Uma das promessas da transição energética, além de preservar melhor o meio ambiente e levar os países a cumprirem os seus compromissos de redução de emissão de carbono, está em diminuir conflitos geopolíticos. O reinado do petróleo ajudou a tornar o Oriente Médio uma das regiões mais instáveis do planeta nas últimas décadas, e deu poder para a Opep, o grupo das nações produtores, definir preços globais de combustíveis. Algo capaz de causar inflação global e dificuldades econômicas para muitos países. Eliminar essa dependência seria uma boa notícia para o mundo, não? A princípio, sim. Mas talvez não tanto quanto o esperado. O risco é que os problemas sejam apenas redirecionados para outra parte do globo.
Quase 70% da produção de cobalto, mineral essencial para a fabricação das baterias dos carros elétricos e que armazenam a energia gerada pelo vento ou sol, vem da República Democrática do Congo, um grande país da região da África Sub-Saariana. Dessa forma, qualquer problema político armamentista ali pode causar uma disrupção na produção dos automóveis elétricos e pressionar ainda mais os custos de transição para a energia renovável.
Infelizmente, os riscos são altos. O país, que entre 1971 e 1997 era chamado de Zaire, durante a longa ditadura de Mobutu Sese Seko, tem 105 milhões de habitantes e um PIB pouco maior que o faturamento da Tesla, a inovadora companhia de carros elétricos de Elon Musk. O país é considerado pouco democrático, controlado por Joseph Kabila entre 2001 e 2019, tem províncias que não respondem ao governo central, e que de tempos em tempos são assoladas por surtos de Ebola.
Além disso, o país já é considerado estratégico pelas duas superpotências. Na disputa de gigantes, a China está ganhando. Segundo reportagem do jornal The New York Times, no ano passado, 15 das 19 minas de cobalto do país tinham investimento de empresas chinesas. Duas delas foram compradas de uma mineradora americana pela China Molybdenum, que seria 25% controlada pelo governo chinês. Para tornar o caso ainda mais curioso uma das minas vendidas — em 2016, por ,8 bilhões de dólares — era controlada pelo fundo Freeport McMoRan, que teve como um de seus fundadores Hunter Biden, filho do presidente americano, Joe Biden.