Com exclusividade para o Super Motor, executivo revelou os planos da marca no Brasil e falou da expectativa para o mercado em 2020

O Super Motor passou a última semana na cidade de Los Angeles, na Califórnia, a convite da Ford América do Sul, onde participamos de um intenso ciclo de atividades – entre elas a apresentação do Mustang Mach-E –, primeiro SUV derivado do modelo esportivo que surpreendeu o mundo do automóvel ao adotar motorização 100% elétrica. Da programação. Também fez parte da programação um test drive com os Mustangs GT350 e GT500, que será pauta de nossas próximas edições.

Além disso, ainda participamos da cobertura do Los Angeles Auto Show. Na ocasião, entrevistamos o principal executivo brasileiro da Ford América do Sul, o engenheiro Rogelio Golfarb, vice-presidente da companhia, que nos contou sobre o impacto mundial do lançamento do Mach-E, dos planos para a Ford no Brasil, além do encerramento das atividades da fábrica de caminhões, em São Bernardo do Campo (SP) e a expectativa para o mercado em 2020.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Qual a importância do lançamento do Mach-E, um SUV derivado do Mustang e com propulsão 100% elétrica?

Rogelio: Este evento em Los Angeles foi muito importante para a Ford, trazendo em primeira mão o Mach-E, que é um SUV, na linha do Mustang. Destaco três pontos que eu diria serem revolucionários: depois de 55 anos de seu lançamento, esse é o segundo produto com a chancela Mustang; outra é o fato dele ter uma carroceria SUV, e, por fim, a cereja do bolo: ser um carro com motor 100% elétrico com muita tecnologia, alto nível de conectividade e inteligência artificial embarcada. Vai surpreender sem dúvida todos os nossos consumidores, tanto no Brasil como no mundo. A repercussão foi enorme!

A escolha da Ford em apostar suas fichas em um produto tão revolucionário como um SUV, ainda por cima 100% elétrico, com o DNA de esportividade do Mustang, mostra que a companhia entra com os dois pés no mundo da eletrificação. Como você enxerga o futuro da Ford no mundo em relação aos carros elétricos?

Rogelio: É importante ressaltar que colocamos, sim, os dois pés na eletrificação, mas com um detalhe importante: com emoção, com veículos que privilegiam aqueles que também gostam de dirigir. Acredito que, daqui para frente, teremos um período de transição em que as propulsões serão mais diversificadas. O (carro) elétrico, sem dúvida, vai gradualmente crescer, mas a utilização do híbrido, principalmente o com sistema “plug-in”, aquele que você ainda tem um motor a combustão para auxiliar o motor elétrico e carregado na tomada, e o convencional, vão conviver em praticamente todos os mercados por um bom tempo. Nossa visão é que precisamos manter-nos atualizados com todos esses tipos de propulsão. Mas o que será comum em todos eles é a conectividade e a interação do ser humano com a máquina.

O fato de o Mach-E ser produzido em uma das fábricas que a Ford possui no México o aproxima mais do Brasil? A chance de ele ser vendido em nosso país é grande?

Rogelio: inda não temos planos para trazer o Mach-E para o Brasil, mas temos uma vontade enorme disso. O fato de ele ser feito no México é obviamente um facilitador, e como outro bom adicional o Brasil praticamente eliminou as tarifas de importação para carros elétricos, e a distância logística não é tão grande. Contudo, o volume de pedidos para esse carro em outros mercados será muito alto. Por isso, talvez tenhamos que esperar um pouco mais. Nos EUA, o Mach-E será lançado no fim do próximo ano.

Voltando para o nosso mercado, como está a Ford do Brasil? Como andam os planos da renovação de produtos, passando pelo EcoSport, a chegada do Territory, da importação do Escape com motor híbrido? Vamos ter muitos encontros nos próximos meses?

Rogelio: Sim, vamos ter e em breve. O ano ainda não terminou, mas vamos ter muitos encontros. Passamos por um período de reestruturação, de transformação muito grande, porque acreditamos que, no Brasil, o mercado automotivo será muito diferente do que temos hoje. É dessa forma que preparamos a companhia para este novo momento e para termos um modelo de negocio robusto e sustentável daqui pra frente. A alma e o coração do setor automobilístico são seus produtos. A Ford tem hoje uma gama muito interessante de produtos que estão vindo por aí, globalmente e localmente. Vale lembrar que a marca investirá mais de US$ 11 bilhões, até 2022, em novos produtos eletrificados, sejam eles híbridos, plug-in ou elétricos.

É possível nos adiantar alguma coisa sobre essa renovação do EcoSport, que foi um pioneiro no segmento dos SUVs e que praticamente criou esse segmento no Brasil?

Rogelio: Sobre novidades é difícil falar porque não podemos mostrar à concorrência nossos passos devido à alta competição em nosso mercado, mas posso dizer que os SUVs são muito importantes para a Ford. O EcoSport é um ícone e tem coisa boa vindo por aí. No próximo ano chega o Territory, um produto de excelência e que vem com uma base de custo chinês, com projeto e qualidade Ford, importado a princípio. É um SUV que chega com uma conectividade bem diferenciada que vai surpreender os consumidores.

A fábrica de caminhões da Ford, em São Bernardo do Campo (SP), seguiu o cronograma para encerramento de sua produção. Como se deu o fechamento de uma planta tão tradicional para a Ford?

Rogelio: Seguimos exatamente o que havíamos comunicado ao mercado no começo de ano, com toda transparência e estamos ainda explorando a possibilidade de termos um comprador. Esse assunto ainda continua em negociação. Em relação à fábrica, nós encerramos a produção e fizemos gradualmente o desligamento dos funcionários ao longo do ano. O último grupo foi desligado no fim do mês passado dentro de um programa muito bem estruturado com o sindicato, com um nível de recompensa para os trabalhadores, sendo uma das maiores que já foram feitas. O clima, claro, é de tristeza, mas com muita responsabilidade. Produzimos caminhões até o último dia aprazado, com segurança e qualidade, e não tivemos nenhum incidente na fábrica. Foi uma situação triste, mas necessária.

Falando em números de mercado, os resultados que apontam para o fim de 2019 estão dentro do previsto? Se você fosse conjecturar um percentual de crescimento para o ano que vem, qual seria?

Rogelio: Este ano devemos fechar com cerca de 9% de crescimento, mas a grande reflexão e o dever de casa a ser feito é que, desse percentual, 78% deve-se à venda para grandes frotistas. Essa grande dependência ainda deve acontecer em 2020 porque temos ainda uma capacidade ociosa grande, algo em torno de 43%. Com a crise argentina, esta questão se agravou ainda mais porque parte da capacidade que era usada naquela fábrica, não será mais por causa da queda do mercado em nosso país vizinho. Isso representa cerca de 200 mil veículos por ano de queda na produção. Para 2020, portanto, devemos manter o patamar de 9% e ainda seguir com expressiva venda a frotistas, mas há uma incógnita. Apesar dos bons sinais em relação ao real crescimento do PIB para 2020 – inflação baixa e queda da taxa de juros – nós não vimos neste ano a taxa de juros acompanhando a queda da Selic para o consumidor. Esperamos que 2020 seja o ano realmente de uma aceleração maior do PIB (de 2%), que é o que o mercado vem apontando.

Desta forma, se concretizarem esses percentuais de crescimento do PIB, a taxa de juros cairá e o crédito ao consumidor poderá ser facilitado. O que falta para fomentar o mercado automotivo?

Rogelio: Sem dúvida nenhuma, acho que o crescimento do mercado no ano que vem depende de crédito. Não só a oferta dele, mas o custo desse crédito para o cliente. Hoje, está muito alto ainda. Para você financiar um carro, paga-se de 20 a 22% ao ano, quando se tem uma Selic que vai ficar abaixo de 5%. Isso nos preocupa.

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