Família que comprou um veículo híbrido precisou instalar um carregador na garagem (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Quem tem entre 30 e 50 anos deve ter assistido ao clássico das produções Hanna-Barbera, ‘Os Jetsons’. Nesse desenho animado, as histórias giravam em torno de uma família futurista, que tinha tudo automatizado e tecnológico: telas planas, chamadas de vídeo, esteiras e comandos de voz.

Muita coisa ‘prevista’ na animação da década de 1960 se confirmou, inclusive os carros voadores, ideia que vem se destacando em algumas partes do mundo. Sim, o futuro chegou, mas, no Brasil, por enquanto são os carros elétricos que têm movimentado um pouco mais o segmento automotivo.

Atualmente, a participação de carros elétricos e híbridos nas vendas brasileiras não passa dos 2% e, ainda que pequena, uma parcela solitária está em Venâncio Aires, onde a reportagem teve conhecimento de que apenas uma família já circula no município com um veículo neste formato – caso único, numa frota de mais de 48 mil veículos.

Apontados como fundamentais para ajudar as reduzir os impactos no ambiente, diminuindo a emissão de poluentes, essa característica foi uma das motivações para Camila Dresch Schneider, 35 anos, comprar um modelo XC60 R-Design 2019, da Volvo. “O carro elétrico entrou em tendência em função da poluição, diminuição do uso de combustíveis fósseis e a economia. Mas optei por esse carro e modelo da Volvo, também, em função do conforto e da segurança, já que são pioneiros no cinto de três pontos e no airbag”, explicou a médica anestesiologista.

O carro de Camila é um modelo híbrido, ou seja, tem um motor elétrico (recarregável) e um a gasolina. Segundo ela, o elétrico, quando completamente carregado, tem autonomia de 40 quilômetros. “Para meu uso diário dentro de Venâncio, acabo só andando com o motor elétrico e recarrego o carro uma vez por semana. A medição dessa autonomia aparece no painel e, quando acaba a bateria, automaticamente entra em funcionamento o motor a gasolina”, explicou.

O tempo de recarga é de mais ou menos três horas e cada uma custa cerca de R$ 6, valor que varia conforme o consumo de luz da família, já que a tomada está ligada diretamente ao apartamento.

Na garagem

Como em Venâncio Aires ainda não existe ponto de recarga para carros elétricos, Camila conta que foi necessário instalar uma tomada específica para ‘abastecer’ o veículo em casa. Para isso, uma empresa foi contratada para fazer o serviço especial. “A própria Volvo faz as orientações sobre a instalação da tomada e cobriu o custo da instalação”, comentou.

Veículo tem uma tomada para plugue específico do cabo do carregador (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Segundo Paulo Ricardo Coutinho, diretor administrativo da Nettelin Energia Solar e Engenharia, empresa que fez a instalação dessa tomada, foi utilizado um carregador veicular especial, instalado na garagem, com plugue específico para carregamento do carro. “As modificações elétricas foram muito simples. Basicamente a instalação de uma rede elétrica do seu centro de distribuição até o ponto de carregamento da garagem, além das proteções elétricas exigidas pelo carregador, como disjuntor e DPS, que é o dispositivo de proteção de surtos”, explicou Coutinho.

Estrutura

O fato de Venâncio não ter nenhum ponto de recarga para carros elétricos não surpreende e, em todo o estado, são poucos disponíveis atualmente. Vale lembrar que, na região, Santa Cruz do Sul recebeu o primeiro eletroposto do interior gaúcho, em 2019. No ano passado, um equipamento foi instalado no estacionamento de um supermercado.

Segundo Paulo Coutinho, da Nettelin, já existem alguns locais, como em estacionamentos privados em shoppings, hotéis e prédios comerciais no Rio Grande do Sul, principalmente em Porto Alegre. Muitos são gratuitos “Outras cidades, como Novo Hamburgo, Sapiranga, Gramado, Caxias do Sul e Passo Fundo também têm carregadores para veículos elétricos disponíveis e os pontos podem ser encontrados através de aplicativos, como por exemplo da Zletric”, explicou.

Ainda conforme Coutinho, o processo deve se intensificar nos próximos anos. “Ainda é lento em termos de infraestrutura, mas vem crescendo exponencialmente em estacionamentos de shoppings e prédios comerciais, com intuito de que as pessoas fiquem cada vez mais nos estabelecimentos consumindo, enquanto o carro fica carregando no estacionamento.”

Nível de carga da bateria é mostrado no painel, ao lado do indicador de combustível (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Proprietária de um dos únicos ou talvez do único carro elétrico de Venâncio, Camila Schneider também espera evolução na estrutura. “A autonomia dos carros ainda é pequena. No meu caso, como é um carro híbrido, fico mais tranquila, pois tenho o motor a gasolina junto. Mas os carros totalmente elétricos têm média de autonomia de 200 a 300 quilômetros. Imagina ir até a praia, por exemplo, e não ter onde ‘abastecer’ o carro?”, questiona.

Sobre custos e tendência de mercado

Embora de forma lenta, a tendência futura é que veículos elétricos sejam maioria em circulação. Para se ter uma ideia, a Volvo (marca do carro da Camila) nem oferece mais modelos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel. Aliás, o Brasil, é o segundo país do mundo onde a marca sueca deixou de vender carros com motores apenas a combustão.

Por enquanto, o preço de venda desse tipo de veículo ainda é caro em relação aos de combustão. O modelo XC60 da Volvo, por exemplo, está avaliado em cerca de R$ 350 mil. “Os veículos têm um valor mais elevado comparado a carros similares a combustão. Mas vejo tendência de diminuição do custo dos elétricos ao longo do tempo, com o aumento da produção. Além disso, as baterias, que são o grande empecilho da tecnologia, vem evoluindo ano a ano, aumentando cada vez mais sua autonomia”, considerou Paulo Coutinho, da Nettelin.

Outro fator financeiro que, segundo ele precisa ser considerado, diz respeito à energia. Por isso, Coutinho entende que a energia solar é a grande aliada do carro elétrico. “Ela possibilita a viabilização financeira e ecológica. Pensamos que não adianta ter um carro elétrico e as baterias serem carregadas com energia proveniente de usinas de fontes não renováveis, como as usinas térmicas, amplamente utilizadas hoje nesta crise hídrica que vivemos.”

Mais caros

No ano passado, as vendas de veículos eletrificados (100% elétricos e híbridos) deram um salto no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram emplacadas 19.745 unidades contra 11.858 em 2019 – aumento de 66,5%.

Mas, mesmo com tamanho crescimento, a maioria ainda não é acessível ao bolso do brasileiro. Conforme a ABVE, os impostos aplicados sobre o carro elétrico já caíram, mas poderiam melhorar mais. Antes, o imposto de importação era de 35% e, em 2015, foi para zero no elétrico e 2% no híbrido. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) era de 25% e, em 2019, baixou para 9%.

Ainda assim, na Europa os veículos com mais eficiência energética pagam menos impostos e, no Brasil, ocorre o contrário. Segundo a ABVE, aqui, um automóvel com motor a combustão que percorre entre 10 e 12 quilômetros por litro paga 7% de IPI. Já um carro híbrido, que roda 25 km/l chega a pagar até 15%.

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