A indústria automotiva brasileira corre um risco cada vez maior de sucateamento. Das 17 montadoras com fábricas no Brasil, apenas uma, a Toyota, iniciou a produção local de veículos híbridos. Nenhuma produz localmente carros puramente elétricos, embora a Renault tenha lançado recentemente o Zoe, um compacto elétrico importado da França, e a Volvo também venda no País seus SUVs híbridos.
Enquanto as vendas de carros com motores elétricos disparam na União Europeia, Estados Unidos, China, Japão e Coréia do Sul, chegando a três milhões de unidades em 2020, uma expansão de 41% sobre 2019, no Brasil foram vendidos um total de 19.745 carros elétricos e híbridos no ano passado. Houve uma expansão de 66% sobre 2019, mas a base de comparação é pequena, o que explica o forte crescimento.
“Nós vendemos aqui no Brasil apenas 0,3% do total mundial de carros elétricos no ano passado. Por isto, o Brasil está numa situação ruim na transição automotiva”, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). O empresário explica que faltam incentivos do governo federal para que as montadoras comecem a produzir carros elétricos no País – nos países europeus e na Ásia, incentivos dos governos tanto para a indústria como para os consumidores são essenciais para expandir o uso da nova tecnologia, que custa mais caro.
“Na China, o carro elétrico é isento de impostos e na União Europeia a isenção é parcial. Tudo isto acontece em um cenário onde 18 das 20 maiores montadoras do planeta já se comprometeram a reduzir a produção de carros com motores a combustão. Toda tecnologia nova custa mais caro no começo. Mas já existe a projeção de que em 2026, na Europa, o carro elétrico será mais barato que o carro a combustão”, diz Maluf. Segundo ele, a falta de uma política industrial para a transição do motor a combustão para o elétrico fará com que o Brasil fique atrasado. “Isto traz um risco enorme de sucateamento. O Brasil já foi o 5º maior produtor de veículos do mundo. O que está em jogo agora é a sobrevivência do parque industrial automotivo brasileiro”, alerta o empresário.
A transição dos hidrocarbonetos para fontes mais limpas de energia é uma tendência mundial, verificada desde a geração da energia elétrica à outra ponta, a do consumidor. O Brasil é um grande produtor de etanol e biocombustíveis. Isto torna menos urgente a eletrificação da frota, mas existe o outro lado da moeda e ele é perigoso: o sucateamento industrial, fruto da falta de políticas governamentais de incentivo.
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