RIO — A Audi vai retomar a produção de veículos no Brasil, que havia sido suspensa em meados de 2020, devido às incertezas no mercado local.
A montadora vai produzir a nova geração dos modelos Q3 e Q3 Sportrack, a combustão, com motores importados, na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, que é compartlilhada com a Volkswagen, sua controladora.
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A produção será em linha de montagem exclusiva, a mesma que era usada no modelo A3 Sedan antes da interrupção de suas atividades no Brasil.
— Mesmo em um momento desafiador, a empresa sempre trabalhou para viabilizar a fabricação nacional por acreditar no potencial do país e na credibilidade que a marca ganha na visão dos nossos clientes — disse Johannes Roscheck, presidente da Audi do Brasil.
A produção começará em meados de 2022, mas apesar da retomada não há perspectiva de novas contratações.
Em entrevista ao GLOBO, o diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Audi do Brasil, Antonio Calcagnotto, explicou que a fabricante manteve os funcionários trabalhando mesmo durante a suspensão da produção. Ou seja, não houve demissões.
— A gente não fechou a fábrica, a gente parou de fabricar. Nossos funcionários tiraram férias nos momentos em que isso foi necessário, durante algumas fases da pandemia, mas não houve corte de pessoal. Nossa linha de produção não foi desmobilizada, nós continuamos fazendo testes e montando alguns carros — esclareceu.
Calcagnotto ressaltou que a empresa ainda está analisando de quanto serão os investimentos na retomada da produção no Brasil, e qual o volume de carros que será produzido. Segundo o executivo, isso depende de uma negociação com o governo federal relacionada aos créditos de IPI que a Audi tem para receber.
— Tivemos permissão da Alemanha para voltar a produzir no primeiro semestre do ano que vem. Estamos vendo uma forma de compensação desses créditos, que vai ser num período longo, mas é com isso que a gente vai justificar para a matriz que vale a pena o investimento — disse.
Os novos modelos chegarão no porto de Paranaguá divididos em conjuntos de peças e partes vindas da fábrica de Györ, na Hungria, para montagem no Brasil.
A Audi fabricou carros no país por mais de 20 anos, entre 1999 e meados de 2020, quando uma indefinição em relação a créditos de impostos federais e o cenário de instabilidade na economia a levou a suspender a produção no Brasil.
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A nova geração do Q3 foi lançada no Brasil no início do ano passado e se tornou o modelo mais vendido da Audi no país. Este ano, até novembro, as vendas do Q3 somam 2.027 unidades, segundo dados da Fenabrave, associação que reúne as concessionárias no país.
Na mesma categoria de SUVs, a liderança é do Jeep Renegade, da Stellantis, com 69.600 emplacamentos.
Desafios para o setor continuam no ano que vem
A retomada da produção na fábrica da Audi não significa que o cenário para o setor de automóveis no ano que vem será tranquilo. Sócia da MB Associados e especialista no segmento, Tereza Fernandez explica que enquanto neste ano o principal problema foi na oferta, com a falta de semi condutores e as interrupções nas cadeias produtivas, em 2022 o mercado pode sofrer com a retração da demanda.
— Em 2020 parou tudo. Em 2021 a desconstrução da produção afetou a oferta, quando tinha uma demanda razoável. Mas em 2022 parece que vai haver um problema adicional de demanda mesmo, em função das condições econômicas do país — avalia.
Entre os fatores que prejudicam o setor de automóveis está a alta dos juros pelo Banco Central, como forma de controlar a inflação, o que encarece o crédito. Além disso, com o desemprego e a perda do poder de compra da população, Tereza acredita que os bancos ficarão mais cautelosos ao conceder financiamentos.
— O crédito ficará mais caro e mais seletivo — diz.
A situação é pior para os carros populares, aponta Tereza. A produção de carros do segmento de luxo, como é o caso da Audi, tende a sofrer menos com esse cenário. Ainda assim, ressalta a analista, é provável que haja um problema de demanda no próximo ano.
— Quem tem dinheiro já trocou de carro neste ano e não vai comprar de novo no ano que vem. Essas pessoas agora estão voltando a viajar e a gastar com serviços.
Antonio Calcagnotto, da Audi do Brasil, acredita que o problema na oferta também não está solucionado.
— O mercado ainda tem um pouco de preocupação global com a falta de semi condutores, que acabam afetando a produção mundial der automóveis.
Carros elétricos são ‘sonho’ para o futuro
A Audi do Brasil também anunciou nesta terça-feira o investimento de mais de R$ 20 milhões em 2022 para instalação de estações de recarga ultrarrápida nas concessionárias da marca no Brasil. De acordo com a companhia, essas estações permitem recarregar a bateria de carros elétricos em menos de 25 minutos.
Ainda não há previsão, porém, para que a Audi comece a produzir automóveis elétricos no país. Durante o anúncio, o presidente da Audi do Brasil, Johannes Roscheck, disse que isso “seria um sonho”, mas não deu previsão para que essa produção comece por aqui. A Audi já vende hoje quatro modelos de carros elétricos no Brasil, mas todos são fabricados fora do país.
Antonio Calcagnotto, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Audi do Brasil, ressaltou que a companhia assumiu o compromisso global de produzir apenas carros elétricos até 2033. No entanto, ainda há entraves para que esse mercado avance no Brasil.
— O mercado de carros elétricos é bastante insipiente ainda no Brasil. O que muda em relação a outros países são os incentivos ao consumidor. Na Europa, por exemplo, há países que pagam 7.500 euros para quem comprar carros elétricos. No Brasil o IPI para o carro elétrico ainda é alto, e apenas sete estados têm isenção de IPVA para esses veículos — explica Calcagnotto.
De acordo com o executivo, a Audi pretende lançar novos modelos de carros elétricos no país. E o investimento em estações de recarga nas concessionárias é uma das formas de incentivar esse mercado.