Mercedes-Benz GLC 220d tem suspensão off road (Foto: Divulgação)

A atualização do Mercedes-Benz GLC uniu tendências que parecem contraditórias nos dias atuais. Ao mesmo passo que recebeu o sistema de inteligência virtual e assistente MBUX, o SUV investiu em duas coisas consideradas fora de moda: motor diesel e pegada fora de estrada. São essas as duas principais novidades do GLC 220d que parte de R$ 294.900 na versão off-road e chega aos R$ 329.900 na configuração Enduro testada por Autoesporte.

O facelift chegou nas versões SUV e cupê, entretanto, somente o modelo convencional foi oferecido para o teste. O circuito partiu do engarrafado trânsito do bairro da Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo. Pode não ser a situação esperada para testar um utilitário parrudo, porém, nada se aproxima mais da realidade que o GLC enfrentará.

No anda e para, o GLC mostrou o seu lado Mercedes. A rodagem passa solidez de castelo germânico, enquanto o ruído lá fora é abafado por muito material isolante. A suspensão pode até não engolir alguns desaforos do piso, contudo, a sensação é de que o ajuste é mais confortável do que o do Classe C, carro que divide base com o utilitário. Imagine só se o SUV estivesse equipado com a suspensão a ar disponível no exterior.

Traseira também ganhou nova iluminação de LEDs (Foto: Divulgação)

Por mais que seja gentil na cidade, não dá para esquecer que a largura do Mercedes é semelhante à  altura de um jogador de basquete: são 2,02 metros (com retrovisores). O GLC não fica muito à vontade no aperto do trânsito e rebater os retrovisores elétricos será algo constante com os motoqueiros mais apressados. Foi necessário vencer o trânsito pesado das ruas e da Marginal Pinheiros para deixar o utilitário ganhar todo o espaço pessoal que ele precisa.

A Mercedes usa motores diesel desde 1936. No início, eram unidades ultra econômicas, mas de desempenho equivalente ao das caravelas. Somente depois do turbo que os propulsores do tipo ganharam um pouco de pressa. No entanto, a suavidade só veio muito depois.

O motor 2.0 turbo diesel do GLC resume eloquentemente toda essa evolução em uma pisada de acelerador. Graças ao uso de um coxim de plástico e borracha mais sofisticado do que a média, aquela alegria vibrante dos propulsores do tipo fica isolada. Você não sente nenhum tremelique.

Novo motor diesel é associado ao pacote off road de suspensão (Foto: Divulgação)

À maneira dos motores a diesel, a força total chega bem cedo: os 40,8 kgfm são entregues entre 1.500 e 2.800 rpm. E os 194 cv são alcançados a 3.800 rpm. O câmbio automático de nove marchas trabalha tranquilo dentro dessa faixa.

A enorme quantidade de relações permite rodar em ritmos quase sedados a 120 km/h, velocidade máxima da rodovia dos Bandeirantes. O conta-giros aponta 1.500 rpm e nem o ruído do vento invade a cabine. O Mercedes tem aquele agradável jeito de energia interminável dos diesel. Infelizmente, não foi possível medir o consumo no padrão da Autoesporte, mas as médias indicadas pelo computador de bordo passaram dos 14 km/l com facilidade.

Segundo a Mercedes, o GLC 220d vai de zero a 100 km/h em 7,9 segundos, desempenho de Volkswagen Amarok V6. Não duvido do número, afinal, as arrancadas do SUV são respeitosas. Contudo, a entrega de força e regime de trocas dos diesel não seguem o estilo hiperativo dos carros a gasolina. A necessidade de caçar a faixa vermelha do conta-giros e fazer trocas relâmpago não é para esse tipo de trem de força.

Motor 2.0 turbo diesel é muito bem isolado  (Foto: Divulgação)

Ao selecionar o modo esportivo, o mapa de acelerador, assistência de direção e reações do câmbio ficaram mais espertos, mas isso não chega a mudar o caráter do GLC. Fique no modo confortável ou no econômico e embarque na filosofia dos diesel sem medo. Se você desejar um SUV mais esportivo, fique com o GLC 300 Coupé e seu motor 2.0 turbo de 254 cv. Ou até espere pelo lançamento das versões 43 e 63 AMG.

O controle de cruzeiro adaptativo funcionou de maneira perfeita, tal como a indicação de ponto-cego e de manutenção de faixa. Mas não senti a fluidez do sistema de direção semi autônoma da Volvo e até da BMW. 

Macia nas manobras, a direção ganha peso e tem sensação de centro de volante acurada, ainda que não seja das mais rápidas. Coisas de SUV. O comportamento dinâmico é bom para a proposta e peso (1,8 tonelada), no que ajudam os pneus 235/55 R19. O GLC aponta nas curvas confiantemente, embora aderne mais do que um carro de passeio e se apoie nas rodas externas antes de percorrer a trajetória. A altura extra joga contra nessa hora.

O interior tem painel digital e central multimídia de nova geração (Foto: Divulgação)

O sistema de tração integral 4Matic se adapta automaticamente, mas não foi possível colocar o pacote off road da suspensão à prova. O percurso incluiu somente um trecho de estrada de terra que poderia ter sido vencido com um esportivo.  

Ao sentar no banco do carona e passar o volante para o meu companheiro de viagem (e também jornalista), pude me dedicar um pouco mais aos detalhes da cabine. O espaço interno é dos bons graças ao entre-eixos de 2,87 metros  — são 17 centímetros a mais que em um Toyota Corolla. O único problema é que o túnel central é elevadíssimo e as formas do banco traseiro privilegiam quem vai nas pontas.

O banco do carona tem ajustes elétricos detalhados, todos acionados em comandos na porta — como é nos Mercedes desde os anos 80. Tudo é ajustável eletricamente, até mesmo o volante. Há memória de posições para o motorista, mas o preço do carro me levou a sentir falta de recursos como massageadores. De qualquer forma, os bancos têm abas que seguram bem o corpo e a densidade deles é perfeita.

Multimídia MBUX tem assistente virtual com inteligência artificial (Foto: Divulgação)

Não há sofisticações como couro no painel ou parte superior das portas. Tampouco as maçanetas são feitas de metal de verdade. Mas nada disso tira a sensação de que o interior é feito com carinho. Os botões passam qualidade e as texturas das partes macias e rígidas são agradáveis ao toque. As saídas de ventilação são tão  bem-feitas que dão vontade de mexer no fluxo de ar só para ter a oportunidade de manipulá-las mais um pouquinho. Há três tonalidades de couro: bege, preto e cinza. 

A antiga central multimídia insensível ao toque foi deixada para trás. A tela de 10,2 polegadas manteve a posição anterior, mas representa uma bela evolução em gráficos, conectividade e rapidez de acionamento. O trackpad do console foi mantido e ainda foi aperfeiçoado. Pode ser uma saída para aqueles que já estão habituados ao recurso. Dois botões do volante multifuncionais também são sensíveis ao toque e permitem acionar diferentes funções com uma arrastadinha de dedo. Haja opção de seleção! 

Vedete da marca alemã, a assistente de inteligência virtual Mercedes da central MBUX é acionada por voz, porém, ainda não é tão fluída ao ponto de abandonar todos os comandos físicos. O sistema de navegação por Android Auto também se perdeu inúmeras vezes ao longo do teste. Ainda bem que não levei a sério algumas das propostas que ele me fez.

Porta-malas oferece bons 550 litros de volume (Foto: Divulgação)

O painel digital tem três configurações diferentes visuais diferentes (esportiva, econômica e clássica) e ainda é possível exibir outras informações no lugar do conta-giros. A definição da tela de 12,3 polegadas é suficiente para você achar que os instrumentos são analógicos. E o som Burmester de 12 alto-falantes é daqueles que parecem acrescentar notas novas à sua música favorita.

Afora os itens já citados, o pacote de itens de série da versão Enduro inclui ar-condicionado digital de duas zonas, carregador de celular por indução, teto solar panorâmico, baliza automática com câmera 360 graus, iluminação interna com 64 cores diferentes, tampa do porta-malas elétrica com acionamento pelo pé, freio de estacionamento eletrônico com acionamento automático do freio em paradas, frenagem de emergência, airbags frontais, laterais dianteiros, do tipo cortina e para os joelhos do motorista.

Quanto aos competidores diretos, o Mercedes-Benz fica em desvantagem em relação ao Volvo XC60 D5 (confira o vídeo dele logo abaixo). O sueco tem motor diesel, bom desempenho e sai por R$ 281.950 e, se você quer autonomia, o T8 híbrido plug-in é mais rápido que o GLC e muito econômico para ir longe e custa R$ 305.950. Aí é uma questão de qual filosofia você deseja seguir: diesel ou gasolina/tomada?

   

Ficha técnica

Motor
Dianteiro, longitudinal, 4 cil. em linha, 2.0, 16V, comando duplo, turbo, injeção direta, diesel

Potência
194 cv a 3.800 rpm

Torque
40,8 kgfm entre 1.500 e 2.800 rpm

Câmbio
Automático de nove marchas, tração integral permanente

Direção
Elétrica

Suspensão
Multilink (diant. e tras.)

Freios
Discos ventilados (diant. e tras.)

Rodas e pneus
235/55 R19

Dimensões
Comprimento: 4,69 metros
Largura: 2,02 m
Altura: 1,64 m
Entre-eixos: 2,87 m

Tanque de combustível
66 litros

Porta-malas
550 litros (fabricante)

Peso
1.835 kg

Central multimídia
10,2 pol., sensível ao toque; Android Auto e CarPlay



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