A saída da Ford está sendo atribuída a diversos fatores da economia e da política tributária nacional, entre outras. Contudo, também existe uma mudança sutil que o mercado brasileiro vem enfrentando nos últimos anos. Aliás, vários países enfrentam a mesma questão, o desinteresse pelo automóvel.
Não se trata exatamente da ausência do carro na vida das pessoas, pelo contrário. A pandemia de coronavírus incentivou muito mais pessoas a trocar o transporte coletivo pelo particular, em busca de segurança diante da contaminação.
No entanto, muitas dessas pessoas não compraram carro, elas apenas mudaram o modo como se deslocam e isso não se originou na Covid-19. Bem antes, muitas pessoas deixaram o transporte público em busca de rapidez e agilidade, mas sem usar táxis.
Com custo menor que o táxi, o aplicativo de transporte pessoal (ou coletivo, dependendo da modalidade), se tornou tão popular, que hoje pouca gente ainda não o experimentou de alguma forma.
Essa mudança de comportamento no deslocamento das pessoas se mostrou mais acentuada entre os jovens, a chamada Geração Z. Segundo o Denatran, entre 2015 e 2019, houve um aumento médio de 16% na emissão de CNH no país.
Contudo, na faixa etária de 18 a 25 anos, exatamente a Geração Z, a queda foi de 6%. O desinteresse pelo automóvel caiu diante do aumento do uso de tecnologias digitais e são adeptos do compartilhamento em vez da posse. Mais conectados, os jovens encontraram em apps como Uber, 99 e Cabify uma alternativa de transporte.
Sem a necessidade de uma CNH, hoje se pode ganhar tempo nas cidades gastando muito pouco, usando tais serviços. Em alguns lugares, esses apps chegam a ser mais baratos comparativamente que o custo do transporte coletivo. Mesmo entre cidades, viajar ficou bem mais barato com aplicativos como o Blablacar, por exemplo, um app de carona.
Custo de propriedade
Nesse novo ambiente, ter um carro próprio não se tornou prioridade, diferente de gerações anteriores, que viam o carro não só como transporte, mas também como uma forma de ascensão social. Isso impacta diretamente nas vendas de automóveis.
O desinteresse pelo carro próprio não só atinge os jovens, mas também muitos daqueles que já estão habilitados há algum tempo. O custo de propriedade de um automóvel cresceu muito nos últimos anos, assim como os preços de compra.
Até pouco tempo, não havia alternativa para isso. O uso de aplicativos compensou em parte a necessidade de comprar um carro, no entanto, muitos ainda precisam dispor de um veículo em tempo integral.
Sem a compra do carro, isso era praticamente impossível de se realizar com aluguéis tradicionais. Então, num ambiente ainda sem o compartilhamento de carros como nos moldes dos EUA e Europa, o brasileiro vislumbra outra alternativa.
Essa é a assinatura de automóvel, um contrato de serviço em que o cliente não tem a posse do veículo, usando-o por períodos curtos e pagando mensalidades como num serviço de streaming.
Tal como a quantidade de telas onde se pode assistir um filme ou seriado, estes serviços também limitam a quilometragem mensal.
Além do custo inferior ao de propriedade, segundo pesquisas, a assinatura também elimina a burocracia da posse de um carro próprio. A única coisa a fazer é encher o tanque e rodar na franquia. No final, nada de saldo devedor, é continuar ou largar.
Essa modalidade está apenas começando no Brasil, mas promete se expandir muito nos próximos anos, a medida que taxas como IPVA, ICMS, preços ao consumidor, desvalorização, entre outros, continuam a desestimular a propriedade de um carro.
No final, parece que a Geração Z não está exatamente sozinha nessa estrada, com carros de terceiros…
[Com informações do Paranashop]