De acordo com o 1º Anuário Brasileiro de Mobilidade Elétrica, a frota nacional de carros elétricos ou híbridos atingiu 40 mil unidades em 2021, apesar dos gargalos que ainda impedem o País de migrar para o modal (como preços altos e falta de incentivos públicos). O avanço da eletromobilidade, porém, é inevitável. 

O número atual de exemplares circulando por aqui já é 60% superior a 2019 e três vezes maior do que em 2018, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). A previsão de um estudo do Boston Consulting Group é de que só os carros elétricos cheguem a 2 milhões de unidades até 2030.

De olho nas projeções, startups brasileiras começam a surgir para resolver as dores do setor. “Caí de paraquedas na mobilidade elétrica”, conta Davi Bertoncello, sócio da Tupinambá, que oferece solução de recarga veicular de ponta a ponta. Formado em Propaganda e Marketing, ele viu a oportunidade de trabalhar no segmento em 2019, quando sua empresa fez uma pesquisa encomendada pela Prefeitura de São Paulo em parceria com a GM sobre cidades inteligentes. 

“A necessidade de instalação de pontos para promover individualmente a mudança de matriz elétrica é uma tendência muito grande”, diz. E então ele decidiu migrar de mercado. A Tupinambá nasceu no mesmo ano e, em 2020, já faturou R$ 1 milhão com a instalação de sua solução de eletrocarga em diversos pontos do País. 

“O diferencial é que a gente oferece desde o projeto de instalação até o aplicativo que controla consumo, pagamentos e mapeia 500 eletropontos espalhados pelo Brasil”, explica. Com o combo de hardware e software, a empresa executa projetos individuais e coletivos. Eles são responsáveis pela implementação dos postos de eletrocarga em shoppings como Villa-Lobos, Cidade São Paulo e Tamboré e devem instalar até 80 pontos em uma grande rede de supermercados até o final do ano. 

Com a lei municipal que passou a vigorar em São Paulo desde março, tornando obrigatória a existência de vagas verdes em novos prédios residenciais, esse também deve ser um nicho promissor para a startup. “A perspectiva é de que a gente opere 50% em residências e condomínios”, prevê o empresário. 

Além de fazer um mapeamento nacional de carregadores, o aplicativo da Tubinampá também indica se o ponto está livre, agendado ou ocupado. A previsão é que até o final deste ano a startup expanda sua rede para 100 pontos proprietários e outros 300 gerenciados e triplique o faturamento do ano passado. A meta é atingir 17 mil pontos de recarga até 2025.

Eletromobilidade nas rodovias

Parceira da EDP Smart no corredor de abastecimento de veículos elétricos do eixo Rio-São Paulo, com pontos instalados ao longo de 430 km da Rodovia Presidente Dutra, a startup Voltbras desenvolveu o aplicativo EDP EV Charge Br, que permite desbloquear os eletropostos para carregamento, informa a disponibilidade dos equipamentos e envia notificações sobre o andamento do abastecimento. Em breve, o app também vai permitir cobrança individual. 

“Criamos a Voltbras em 2018, depois de perceber que a mobilidade elétrica estava dando passos largos, mas com uma carência enorme de soluções de gestão de operação e viabilização da gestão financeira dos eletropostos”, fala Bernardo Durieux, fundador da startup. 

Hoje com sua solução de gestão ativada em mais de 100 pontos de recarga, a empresa está presente em todos os corredores e eletrovias privadas do Brasil e é a única a atuar com carregadores ultra rápidos. “Perto de 90% das recargas são feitas em casa, quando o carro está estacionado na garagem”, diz o empreendedor. “A carga rápida é uma solução complementar, que serve principalmente para viagens, em que a pessoa só toma um café enquanto o carro é abastecido.” Com a alta da demanda, Durieux espera um crescimento de 250% ao ano no número de carregadores atendidos.

Outra que nasceu para solucionar o problema de recarga no Brasil é a gaúcha Zletric, que projeta a instalação de 300 novos pontos em 2021. Com a ideia de que o proprietário de carro elétrico deve poder se deslocar da mesma forma que fazia com o veículo movido a gasolina, a empresa prevê um crescimento de 170% só na capital paulista graças à lei das vagas verdes. 

Nos condomínios antigos, onde persiste o dilema entre o dono do carro elétrico, que precisa de ponto de recarga, e o condomínio, que não quer arcar com a conta, a Zletric faz a instalação de vagas com carregadores sem custo de aquisição – modelo de “charge as a service” (carregamento como serviço) -, por meio da locação dos equipamentos e da cobrança do consumo de energia do morador que usa o serviço.

Um dos parceiros de negócio nesse segmento é a Auxiliadora Predial, responsável pelo gerenciamento de 3,4 mil condomínios em Porto Alegre e São Paulo. A Zletric já criou mais de 20 vagas verdes em condomínios administrados pela empresa nas duas cidades. 

Compartilhamento corporativo

Também nascida em 2019, a startup Ucorp aposta na democratização da mobilidade elétrica no segmento B2B, atuando em empresas que querem fazer a transição de suas frotas para o modal. Segundo o CEO Guilherme Cavalcante, o compartilhamento de carros corporativos já vinha crescendo no Brasil antes da pandemia porque as empresas, principalmente multinacionais, estavam buscando uma alternativa eficiente de redução de custos. 

Ele explica que outra preocupação é aliar tecnologia a uma nova experiência, que tenha impactos reais nas cidades. “Quando nossos clientes experimentam nossa solução de tecnologia de app e portal web com dashboards e dados estruturados, os benefícios e as reduções de custo e impacto no ambiente ficam claros já no curto prazo”, explica.

Para ele, o grande diferencial da Ucorp está no fato de a plataforma ser whitelabel, tornando possível customizar o aplicativo e o sistema com a identidade visual e regras de negócio para cada cliente. A tecnologia é autoral e 100% nacional e integra big data em tempo real, sistema de carona, lavagem ecológica e gestão de multas, entre outras funcionalidades. 

“Esse domínio de 100% do processo de tecnologia, hardware e software, e as integrações com APIs de validação de CNH e meios de pagamento trouxeram um ganho de agilidade enorme, além de competitividade de valores”, afirma Cavalcante. “Até o surgimento da Ucorp em 2019, todas as tecnologias para carsharing vinham da Europa ou Estados Unidos, e com valores em euro ou dólar, que inviabilizavam muitos projetos.” 

Atualmente a UCorp desenvolve projetos para importantes players do mercado, como VEC Itaú, BMW, Mercedes-Benz, Arval, ConectCar e Enel X. “Em 2020 tivemos nosso primeiro round de aporte liderado pela Guilder Capital e o faturamento foi de R$ 1,2 milhão”, revela Cavalcante. 

Para 2021, a startup projeta um crescimento de 80% em faturamento e time – hoje com 20 pessoas -, além de ampliar a atuação no mercado com o lançamento da Uenergy (solução completa de digitalização de energia e gestão de carregadores de veículos elétricos) e novos produtos de carro por assinatura.

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