O enorme showroom da China Evergrande New Energy Vehicle fica no coração do Centro Nacional de Exposições e Convenções de Xangai. Com nove modelos em exibição, é difícil passar despercebido.
A novata em carros elétricos tem um dos maiores estandes do Salão do Automóvel da China 2021, que começou na segunda-feira, em frente à famosa montadora alemã BMW. No entanto, sua presença ousada esconde uma verdade incômoda: a Evergrande não vendeu um único carro da própria marca.
A maior incorporadora imobiliária da China tem uma série de investimentos fora do setor, de clubes de futebol a vilas de aposentados. Mas foi a recente entrada em carros elétricos que capturou a atenção dos investidores.
A ação da Evergrande NEV, negociada em Hong Kong, subiu mais de 1.000% nos últimos 12 meses, o que permitiu à empresa levantar bilhões de dólares em capital novo. A companhia agora tem valor de mercado de US$ 87 bilhões, maior que o da Ford Motor (F) e General Motors (GM).
→ Abrão Filho aumenta 135% sua receita em 2021
Tanta exuberância sobre uma montadora que repetidamente atrasou as previsões sobre quando produzirá um carro em larga escala é emblemática sobre a crescente valorização de empresas de veículos elétricos no último ano, com investidores apostando em um rali que brevemente tornou Elon Musk a pessoa mais rica do mundo e tem levantado preocupações sobre bolha.
Talvez em nenhum outro lugar isso seja mais evidente do que na China, com o maior mercado mundial de carros de energia nova, onde um número impressionante de 400 fabricantes de veículos elétricos agora disputa a atenção dos consumidores, liderados por startups com mais valor do que montadoras estabelecidas, mas que ainda não deram lucro.
A Evergrande NEV entrou relativamente tarde nesse campo.
Em março de 2019, Hui Ka Yan, presidente do conselho da Evergrande e um dos homens mais ricos da China, prometeu enfrentar Musk e se tornar o maior fabricante mundial de veículos elétricos em três a cinco anos.
O crossover Model Y da Tesla tinha acabado de fazer sua estreia global. Nos dois anos desde então, a Tesla ganhou uma posição invejável na China, estabelecendo sua primeira fábrica fora dos EUA e entregando cerca de 35.500 carros em março. A rival chinesa Nio no início deste mês atingiu um marco significativo com 100 mil carros elétricos produzidos, levando Musk a parabenizar a empresa em um tuíte.
Apesar de suas ambições e do elevado valor de mercado da Evergrande NEV, Hui tem repetidamente recuado nas metas de produção de automóveis. O círculo de amigos ricos do magnata, entre outros, acumularam bilhões, mas fabricar carros – elétricos ou não – é difícil e exige muito capital. As margens brutas da Nio entraram em território positivo apenas em meados de 2020, após anos de pesadas perdas e ajuda de um governo municipal.