“Lá se vai o El Dorado dos elétricos. Juntem-lhe as baterias de seis em seis anos e… Quanto à desvalorização não faço futurologia”, comenta-se num post de 3 de feveveiro no Facebook, partilhado na página do “Movimento contra o Imposto Sobre Veículos (ISV)”.
O “post” exibe ainda um gráfico que ilustra uma “análise do custo total de posse (seis anos e 15 mil quilómetros por ano)”, com dados que supostamente demonstram que carregar o automóvel elétrico na rede pública, posto normal ou rápido, acaba por ficar mais caro do que atestar o depósito de gasolina ou gasóleo.
O gráfico carece de indicação de fonte, ou qualquer interpretação dos dados, mas o objetivo parece ser claro: realçar que um automóvel elétrico só compensa (ao nível financeiro) se for carregado em casa (sob tarifa bi-horária) e não na rede pública, posto normal ou rápido. Isto em comparação com um automóvel de combustão interna, movido a gasolina ou gasóleo.
Começando pela origem do gráfico, o Polígrafo confirmou que se trata de um conjunto de dados analisados pelo pela Deco Proteste, organização de defesa do consumidor que, num artigo divulgado a 28 de janeiro deste ano informava que os automóveis elétricos, comparativamente aos de combustão interna, eram “imbatíveis” se fossem carregados “em casa” e com “tarifa bi-horária“. Mas apenas nesse caso.
Segundo esse artigo, na sequência do aumento da taxa aplicada aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) em 79%, “a tarifa passou de 0,1657 para 0,2964 cêntimos por carregamento”.
Com base neste aumento, formalizado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) e aplicado pela Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica (EGME), o Ministério do Ambiente e da Ação Climática abriu mãos a um apoio e indicou, através de um comunicado, que “a partir de janeiro de 2022, o Fundo Ambiental irá financiar os utilizadores de carros elétricos, compensando-os pelo aumento das tarifas determinado pela ERSE. Com este apoio, os utilizadores finais pagarão o mesmo do que em 2021″.
Assim, a Deco Proteste atualizou os preços relacionados com os diversos tipos de automóveis e concluiu que “se tiver de comprar um automóvel, o elétrico é o melhor negócio“, embora ressalvando que este “só compensa se carregar em casa“.
A análise “recorre a estimativas com base em valores definidos de anos de posse e número anual de quilómetros” e inclui “preço de veículos e depreciação do mercado; custos e consumo de combustível/eletricidade; impostos (IVA, ISV, registo, IUC); e custos de seguro e manutenção”.
As conclusões foram as seguintes: “No contexto atual, o carregamento em casa é a solução mais prática e eficiente para os utilizadores de automóveis elétricos. No panorama atual da fixação de tarifas de eletricidade, esta é a melhor opção para todos os consumidores. Com taxas e impostos incluídos, o carregamento na rede pública compromete as vantagens do negócio“.
Quanto custa o carregamento da bateria com 18kWh, i.e., para 100 quilómetros?
De acordo com as contas da Deco Proteste, se a bateria for carregada num posto normal de 22 kW, o utilizador estaria a gastar 7,36 euros, dos quais quase metade em tarifas e impostos, como se verifica no quadro abaixo.
Em 2022, informa a Deco Proteste, “o custo por quilómetro aumenta ligeiramente, quando comparado com o panorama em 2021″. Ainda assim, “o carro elétrico só compensa do ponto de vista económico se for carregado em casa e com recurso à tarifa bi-horária, sendo esta a melhor solução e o tipo de carregamento preferencial”.
“No ciclo combinado entre casa (80%) e rede pública (20%), o custo por quilómetro aumenta apenas 1 cêntimo por quilómetro. Contudo, se apenas pode carregar na rede pública, posto normal ou rápido, já paga mais 3 cêntimos por quilómetro no cenário para seis anos de posse com 15 mil quilómetros por ano. Para o mesmo número de anos, mas 30 mil quilómetros por ano, o aumento dispara”, sublinha, mostrando o gráfico que depois foi replicado no post sob análise.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: