobrança de taxa por kWh.
Com o aumento na escala de produção, os preços das baterias têm caído, em média, 15% ao ano, se levarmos em conta fornecedores (quase todos asiáticos) como Panasonic, LG Chem e CATL.
Ponto de inflexão
A data considerada “ponto de inflexão”, definida como 2025, leva em consideração o estudo da consultoria J.P. Morgan que prevê que a participação dos veículos elétricos e híbridos no mercado deve chegar a 30% no ano citado.
O cenário marcaria também a redução dos custos das baterias e o aumento na infraestrutura necessária nas recargas, o que atrairia ainda mais o consumidor médio. Isso sem falar dos subsídios governamentais, que já estão sendo oferecidos, como a isenção de IPVA para veículos elétricos no Paraná e em outros estados brasileiros.
No exterior, a Noruega usa os lucros com a venda de petróleo para subsidiar a compra de carros elétricos para o consumidor final. Com isso, a nação nórdica usa o fôlego final do mercado do petróleo para tornar sua frota totalmente independente do combustível em alguns anos.
Todo esse panorama é uma realidade tanto para gigantes do segmento, como a Tesla, quanto para distribuidoras de energia brasileiras, como a Copel, que já é líder em carregadores de alta velocidade no Brasil. Cada vez mais seguras e sustentáveis, garantindo motores mais autônomos e eficientes, as baterias se tornarão mais um atrativo do que um passivo para o consumidor e o meio ambiente.
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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre cidades inteligentes com a chancela da FIRA Barcelona.