Podemos respirar tranquilos: o Brasil está na rota dos carros voadores. E o primeiro modelo autorizado a voar no país tem chances de ser o da empresa brasileira Embraer, que formalizou por meio da Eve, seu braço de mobilidade urbana, o processo para obtenção de um Certificado de Tipo para o projeto do eVTOL junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Com isso, a Eve oficializa o compromisso de cumprir com os padrões técnicos internacionais e requisitos de aeronavegabilidade obrigatórios para a certificação. “Do ponto de vista da regulação há muito trabalho a ser feito, não somente em relação à tecnologia da aeronave, mas na definição de todo ecossistema”, diz Roberto Honorato, superintendente de aeronavegabilidade da Anac.
Mas, afinal, o que já sabemos sobre o carro voador?
A sigla eVTOL, em inglês, significa “veículo elétrico de decolagem e pouso vertical”, ou seja, ao contrário de um avião, o carro voador não precisará de uma pista para levantar voo. Nesse ponto, ele se assemelha mais a helicópteros, mas, por ser elétrico, é mais silencioso. Outro ponto que diferencia a eVTOL das aeronaves é que ele é feito para voar por distâncias curtas, na mesma cidade ou entre cidades vizinhas. Por isso, inicialmente, o plano é usar a novidade para baratear o táxi aéreo.
O grande trunfo do eVTOL é a economia em relação às aeronaves a combustão, já que ele é elétrico. Por isso, seria uma forma de tornar o táxi aéreo urbano viável, por meio de uma rede de operações interligada. “Trata-se de um veículo totalmente silencioso, adequado às cidades. É veículo para rodar na cidade, ou no máximo em um deslocamento intermunicipal curto, como de São Paulo a São Bernardo do Campo (na região metropolitana da capital paulista)”, explica Camilo Adas, presidente da SAE Brasil.
Quando fica pronto?
Apesar de ser brasileiro, o eVTOL da Eve deve voar primeiro na Austrália, a partir de 2026. Isso porque a empresa fechou uma parceria com a australiana Sydney Seaplanes para iniciar a implantação de operações de táxi aéreo elétrico na cidade de Sydney, com uma encomenda inicial de 50 aeronaves.
“A formalização do processo de certificação do eVTOL é um passo importante para a continuidade das discussões que vêm sendo realizadas entre Eve e ANAC em direção à certificação do veículo para mobilidade urbana”, aponta Luiz Felipe Valentini, diretor de tecnologia da Eve.
Mas o brasileiro não precisa se frustrar. Também há entregas previstas para 2026 de carros voadores da Embraer para o Brasil, encomendados pela Avantto, empresa brasileira de compartilhamento de aeronaves. No ano passado, a Gol e a Azul também encomendaram eVTOLs de empresas estrangeiras, Vertical e Lilium, respectivamente. Os modelos serão entregues a partir de 2025.
O modelo da Embraer terá autonomia para rodar até 100 km e tansportará quatro passageiros além do piloto, o da Vertical percorre até 160 km. Já o eVTOL da Lilium leva sete passageiros por até 250 km.
Não é tão simples
Antes de circular livremente pelos céus, os carros voadores precisarão passar pelo crivo da legislação. Seria necessário definir, por exemplo, uma altitude específica para a circulação desses veículos, para que não atrapalhem o fluxo de aeronaves. Há uma outra discussão necessária: a distância permitida entre um eVTOL e outro, o que definirá quantos deles uma cidade comporta, e será crucial para cravar a viabilidade do negócio.
Posso ter na garagem?
A maior parte dos projetos está apostando também na condução autônoma. O que facilitará o uso do eVTOL por pessoas sem habilitação específica para aeronave, tornando esse tipo de veículo mais adequado à mobilidade individual privada que um helicóptero, que precisa de piloto. E essa aptidão, inclusive, é uma das diversas razões que estão levando o eVTOL a ser também chamado de carro voador – embora estejam muito mais conectados a aeronaves.
Há ainda o envolvimento de diversas montadoras de automóveis em projetos. Além disso, por sua concepção, o eVTOL pode ser capaz de rodar tanto como um automóvel quanto como aeronave, embora existam poucos projetos nesse sentido. “Para isso, é necessário o uso de dois módulos. Ora o veículo fica conectado ao terrestre, ora ao aéreo”, opina Adas.