Muita gente gostaria de possuir um carro elétrico, não apenas pelo apelo da economia, para fugir dos constantes aumentos dos combustíveis. E a economia é gritante. Pelos cálculos da startup GreenV, um carro popular com motor 1.0 que faça 14,3 km/litro, vai rodar cerca de 39 km com R$ 20 de gasolina (custando R$ 7,20 o litro). Já um carro elétrico que tenha o consumo de 6,3 km/kWh, com R$ 20 de energia elétrica (por R$ 0,92/kWh) vai rodar 136,95 km.
Outros motivos para ter um veículo elétrico é estar antenado com as novas tecnologias, sem falar na pegada ecológica. Poder usar um carro sabendo que não está contribuindo para a poluição do ar também é muito satisfatório.
Mas, fora o preço do carro elétrico, que ainda é proibitivo para muita gente, em torno de R$ 145 mil, o mais barato, podendo ultrapassar os R$ 500 mil nos modelos de alto luxo, existem muitas dúvidas sobre o futuro dessa tecnologia. O carro elétrico é viável? ou apenas uma moda passageira?
O CEO da GreenV, startup que desenvolve tecnologias em mobilidade elétrica, Junior Miranda, fala nesta entrevista sobre as expectativas para o setor, as vantagens de se ter um veículo elétrico e os investimentos necessários para ter um ponto de recarga em condomínios ou na sua casa, entre outros assuntos.
Como está a aceitação dos veículos elétricos no mundo e no Brasil?
Júnior Miranda – Existe uma tendência mundial na eletrificação dos veículos, a maioria dos países já têm metas anunciadas de descarbonização, no Reino Unido, por exemplo, o plano foi antecipado para 2030 e vai proibir a venda de novos carros e vans movidos a gasolina e diesel. No Brasil existem incentivos isolados de governos estaduais, no plano federal temos o programa Rota 2030 que não é especificamente um plano de eletrificação, mas muitas concessionárias de energia tem aproveitado os incentivos para programas de P&D [pesquisa e desenvolvimento] voltados para a implantação de pontos de recarga em rodovias. De acordo com os números da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos), o número de vendas de veículos elétricos mais que dobrou em 2021, comparado com 2020. Atualmente, os híbridos plugin (PHEV) e 100% elétricos (BEV) são cerca de 1% dos veículos totais em circulação no país.
O que impede o modelo de transporte elétrico decolar no Brasil?
JM – Para que o modelo cresça ainda mais, é necessário que haja uma certa estruturação nas cidades para atenderem a demanda de carregamento, ou seja, significa a presença de pontos de recarga em alta escala. Para isso, é importante termos investimento em tecnologia e Parceria Público-Privadas (PPS). Além disso, uma forma de acelerar essa transição é o auxílio do governo promovendo incentivos fiscais para que o setor se desenvolva e que os carros elétricos sejam mais baratos e acessíveis à população.
Quais são as expectativas para o futuro do automóvel elétrico no Brasil?
JM – Um estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG) e a Anfavea mostra que dependendo do cenário econômico no Brasil nos próximos anos, o número de veículos leves eletrificados pode corresponder na faixa de 432 mil unidades em 2030, representando algo em torno de 12% e 22% do mix de vendas, e pode chegar a 1,3 milhões por ano em 2035, representando cerca de 32% a 62% em 2035.
Quais são os países-modelo na adoção de veículos elétricos?
JM – Atualmente, a China, na Europa em especial Noruega, Holanda, Alemanha e França, bem como os Estados Unidos dominam o mercado de veículos elétricos. As perspectivas para a adoção de VEs estão ficando mais crescentes devido a uma combinação de fatores como: suporte político, melhorias adicionais no custo da bateria, mais infraestrutura de carregamento e compromissos crescentes das montadoras.
Pensando em autonomia de bateria de veículos leves e pesados, e o estado de nossas rodovias, como adaptar a nossa infraestrutura para viagens de longa distância?
JM – Atualmente, já existem rodovias que contemplam pontos de carregamento ao longo do seu percurso para o abastecimento da bateria do veículo elétrico, como é o caso da BR-277 no Paraná, que corta o Estado de leste a oeste, e a Rodovia Presidente Dutra, que liga as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Além destas rodovias, está ficando mais frequente encontrar estações de recarga em postos de abastecimento de beira de estrada, com área exclusiva para veículos elétricos.
A viabilidade do uso de veículos elétricos em larga escala depende de amplos investimentos do país em infraestrutura de postos de abastecimento elétricos. Isso torna inviável a adoção do veículo elétrico em curto por conta da dimensão continental do território nacional?
JM – Nossa missão é justamente a de viabilizar o veículo elétrico em nosso país em larga escala, através de soluções tecnológicas que não estejam necessariamente presas à ideia de limitação em função dos pontos de carregamento, mas que otimizem de forma inteligente o tempo e os recursos de toda a cadeia envolvida com os veículos elétricos. Paralelo a isto, há uma evolução rápida do lado dos veículos que terão maior autonomia e serão mais eficientes no dia-a-dia. Não temos dúvida que esta transição ocorrerá muito rapidamente.
USO NO DIA A DIA
O que é preciso para instalar um ponto de recarga em um condomínio?
JM – Dentro de um condomínio existem algumas possibilidades para instalação de um ponto de recarga. A instalação leva em consideração o objetivo do condomínio: se vai disponibilizar uma vaga coletiva para que um ou mais veículos possam revezar o carregamento ou se a vaga será individual para os condôminos. Basicamente, é feito um levantamento da quantidade de veículos elétricos que farão a recarga, verificação das condições do condomínio para atender toda a demanda e assim é realizado um dimensionamento dos equipamentos necessários para a instalação. É preciso gerenciar os pontos de recarga, realizar a medição da quantidade de energia consumida e sinalizar o valor a ser cobrado pelo uso do espaço.
Qual o valor do investimento para um condomínio?
JM – As instalações de carregadores para veículos elétricos seguem normas específicas e são complementadas pelas normas brasileiras. A solução completa de infraestrutura parte de um valor aproximado de R$14.990 e vai aumentando de acordo com a distância da vaga de carregamento e o quadro elétrico.
Existe algum medidor de consumo para que o morador seja cobrado individualmente?
JM – É possível instalar um medidor adicional para trazer as informações de energia consumida, mas não um medidor da concessionária de energia. Uma alternativa é a instalação de um carregador inteligente (os chamados Smart) para realizar a medição, mas este equipamento acaba saindo mais caro por ter essa solução embarcada. Possuímos uma tecnologia (hardware IOT) que torna o carregador não conectados em inteligente, possibilitando trazer, da mesma forma, todas as informações de carregamento e consumo para o usuário.
Existe diferença quando esse ponto é instalado em um condomínio residencial para um prédio comercial?
JM – Em questão de instalação, não há diferença. Ao invés de efetuar a medição individual do consumo, em prédios comerciais existe a possibilidade de cobrar a carga através de um cartão de crédito ou tag automática.