A loja da Ferrari ainda estava fechada quando cheguei para fazer o test drive. Era a primeira vez, depois de seis anos de Autoesporte, que eu iria dirigir um modelo da marca. Como a Roma já estava vendida, não tínhamos permissão para levá-la à pista, mas podíamos fazer o mesmo percurso que um interessado milionário: dirigir pela região dos Jardins, em São Paulo — mais especificamente na Avenida Europa, uma rua repleta de concessionárias onde circulam diversos carros de luxo.
Encostada no vidro, eu não precisava chegar muito perto da porta para ver o carro que encanta pelas fotos e ainda mais ao vivo. A primeira unidade do novo modelo de entrada da Ferrari era o destaque do showroom e até quem passava na rua conseguia observar o veículo. Mas depois de perder algumas horas de sono, eu queria ver a Roma o mais perto possível.
A loja abriu, e assumo que é difícil pensar como consumidor nessa hora. O design da Ferrari Roma consegue ser atual e retrô: foi inspirado nos modelos de 1960 e possui um estilo cupê com o chamado 2+2. A cor escolhida pelo proprietário? A tradicional Rosso Corsa (Vermelho Corrida).
Exclusivo: como é acelerar a Ferrari Roma de R$ 3,3 milhões
O motor é enorme e fica na posição central-dianteira. É um V8 3.9 biturbo de 620 cv e 77,4 kgfm de torque. A tração é traseira e o câmbio de dupla embreagem tem 8 marchas — o mesmo da Ferrari SF90 Stradale, aquele modelo híbrido de mil cavalos de potência.
Os faróis de LED são cortados por uma faixa horizontal e são uma homenagem às Ferraris Monza SP. As lanternas criam uma espécie de linha virtual contínua com a tampa do porta-malas; o para-choque traseiro é preto e possui quatro saídas de escape.
Ferrari Roma é muito parecida com um Aston Martin para alguns, mas é belíssima — Foto: Leo Sposito/Divulgação
Um spoiler vem acoplado ao vidro e melhora a aerodinâmica em altas velocidades. Ele se ajusta conforme a velocidade e o modo de condução selecionado pelo motorista. A Ferrari Roma gera 95 kg a mais de downforce a 250 km/h do que a Portofino, por exemplo. Na traseira, uma surpresa: o porta-malas não é pequeno como esperado, são 270 litros. Volume de hatch, porém o suficiente para malas sob medida.
Pelas imagens, a Roma parece menor, mas a verdade é que o superesportivo possui 4,65 metros de comprimento, 1,97 m de largura, 1,30 m de altura e 2,67 m de entre-eixos. E também é leve: são apenas 1.472 kg, peso de carro médio normal. Como toda Ferrari, os pneus calçam rodas aro 20 e ganham pintura diamantada como opcional.
O perfil longo, largo e baixo da Ferrari Roma caracteriza a imagem de cupê gran turismo — Foto: Leo Sposito/Autoesporte
Como toda experiência de guiar uma Ferrari é diferente, até entrar e sair de um veículo de R$ 3,3 milhões não é algo comum. A Roma possui maçaneta embutida e é preciso apertar um botão localizado nas portas para sair do carro.
Dentro, o que impressiona é a tecnologia. O painel de instrumentos é digital, configurável e tem 10,5 polegadas, o mesmo da SF90. Como manda a tradição, o conta-giros fica no centro, onde ainda é possível ver informações do áudio, da navegação e do telefone. A tela vertical, de 8,4 polegadas, é inédita, e sua posição permite que o motorista e o passageiro usem a central multimídia.
As lanternas seguem o esquema de quatro luzes da Ferrari, mas em uma releitura delicada — Foto: Leo Sposito/Autoesporte
O volante multifuncional é revestido com dois tipos de couro e tem base achatada. Para que o condutor não precise tirar as mãos dele, a marca desenvolveu uma série de controles para que quase tudo seja realizado com apenas um toque. Há uma espécie de touchpad à direita por meio do qual é possível navegar pelas telas do cluster. O manettino de cinco posições também fica no volante; o motorista pode escolher entre Wet (para pista molhada), Comfort, Sport, Race e ESC-Off, que desliga os controles de tração e de estabilidade.
A Ferrari introduziu o sistema ADAS na Roma, que possui controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, detector de ponto cego, alerta de colisão traseira e câmera com visão 360 graus.
Motor da Ferrari Roma é o mesmo usado em outros carros da marca e gera 620 cv — Foto: Leo Sposito/Divulgação
Diferentemente de outros modelos da marca, a Roma não tem o interior desenvolvido apenas com foco no motorista. Há dois espaços bem separados na cabine, com estruturas quase simétricas. Ou seja, o passageiro também se sente envolvido na experiência de dirigir. Afora a estrutura da cabine, o que ajuda a proporcionar essa sensação é um item vendido como opcional: uma tela sensível ao toque localizada na frente do passageiro com velocímetro, modo de condução selecionado, conta-giros, temperatura da cabine, entre outras informações.
Além do aspecto tecnológico, o interior possui materiais nobres, como couro, Alcantara, alumínio e fibra de carbono, mas a chave poderia ser mais sofisticada. É simples demais para uma Ferrari e gerou bastante polêmica no lançamento. Tem apenas dois botões: o de abertura do porta-malas e o de fechamento das portas.
Ferrari Roma tem rodas aro 20 e pneus traseiros Michelin 285/35 — Foto: Leo Sposito/Divulgação
Outro dado que pode decepcionar: se você pretende levar os amigos para uma voltinha, saiba que o superesportivo até possui bancos traseiros, mas eles são feitos apenas para crianças. Não há espaço para adultos.
Chegou, enfim, a hora de assumir o volante da Roma. Para ouvir o ronco potente do V8, basta apertar outro botão que (também) fica no volante. Quando o start/stop é acionado, o motor ronca tão alto quanto se espera. O barulho nada discreto fez com que todas as pessoas presentes na concessionária olhassem para o carro.
Ferrari Roma não deixa você esquecer o nome dela ao ligar — Foto: Leo Sposito/Divulgação
Por tradição, cada motor da Ferrari tem sua “trilha sonora particular”. A geometria de todo o escapamento da Roma foi redesenhada graças à eliminação dos dois silenciadores traseiros, o que melhorou a qualidade do som. Vale lembrar que a Roma tem o mesmo V8 da 488 e da F8. E não é só o som do motor que atrai olhares: na rua, tive de me acostumar com os celulares de curiosos que queriam fazer fotos e vídeos.
A Roma é um superesportivo, claro, mas vale dizer que a montadora pretende conquistar outro tipo de cliente com esse carro. É uma Ferrari para desfilar na cidade, digamos, e não nas pistas. Mas isso não significa que os números não sejam incríveis. O zero a 100 km/h é feito em 3,4 segundos e a velocidade máxima é de 320 km/h. Pena não poder pisar fundo no acelerador e ver até quanto a Roma poderia chegar.
Interior é envolto em materiais nobres e tem bancos na cor marrom — Foto: Leo Sposito/Divulgação
As trocas de marchas são rápidas, suaves e quase imperceptíveis. De acordo com a fabricante, isso se dá graças ao uso de óleo de baixa viscosidade e a uma configuração de cárter seco, o que torna o carro ainda mais ágil na estrada e mais confortável na cidade. O cárter seco também permite baixar o centro de gravidade do carro, já que é possível colocar motor e câmbio mais próximos do solo.
O superesportivo tem ainda um software de controle desenvolvido pela Ferrari que ajusta a entrega de torque para se adequar à marcha selecionada. Isso proporciona uma aceleração mais potente conforme as rotações aumentam, e otimiza o consumo de combustível. A posição de dirigir foi outra coisa que me surpreendeu: não é tão baixa.
O seletor metálico do câmbio lembra as grelhas das antigas caixas da Ferrari — Foto: Leo Sposito/Divulgação
A Roma consegue reunir tradição e tecnologia de uma forma única. O painel é totalmente digital, mas o seletor de câmbio automático imita as clássicas grelhas das caixas manuais do século passado. A tela multimídia fica na horizontal, porém o visual é retrô.
Você pode até não ter gostado desse mix — durante o lançamento, a Ferrari Roma recebeu críticas por parecer demais com um Aston Martin, por exemplo. Mas o fato é que esse estilo veio para ficar: a fabricante garante que a Roma ajudará a definir as novas Ferraris, ou seja, essa mistura estará nos próximos modelos da marca.
Ferrari Roma
Ficha técnica |
Preço: R$ 3,3 milhões |
Motor: Dianteiro, longitudinal, oito cilindros em V, 2.9, 32V, injeção direta, turbo, gasolina |
Potência: 620 cv entre 5.750 e 7.500 rpm |
Torque: 77,5 kgfm entre 3.000 e 5.750 rpm |
Câmbio: Automatizado de dupla embreagem e oito marchas, tração traseira |
Direção: Elétrica |
Suspensão: Independente, braços duplos triangulares (diant.) e multibraços (tras.) |
Freios: Discos ventilados (diant. e tras.) |
Pneus: 245/35 R20 (diant.) e 285/35 R20 (tras.) |
Tanque: 80 litros |
Porta-malas: 270 litros (fabricante) |
Peso: 1.472 kg |
Central multimídia: 8,4 pol., sensível ao toque |
DIMENSÕES |
Comprimento: 4,65 metros |
Largura: 1,97 m |
Altura: 1,30 m |
Entre-eixos: 2,67 m |
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