Se um carro elétrico parece futurista demais, o que dizer de um avião zero emissões? As fabricantes de aeronaves vêm passando por processos de transformação, diante das recentes exigências de investidores em relação compromissos ambientais e redução de emissão de carbono. Neste contexto, a Embraer anunciou nesta sexta-feira, 13, uma ofensiva que inclui veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês), avião elétrico e até modelo movido a hidrogênio.

Os projetos vêm sendo desenvolvidos já há algum tempo. Um deles desenvolve tecnologias e soluções que possibilitem propulsão aeronáutica 100% elétrica, com testes realizados na unidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo. Nas primeiras avaliações em voo tripulado, foram analisadas características como potência, desempenho, controle, gerenciamento térmico e segurança de operação.

“Esperamos apresentar o Ipanema elétrico, uma das nossas grandes inovações, ao público em breve”, disse o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, a analistas nesta sexta-feira, referindo-se ao projeto que utiliza o avião agrícola Ipanema, líder do segmento no País, para testes do modelo eletrificado. A fabricante trabalha em parceria com a catarinense WEG e com a EDP.

Em outra frente, a Embraer trabalha em um avião com propulsão a hidrogênio, considerado o combustível do futuro para a redução das emissões. “O primeiro voo técnico da aeronave com sistema a hidrogênio deve ocorrer em 2025”, disse o vice-presidente sênior de engenharia, tecnologia e estratégia corporativa da companhia, Luís Carlos Affonso.

Além dos motores elétricos, os sistemas de propulsão a hidrogênio demandam nível elevadíssimo de tecnologia e, especificamente na aviação, a preocupação com a segurança traz um componente adicional de dificuldade para o desenvolvimento de produtos e consequente ganho de escala.

A Embraer vem desenvolvendo também, por meio de sua controlada EVE, os chamados “carros voadores” (eVTOLs), uma das grandes apostas da companhia para o futuro. A startup de tecnologia já fechou acordos com companhias internacionais e seu desempenho chamou atenção de uma empresa norte-americana, a Zanite. A companhia com propósito específico para aquisição (Spac, na sigla em inglês), também conhecida como empresa de “cheque em branco”, está negociando uma fusão de US$ 2 bilhões com a EVE.

“As negociações estão indo muito bem”, disse Gomes Neto, sem dar detalhes. Ele espera obter a certificação do eVTOL em 2025 e começar os serviços no ano seguinte.

Príncipios ESG

Os projetos devem contribuir para que a companhia atinja metas relacionadas às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, no âmbito do “ESG Plano de Voo“, lançado hoje. “Reconhecemos a urgência das mudanças climáticas e o papel do setor aéreo neste desafio”, disse Gomes Neto.

O movimento da fabricante de aeronaves acontece em meio à enxurrada de liquidez no mercado financeiro global para projetos de ESG. Ao propor planos para descarbonização, as companhias têm obtido inúmeros tipos de linhas de financiamento especiais ao redor do mundo.

Na área ambiental, a Embraer anunciou compromisso de operações neutras em carbono até 2040. As métricas incluem, por exemplo, redução de 50% das emissões líquidas no período; início do uso de combustível de aviação sustentável (conhecido como SAF, já utilizado pela indústria atualmente) a partir deste ano; além do desenvolvimento de “produtos, serviços e tecnologias sustentáveis disruptivas como eletrificação, híbrida, SAF e outras energias alternativas inovadoras”.

Entre as métricas na área social, a fabricante prevê continuidade da sua política de recrutamento diversificada. “A empresa se compromete a realizar 50% de diversidade nas contratações para programas de entrada na companhia até 2025, além de aumentar a representação de mulheres na liderança sênior para 20% até 2025”.

A Embraer voltou a lucrar no segundo trimestre, após prejuízos sucessivos desde 2018. “Com o resultado e as perspectivas para o futuro, avaliamos a companhia de forma positiva. A Embraer se empenhou no último ano para equalizar seu balanço e projetar um desempenho tangível, com crescimento sustentável”, diz o analista da Aware Investments, Aldo Filho.



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