A evolução e a qualidade da rede portuguesa de carregamentos de carros elétricos foi o centro do debate desta manhã do projeto Carta Elétrica, mas também houve espaço para discutir o que aí vem e até como os novos prédios de habitação se preparam para receber a mobilidade sustentável. No encontro estiveram presentes Tiago Belo, sócio gerente da Solyd Property Developers; Pedro Vinagre, administrador da EDP Comercial com o pelouro da mobilidade; Duarte Ferreira, director de desenvolvimento da Efacec e Luís Barroso, CEO da Mobi.E. Estas foram as principais conclusões.

1. Diminuir a ansiedade dos utilizadores

  • A opinião é de todos os presentes neste debate, mas foi expressa por Luís Barroso: “A mobilidade elétrica já cá está, é real, já a sentimos”. E “a adesão é cada vez maior”, acrescenta Pedro Vinagre, lembrando que em setembro, 25% dos carros que se venderam em Portugal são elétricos, o que faz que com este ano já estejam com uma quota de 21%. O ano passado era de 13%. Mais, quando se trata de procurar uma casa, “metade dos nossos clientes pergunta como vai carregar o carro elétrico e não tem carro elétrico, mas diz estar a pensar nisso”, conta Tiago Belo.
  • É, no entanto, preciso combater a “desinformação” que se produz nas redes sociais, diz Luís Barroso. E também a chamada “ansiedade da autonomia” que ainda é um travão à compra de carros elétricos e que se traduz no receio de ficar sem bateria e/ou não ter onde carregar, explica Pedro Vinagre. Um receio que agora já não tem razão de ser, dizem. “Temos 14,9 pontos de carregamento por cada 100 quilómetro (km) de estrada e essa métrica é muito boa”, comenta Duarte Ferreira. Aliás, diz Luís Barroso, coloca Portugal em 4º lugar na União Europeia. Além disso, o crescimento tem sido significativo. Por exemplo, em 2020 o número de pontos duplicou, diz Pedro Vinagre.
  • Além disso, comentou Luís Barroso, a rede de carregamento de acesso público é interoperável, ou seja, os utilizadores dos carros elétricos só precisam de ter um cartão para pagar, independentemente do operador e do comercializador a quem tem de se pagar o abastecimento. Já “em Espanha não há interoperabilidade. Numa viagem de Portugal a Madrid, entre Elvas e Madrid foi preciso fazer cinco contratos com cinco comercializados diferentes. Em Portugal isso não acontece”, acrescenta o CEO da Mobi.E.
em setembro deste ano, 25% dos carros vendidos em Portugal são elétricos

2. Mais rede, mais potência e mais apoios

  • Apesar da evolução positiva da rede e da garantia de que, neste momento, os utilizadores não ficarão sem bateria a meio do caminho se fizerem uma gestão inteligente dos carregamentos, Pedro Vinagre considera ser preciso continuar a investir na rede de acesso público. E as razões são várias: porque as vendas de carros estão a crescer significativamente, como já referimos em cima; porque “80% dos carregamentos são feitos na rua e só 20% são feitos em casa”; ou ainda porque é preciso reforçar a rede no interior do país. Mas para isso, diz Pedro Vinagre, “devia haver apoios do Estado aos privados para a instalação de postos em locais onde a rentabilidade é menor”.
  • Contudo, o administrador da EDP alerta que não será possível ter pontos de carregamento em todo o lado, principalmente dos rápidos ou ultra rápidos, que carregam em menos de 10 minutos. “Vão existir velocidades de carregamento consoante o local onde está o posto. Não vão ser postos rápidos em todo o lado”, até porque “usar um carro elétrico não é igual a usar um carro de combustão. A forma como carregamos é diferente e não é preciso ter sempre o carro ‘atestado’”, repara Luís Barroso. “Posso estar sempre a carregar. Vou a um restaurante, carrego o carro. Venho a uma conferência, carrego o carro…”, acrescenta Pedro Vicente.

“No projeto piloto da Mobi.E estava previsto instalar pelo menos um posto em cada um dos 278 municípios de Portugal, excluindo ilhas. Neste momento faltam-nos 4 – Amares, Arcos de Valdevez, Terras de Bouro, Vila Verde – que estarão ligados até ao final do ano”, diz Luís Barroso, CEO da Mobi.E

3. A questão dos condomínios

  • Carregar o carro em casa é ainda um desafio porque há questões legislativas e regulatórias a ultrapassar, nota Duarte Ferreira, apesar de já haver sistemas próprios para carregar os carros nos condomínios que minimizam esses constrangimentos
  • Existe também a questão do custo que o promotor imobiliário tem de estar disposto a pagar para colocar esses sistemas nos seus projetos e subsistem ainda algumas demoras na aprovação do aumento da potência necessária, porque é mais um equipamento que vai estar ligado à rede e que precisa de mais potência para que o quadro elétrico do prédio não vá abaixo, diz Tiago Belo (leia tudo sobre estes temas em dois textos que o Expresso vai publicar nas edições impressas de 13 e 27 de novembro).

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