O programa Rota 2030 aprovado no apagar das luzes do governo passado e festejado pela cadeia automobilística como a galinha dos ovos no desenvolvimento de automóveis mais eficientes em potência energética e com menor taxa de emissão de partículas, ainda não deslanchou para valer ao praticamente completar um ano.
“Poucos estão se aventurando, essa é a verdade, já que mesmo com os incentivos sai caro desenvolver veículos com essas exigências, ante as interrogações sobre a economia, do risco de penalizações pelo não cumprimento das exigências e da expectativa de baixo retorno comercial”, explica Ricardo Abreu, que estava na linha de frente da P&D de uma das principais empresas do setor, a Mahle (Metal Leve, Cofap e outras sob o guarda-chuva do grupo alemão), até se aposentar o mês passado.
Portanto, conhecedor do cenário na cadeia automobilística.
A renúncia fiscal para valer recai praticamente apenas para os carros elétricos e híbridos (eletrificado à base etanol ou rodando como flex), de 25% para 7% do IPI, e com adiantamentos via crédito de R$ 1,5 bilhão (10,2% sobre o IR Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro Líquido), entre outros em um cipoal de benefícios e regras. Mas sob severas penalidades para as empresas que oficializarem a presença no programa e não cumprirem as metas, de cinco em cinco anos, totalizando 15 anos.
Com sobra de dúvidas sobre as reais intenções da maioria das montadoras a respeito do modelo a ser decidido pelas matrizes – se o elétrico a bateria ou o a etanol gerando hidrogênio para a eletrificação – mais as incertezas da economia brasileira, o Rota 2030 está confinado à Toyota e mais poucas empresas. Menos ainda no segmento de autopeças.
Além de destacar que as montadoras daqui não são geradoras de tecnologia com autonomia das matrizes, apesar de no caso do carro elétrico à etanol o desenvolvimento é nacional tanto quanto foi o flex, o engenheiro mecânico defende os incentivos do Rota 2030 às indústrias, na esteira do que foi o Inova Auto, explico o ex-diretor de P&D da Mahle, em conversa com Money Times, após palestra no Seminário Bioenergia, realizado na Unicamp.
Quer ficar por dentro de tudo que acontece no mercado financeiro?
Receba de segunda a sexta as principais notícias e análises. É grátis!
Mas Ricardo Abreu defende a urgência na busca de solução, diante do acelerado aquecimento global, e não descarta que se use todas as tecnologias possíveis para mitigar as emissões. Até o uso de “baterias menores”, com outras fontes de energia, que não apenas a problemática baterização com lítio e cobalto.
“Podem ser até mais eficientes em emissões, mas são problemáticas pela extração desses minerais, portanto o processo de produção não é limpo, além da dependência que acabará se tendo da China, tanto pela concentração de terras raras em seu território, quanto das baterias”, avalia.
Segundo consta, 60% das baterias dos carros elétricos puro sangue são da China.