Automóveis híbridos e elétricos surgem como opção mais eficiente, mas o alto custo os torna inviáveis. As outras alternativas, como o etanol e o diesel, não são das mais animadoras
Um carro movido a gasolina incomoda muita gente. Um carro movido a gasolina e outro tipo de combustível incomoda muito mais. Será?
Um carro híbrido é um veículo cujo motor funciona tradicionalmente com gasolina e que, além disso, pode utilizar outra fonte de energia – que pode ser elétrica ou de combustão a hidrogênio. O híbrido é uma espécie de criatura do Dr. Frankenstein. Nada mais é do que o cruzamento do carro comum e do carro elétrico. E o resultado é um veículo que consome menos combustível e tem algumas vantagens comparativas aos modelos tradicionais.
Um carro híbrido pode rodar cerca de oito quilômetros a mais que um carro a gasolina, se ambos usarem um litro de combustível. Dessa forma, acaba-se gastando menos com combustível, emite-se menos monóxido de carbono na atmosfera e, à medida em que ficarem mais populares, ajudarão na diminuição do consumo de gasolina – o que é benéfico para o meio ambiente.
Porém, assim como a criatura do famoso livro de Mary Shelley, os híbridos ainda não foram muito aceitos. Pelo menos no mercado brasileiro. Em grande parte por conta do preço: um carro híbrido, atualmente, não sai por menos de R$ 100 mil. A grande vantagem para o bolso está na hora de encher o tanque.
Outro tipo de veículo que preenche todas as lacunas da sustentabilidade, mas que também esbarra no quesito grana é o elétrico (veja aqui as vantagens e problemas destes veículos).
Por que o carro híbrido e o elétrico saem caro?
O que torna os veículos híbridos e elétricos mais caros por aqui é a questão da infraestrutura. Para fabricar os veículos em solo tupiniquim seria necessário importar a tecnologia dos EUA, Europa ou Japão. No Brasil, não se pensa em produzir esse tipo de tecnologia. Além disso, o sistema de distribuição elétrica no país teria de ser completamente repensado, com plugues especiais de recarga dos veículos nas garagens ou estabelecimentos comerciais.
Eco-solução pode virar um eco-problema
Embora os híbridos possam poluir cerca de 26% menos que um automóvel movido só a diesel (segundo estudo da Climate Leadership Group), inundar as ruas com eles não vai ajudar. Afinal de contas, isso significa ainda mais carros nas ruas, somando-se o já altíssimo número de veículos individuais que circulam pelas cidades. O congestionamento poderia ser ainda maior do que já é.
Ainda existe um problema de mercado: se os veículos consumirem menos combustível, qual será a reação dos empresários do setor? Aumentariam o preço? Dessa forma estaríamos andando em círculos, pois os consumidores migrariam para veículos movidos a gasolina e etanol novamente. E então, quem poderia nos defender?
Quem vai salvar a pátria?
Diante do cenário descrito, os carros híbridos e elétricos não podem pleitear o posto de “salvadores da pátria”. Assim, surgem outras opções de combustíveis que poluem menos ou que (aparentemente) são mais viáveis: o diesel e o etanol.
Diesel – o diesel é mais barato e permite que se tenha uma maior quilometragem por litro de combustível, mas, no que diz respeito à emissão de poluentes na atmosfera, é sete vezes pior do que a gasolina. Ainda, a exposição prolongada ao diesel pode causar câncer (saiba mais). Uma boa notícia é que existe um tipo de diesel mais limpo no mercado.
Etanol – A queima do álcool emite, em média, 25% menos monóxido de carbono e 35% menos óxido de nitrogênio (NO) que a gasolina. Mas conta com a desvantagem de proporcionar um número menor de quilometragem por litro, além de já não ser mais economicamente tão viável. No fim das contas, é questionável a afirmação de que o álcool polui menos que a gasolina.
Depois de toda essa desilusão a pergunta permanece: quem vai salvar a pátria?
Transporte Público
A resposta está na rede de transporte público. Só ela pode aliviar o inchaço causado pelo número excessivo de veículos na rua e proporcionar uma alternativa de qualidade para que os motoristas possam – pelo menos cogitar – deixarem seus carros em casa alguns dias da semana. Isso já diminuiria as emissões, uma vez que os veículos públicos (ônibus, metrô e trens) são mais limpos – grande parte deles usa eletricidade e biocombustível como fonte de energia.
No caso dos ônibus, isso também se dá pela contribuição dos corredores, uma vez que é em baixas rotações que o motor mais polui. Ainda de acordo com o estudo, em corredores e faixas simples, os ônibus convencionais a diesel, ainda com tecnologia Euro III (a mais antiga em circulação), podem consumir cerca de 20% menos combustível.
Se pensarmos em termos de investimento, ainda existem os ônibus elétricos híbridos, cuja maior utilização e a modernização dos corredores, com pontos de ultrapassagem e linhas expressas e semi-expressas, seguindo os padrões do BRT (Bus Rapid Transit) seriam – junto com o metrô e o trem pesados – um grande avanço para a mobilidade urbana e reduziriam muito as emissões de poluentes. Essa é conclusão de outro estudo, realizado pela Fundação Hawlett para a SPTrans.
Existe uma longa jornada a ser percorrida para que nossos veículos tenham fontes de energia compatíveis com a necessidade de poluir menos, principalmente se levarmos em conta as questões de interesse econômico envolvidas nesse processo. Mas vale lembrar que estimular a compra de veículos individuais pode desviar o foco que a mobilidade urbana (principalmente nas diversas modalidades de transporte público) merece e agravar ainda mais o problema.
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