Parece que uma solução adotada por outro motivo no passado agora pode ser uma barreira para o futuro no Brasil. De acordo com um estudo do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI), que é um centro de pesquisa da escola politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o carro flex é esse empecilho.
Com mais de 90% de participação no mercado nacional, o carro flex é uma primazia do Brasil, uma vez que EUA, Canadá e outros países só utilizam o E85, não abastecendo seus automóveis com 100% de gasolina ou 100% de etanol.
Fortemente apoiado pelo governo federal e pela indústria do açúcar, o agora etanol se tornou uma matriz energética com foco ecológico, mas no passado, foi a solução que o Brasil encontrou para sobreviver à Crise do Petróleo.
O estudo aponta que esse combustível no panorama brasileiro cria uma barreira para a entrada de tecnologias mais sofisticadas, como carros elétricos e híbridos com células de combustível usando hidrogênio.
O motivo destas é que a indústria automotiva global se move em direção à eletrificação em todos os principais mercados, incluindo até o Japão, onde a preferência pelo hidrogênio ainda faz parte da agenda de Tóquio.
Com a globalização, o Brasil pode ficar isolado no mundo. No estudo, publicado pelo pesquisador Thiago Luís Felipe Brito, doutor em Energia pelo Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), uma das conclusões é que o carro híbrido movido por etanol é a tecnologia com mais chances de suplantar os atuais carros flex no país.
Brito disse: “Acredito que algumas tecnologias, eletricidade e hidrogênio, por exemplo, devem virar nicho de mercado, assim como ocorreu com o gás natural nos carros de passageiros”.
O estudo aponta que o peso político – com incentivos pesados – ainda é um fator que impede uma concorrência direta ao etanol, especialmente após 2005, quando a tecnologia flex tornou um padrão no mercado nacional e uma forte resistência à qualquer outra coisa.
Com o etanol, o consumidor de certa maneira é protegido da volatilidade dos preços da gasolina e do diesel (uma vez que ainda existem picapes flex). Brito explica: “Obviamente, que o preço dos combustíveis não é a única variável que afeta as vendas de carros, mas fica clara a necessidade de assegurar a competitividade de tecnologias que usam combustíveis alternativos, caso se queira abrir mercado para elas”.
Desde os anos 80, o Brasil se apoia fortemente no álcool, desde a quase inexistência da gasolina até a chegada do carro flex, sempre apoiada por políticas energéticas do governo, mais precisamente em quatro fases.
O país viu um aumento de 40% na eficiência com o flex neste século e, a partir daí, as vendas decolaram, estabelecendo o bicombustível quase como uma norma a ser seguida por qualquer marca que queira vender no Brasil.
Brito conclui: “A proposta desse estudo foi dar alguns parâmetros confiáveis de elasticidade para os formuladores de políticas públicas, pelo menos no que se refere à relação mercado de vendas de carros e preços de combustíveis”.
[Fonte: EPBR]