Como o automobilismo zero emissão vai salvar as corridas e atrair as montadoras

Tecnologia
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02/06/2021
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11h0

Conheça as apostas e inovações da Fórmula 1, Fórmula E, Extreme E e Rally dos Sertões para se adequar à agenda sustentável

NATÁLIA SCARABOTTO, AB


Dentro e fora das pistas, o automobilismo tem um novo desafio: vencer os impactos climáticos. Diversas categorias deram a largada rumo à sustentabilidade com metas e inovações para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera nos próximos anos.

O movimento é coerente não só para o esporte, mas também para a mobilidade do dia a dia, já que as pistas são um grande laboratório de inovações que, em muitos casos, ganham depois produção em massa e chegam à vida real. E, claro, o caminho de menor impacto ambiental converge para a direção que as montadoras têm seguido e, com isso, garante a relevância do automobilismo no futuro para que ele siga atraindo investimentos das fabricantes de veículos.

Nesse contexto, entre as tecnologias verdes em que o esporte aposta estão a criação de combustível feito com resíduos biológicos; postos de recarga movido a hidrogênio para veículos elétricos; uma nova geração de baterias com recarga ultrarrápida; novas tecnologias de eletrificação e ações inovadoras para reciclagem de resíduos plásticos.

Da Fórmula 1 até o Rally dos Sertões, confira o compromisso e estratégias das competições para diminuir a pegada ambiental e, assim, adaptar o esporte à lógica da economia do clima.

FÓRMULA 1: RONCO DO MOTOR MOVIDO A COMBUSTÍVEL RENOVÁVEL

A Fórmula 1, maior categoria do automobilismo, firmou o compromisso ambicioso de neutralizar a emissão de carbono a partir da temporada 2021 e ter carros de corrida carbono zero até 2030. A estratégia ambiental da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) inclui a fabricação de combustível 100% renovável, feito de resíduos biológicos. A partir deste ano, as equipes da categoria serão obrigadas a usar 10% de combustível sustentável, com o objetivo de atingir o nível total em 2026.

Até 2025, a FIA garante que os seus eventos serão totalmente sustentáveis. Uma das metas para o período é zerar o uso de plástico descartáveis com o objetivo de reduzir o impacto desses resíduos nos oceanos e na vida marinha. Já em 2021, a competição pretende evitar o uso de um milhão de garrafas plásticas.

As práticas verdes vão além das pistas. Serão incluídos na estratégia da FIA toda a cadeia logística dos eventos, escritórios, instalações e fábricas que funcionarão apenas por fontes renováveis de energia. Além disso, o plano é trabalhar com incentivos para que os torcedores cheguem aos autódromos por alternativas sustentáveis.

Os compromissos seguem as metas climáticas do Acordo de Paris para reduzir os efeitos do aquecimento global, além de contarem com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Antes da FIA, algumas equipes tomaram a frente pela preservação do meio ambiente. Em 2011, a McLaren foi a primeira da categoria credenciada como carbono neutro. No ano passado, a Mercedes-Benz adotou práticas mais sustentáveis e se comprometeu a zerar sua emissão de carbono.

FÓRMULA E: AUTOMOBILISMO APOIADO EM SUSTENTABILIDADE

Desde que surgiu em 2014, a Fórmula E (FE) se tornou símbolo do automobilismo para carros elétricos e tem sido utilizada como referência positiva em iniciativas de sustentabilidade, em parceria com a ONU. A categoria de veículos zero emissão conta com grandes fabricantes como Audi, BMW, Mercedes, Nissan e Jaguar e é transmitida para mais de 150 países.

A competição afirma ser a única categoria do automobilismo a receber o padrão ISO internacional de sustentabilidade em eventos. Para alcançar a neutralidade da emissão de carbono, a Fórmula E adota três passos: medir a emissão de CO2; reciclar componentes e materiais; e a compensação de carbono por meio iniciativas locais onde acontecem as etapas.

Segundo o relatório da categoria, a pegada de carbono da quinta temporada (última antes da pandemia) foi de 45 mil toneladas de CO2. A maior parte (72%) corresponde ao frete de carros e equipamentos de uma etapa para outra; enquanto a fabricação dos veículos elétricos é apenas 1% da poluição gerada.

Quando se trata da reciclagem de componentes, o compromisso prevê dar nova destinação aos pneus e prolongar a vida útil das baterias de íons de lítio, por exemplo.

A partir quinta temporada, a FE teve um avanço importante ao introduzir uma nova bateria: a GEN2, que armazena mais energia e carrega mais rápido. A nova fonte de energia permitiu que as equipes fossem de dois veículos por corrida para apenas um, eliminando a necessidade de troca no meio da disputa.

EXTREME E: FORA DE ESTRADA E NEUTRA EM CARBONO

A nova competição fora de estrada com SUVs totalmente elétricos estreou em 2021 chamando a atenção para a preservação dos oceanos e da vida marinha. As etapas acontecem na Arábia Saudita, Senegal, Groelândia, Brasil e Argentina. Algumas das nove equipes foram fundadas por grandes nomes da Fórmula 1, como Lewis Hamilton, Nico Rosberg e Jenson Button.

A categoria conta com um comitê científico específico para ações sustentáveis que seguem os objetivos da ONU. Um dos principais compromissos é reduzir a poluição marinha causada por resíduos plásticos. Para isso, durante a etapa no Senegal, no final de maio, a competição se comprometeu a utilizar xícaras, filmes flexíveis e talheres feitos com “plástico que se degrada com rapidez e segurança no meio ambiente, sem deixar toxinas e microplásticos para trás”, segundo a Extreme E.

Além disso, garrafas PET utilizadas durante a etapa serão transformadas em “Ecobricks”, blocos de construção reutilizáveis feitos com garrafas preenchidas com resíduos secos e não recicláveis, desviando mais de 40 toneladas de resíduos dos aterros.

Para garantir que a competição seja zero emissão de gases poluentes, os carros funcionam com tecnologia de célula de combustível a hidrogênio, com um sistema que utiliza água e sol para gerar energia.



RALLY DOS SERTÕES: MUITA LAMA E PROPULSÃO ALTERNATIVA

Pela primeira vez, o Rally dos Sertões será zero carbono (leia). A edição 2021 tem o objetivo de neutralizar a emissão de quase duas mil toneladas de CO2, em parceria com a plataforma de compensação de carbono Moss.Earth. A empresa avalia que metade da emissão é gerada pelo deslocamento aéreo dos integrantes da caravana.

A mudança faz parte do novo plano de metas sustentáveis do rally, que vai substituir os combustíveis fósseis por energia renovável até 2025, quando a competição acontecerá apenas com veículos de energia renovável: híbrido, elétrico, etanol e combustíveis alternativos.

Para isso, a competição estreia neste ano uma categoria geral para veículos a etanol e lança o primeiro modelo experimental híbrido, o projeto UTV movido a etanol e baterias elétricas. A tecnologia é 100% brasileira, desenvolvida em parceria com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração e a Giaffone Racing, e conta estrutura de aço com nióbio, sendo 20% mais leve que os demais veículos do mesmo modelo.

No ano que vem, serão adicionadas novas subcategorias para veículos movidos a etanol e uma dedicada aos veículos híbridos. Na tendência da eletrificação, o rally vai lançar o seu primeiro veículo elétrico experimental. Para 2023/2024, o Sertões planeja trazer competição entre energias renováveis alternativas e o engajamento na categoria álcool.

A sustentabilidade entrou na pauta dos Sertões em 2020, quando o campeonato passou a focar na gestão de resíduos. Durante a temporada, foram recolhidos e processados 4 mil litros de óleo lubrificante, sendo 90% do volume descartado corretamente ao longo do percurso.

Além disso, o grupo “Limpa Trilha” foi responsável pelo recolhimento de todos os pedaços de carros, peças e outros detritos que eventualmente ficam pelo caminho após cada etapa.

Tags: automobilismo, inovação, carbono neutro, carro elétrico, sustentabilidade.



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