A compra de um carro elétrico é cada vez mais uma opção escolhida pelos portugueses. Seja pela crescente preocupação com o meio ambiente, a escalada de preços dos combustíveis fósseis ou até mesmo pelos incentivos do Governo. Por norma, os veículos elétricos têm um preço mais elevado do que os ditos tradicionais (com motor de combustão interna). Porém, investir neste tipo de carros pode ser mais caro no momento da sua compra, mas depois em uso é recuperar uma grande parte do custo total de propriedade. No que diz respeito ao carregamento, este pode ser feito na rede pública de carregamentos Mobi.e ou então em casa. Tudo vai depender do tipo de habitação em que reside. Se mora num apartamento, um dos primeiros aspetos que deve ter em atenção é, se tiver garagem associada à habitação, a tipologia do seu lugar de garagem e sobretudo se existem de tomadas que garantam o carregamento de carros elétricos.
Já se habita numa moradia, mesmo que não tenha lugar de garagem, deve ser mais fácil estacionar perto de casa e fazer a ligação a uma tomada elétrica.
O carregamento em casa é a opção mais barata do mercado, mas será que pode ser feito numa tomada convencional? Tecnicamente sim, porém existem alguns perigos e desvantagens.
1. Verifique as condições da instalação elétrica
Especialmente no que diz respeito a instalações antigas, é difícil prever como foi construída e que características tem a instalação elétrica e respetivo circuito que alimenta as tomadas. Ou seja, deve perceber se tem uma ligação à terra suficientemente forte. É que uma utilização sistemática para carregamentos com correntes elevadas e prolongadas pode causar danos estruturais no sistema elétrico da casa.
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2. Cuidado com a possibilidade de sobreaquecimento
O carregamento de carros elétricos em tomadas ditas normais deve ser encarado apenas como uma forma de carregamento ocasional, numa situação de emergência. As tomadas domésticas não estão preparadas para carregamentos longos com correntes elevadas, o que acontece durante o carregamento de um veículo elétrico, havendo o risco de sobreaquecimento da instalação elétrica e dos seus vários componentes.
No entanto, a maioria dos carros elétricos vêm equipados com o chamado “carregador doméstico”, para carregamentos com corrente alternada (usada nos edifícios e habitações) e que pode ser usado desde que cumpridos alguns requisitos de segurança – os de melhor qualidade não funcionam se este requisito não se verificar. Estes cabos vêm com uma tomada schuko (a tomada convencionada em Portugal, com dois pinos), que, em alguns casos, tem um sensor de temperatura para evitar o sobreaquecimento.
3. Velocidade de carregamento é mais baixa
Utilizando a corrente alterna (AC), que é a que existe nas nossas casas, numa tomada doméstica normal (tipo Schuko – com dois pinos) temos uma velocidade de carregamento baixa (de 2,3 kW). Esta é uma solução que não precisa de qualquer instalação. Afinal de contas, todos temos tomadas nas nossas casas. No entanto, e dando um exemplo real, para carregar um Zoe Z.E. 50 com uma capacidade de 52 kWh, numa tomada normal , iria demorar cerca de 29 horas e 34 minutos e só conseguiria chegar aos 80% de carga. Para chegar aos 100% iriam ser necessárias 37 horas e 13 minutos ligados à corrente.
A lógica é: Quanto maior for a autonomia de um carro elétrico, maior será a sua bateria e mais tempo será preciso para garantir uma carga completa. Ou seja, modelos com uma bateria de 62 kWh (ex: Nissan Leaf), de 64 kWh (Kia e-Niro ou Hyundai Kauai Electric), de 75 kWh (Tesla Model 3 Long Range), 80 kWh (ex: Mercedes-Benz EQC 400 4Matic) ou 95 kWh (Audi e-tron 55 quattro) tornam o tempo de carregamento total quase infindável se for feito com uma tomada de casa normal.
Por outro lado, mesmo que tenha uma potência contratada com o fornecedor de eletricidade de 4.6 kVA ou superior, se ligar o seu carro elétrico a uma simples tomada doméstica (com os tais 2,3 kW), nunca vai conseguir extrair mais do que os 2,3 kW por tomada.
4. Os carregadores portáteis são seguros?
Existem alguns carregadores portáteis que elevam a potência de carregamento de 10A para até 32A (esta última obriga a ter uma tomada CEE e não uma schuko). Se estivermos a falar do carregamento de uma bateria de 40kWh, um carregador que permita o carregamento a 16A permite completar o processo em cerca de 12 horas. No entanto é essencial certificar-se com uma visita técnica, por exemplo, que a tomada onde pretende fazer estes carregamentos vai suportar aquela amperagem durante tantas horas. A melhor solução para o carregamento doméstico é mesmo fazer uma instalação elétrica com um circuito dedicado e corretamente dimensionado para ser usado de forma continua a correntes mais elevadas no carregamento de veículos.
5. Wallbox: a solução para o carregamento em casa?
As wallboxes são carregadores que permitem fazer o carregamento doméstico de carros elétricos. Estas unidades de carregamento são instaladas na parede e permitem adaptar a energia da rede doméstica para disponibilizar uma maior quantidade de potência de carregamento para o veículo.
Mas as wallboxes não são todas iguais. Podem ter várias potências e ser comercializadas com ou sem cabo e/ou tomada. São várias as opções disponíveis, e algumas delas têm aplicações próprias que permitem gerir os carregamentos através de um smartphone. Desta forma, pode realizar um melhor controlo da bateria do seu veículo elétrico.
Carregar o automóvel elétrico em casa oferece a vantagem de efetuar carregamentos lentos – que preservam melhor a vida útil da bateria – e de carregamentos económicos, uma vez que se pode aproveitar o período mais favorável da tarifa, caso se tenha um contrato bi-horário.
Para se perceber a mais-valia de ter uma wallbox, vamos olhar para o caso concreto de um Nissan Leaf de 40 kWh. Com o cabo de 230V, de série, ligado a uma tomada normal de casa, o carro elétrico irá carregar 100% da bateria em 21 horas.
Com uma wallbox de 3,7 kW AC (16 A), este mesmo Leaf precisa de 15 horas para ficar totalmente carregado. Se se usar uma wallbox de 7,4 kW AC (32 A), o tempo de carga total reduz para as 7 horas. Ou seja, menos dois terços do que numa tomada normal.
Com a wallbox de 7,2 kW, se estivermos a falar da versão de 62 kWh (Leaf E+), serão precisas 11 horas e 30 minutos para carregar o veículo na sua totalidade (por oposição às 32 horas de carga, caso esteja a utilizar uma tomada doméstica convencional).
Outro exemplo: um Zoe ZE 50 ligado a uma wallbox de 7,4 kW AC (32A) precisaria de 8 horas e 33 minutos para ficar com a sua carga a 100% – uma performance muito diferente das 37 horas e 13 minutos de carregamento necessárias através de uma conexão de 2,3 kW AC (10A).
Há também as mais potentes wallbox de 22 kW (instalação trifásica) para um carregamento de carro elétrico ainda mais rápido. No entanto, para carregar a 22 kW é necessário efetuar um aumento de potência para 20,7 kVA e ter um contador trifásico.
Relativamente à escolha da wallbox, também deve ter presente que o tempo de carga varia conforme o tamanho da bateria e de acordo com a velocidade do carregador interno do próprio automóvel.
Para calcular o tempo de carga total de um VE, deve ter em consideração as seguintes variáveis: potência disponibilizada pelo carregador ou tomada; carregador interno do carro elétrico; e o tamanho da bateria a carregar.
É bom saber que a maioria dos VEs são limitados a 7.4 kW, pelo que se tiver um destes modelos não faz sentido investir num carregador wallbox de 22 kW.
O carregador integrado no VE converte a eletricidade recebida de AC para DC – esse é o fator que condiciona.
Para se ter uma ideia da capacidade máxima de carga de alguns carregadores a bordo de VE, podemos dividi-los em três categorias:
Os mais lentos: entre esses temos carros elétricos como o Peugeot iOn e Citroën C-Zero que podem receber uma carga máxima de 3,7 kW.
Os semi-rápidos: aqui estão incluídos modelos como Nissan Leaf e Hyundai Ioniq Electric (6,6 kW), VW e-Golf, Hyundai Kauai EV e Kia e-Niro (7,2 kW), e Jaguar I-Pace e Mercedes EQC (7,4 kW).
Os mais rápidos: BMW i3, Audi e-tron e Tesla Model 3 (11 kW), Tesla Model S e X (17 kW), Renault Zoe e Smart EQ (22 kW).
6. Então e os carregadores públicos rápidos?
Os carregadores rápidos, em DC (corrente contínua), devem apenas ser utilizados em viagem e os carregamentos dos VEs devem ser maioritariamente lentos, de forma a garantir uma maior longevidade da bateria do carro elétrico. Isto porque, se a potência fornecida pelas tomadas domésticas for demasiado baixa e o tempo de carregamento demasiado elevado, o tempo que o carro se mantém ligado à corrente (acumulado ao longo dos anos) provoca um grande desgaste na bateria do seu carro elétrico. Ou seja, para a durabilidade das baterias dos carros elétricos é igualmente prejudicial fazer carregamentos rápidos sucessivos como carregamentos excessivamente demorados e lentos.
Saiba ainda que para evitar surpresas desagradáveis, o ideal é carregar até aos 80% e não deixar ir abaixo dos 10% para evitar a degradação das mesmas.