José Luiz Gandini afirma que não há previsão de quando situação pode se normalizar e avalia que a marca poderia vender mais no Brasil

A Kia já passou por altos e baixos no Brasil. Representada desde o princípio de sua operação pela família Gandini, a marca completa 30 anos de presença no país em 2022.

“Lembro que um dia meu pai chegou com um monte de catálogos debaixo do braço. Só que não dava para entender nada porque estava tudo escrito em coreano. Então a gente foi até o Paraguai porque a Kia já vendia carros lá e dirigimos alguns modelos antes de assinar o contrato. E foi assim que fizemos o primeiro pedido de mil veículos”, lembrou José Luiz Gandini, presidente da Kia Brasil.

Desde então, o executivo passou por momentos de alegria, como o recorde de vendas em 2011, e reveses como o super IPI, mudança imposta pela política industrial Inovar-Auto que fez as vendas da empresa (e de todas as importadoras) despencarem em 2012.

Colocando prós e contras na balança, Gandini se orgulha de ter um ótimo relacionamento com a matriz coreana, grandes resultados no Brasil e afirma que tem muitos motivos para celebrar.


             Kia está presente no Brasil desde 1992

“Foram vários momentos felizes, mas o que mais me alegra é o respeito que conseguimos junto à rede de concessionários. Nós temos um relacionamento maravilhoso e me dou muito bem com todos. Para mim isso é um sinal grande de respeito mútuo e é algo que me orgulha muito”, afirmou.

Em três décadas de presença no país, a Kia já ensaiou produzir veículos no Brasil. Por mais de uma vez a empresa cogitou erguer uma fábrica local, algo que nunca se concretizou – em grande parte, porque a própria matriz da empresa não autorizou o empreendimento. Para Gandini, o cenário atual mostrou que foi melhor assim.

“Eu já quis muito, mas não me deixaram fazer na época e agora não seria o momento. Hoje eu acho que foi até melhor (não ter construído uma planta) por conta de tantos problemas recentes. A Ford saiu daqui, a Mercedes fechou a fábrica (sobre a produção em Iracemápolis, vendida para a Great Wall)… Atualmente os custos são muito altos”.

Crise dos semicondutores derruba vendas, mas eletrificação segue firme


             Recém-lançado, Sportage é o modelo mais procurado pelos clientes

Gandini aproveitou a apresentação do novo Sportage, que foi realizada durante o Brazil Classics Show, evento de carros antigos que conta com o patrocínio da Kia em 2022, para fazer um desabafo.

“A crise bateu para todo mundo. Não dá para dizer que não. Falta produto e a gente não sabe se teremos clientes quando esse problema terminar. Então precisamos ter muito cuidado na hora de comprar. Eu acredito muito na marca e no nosso país, mas precisamos passar logo essa fase de eleições e virar a página para começar a andar de novo. Tem algumas coisas que acontecem aqui que não dá para entender”, diz, citando a intença variação cambial e mudanças abruptas de cenário.

Mesmo diante de um contexto adverso e com uma gama de produtos enxuta (atualmente composta por Stonic, Sportage, Carnival e Bongo), Gandini celebrou o aumento no interesse pelos modelos da Kia.

“Hoje o Sportage lidera a demanda, mas a Carnival está com volumes muito bons. É um carro que vende muito em praças como Rio e São Paulo. O Bongo está indo bem e estamos com um volume próximo ao de 250 unidades trazidas por mês, como acontece com o Sportage. E o Stonic também está com bons números”.


             Niro é aposta da marca para aumentar vendas em 2022

A linha de veículos deve ganhar mais um reforço ainda neste ano. Se nada mudar até lá, o SUV híbrido Niro estreia em setembro. Até o final de 2022, a marca pretende concluir a primeira fase da reformulação de parte da sua rede de concessionárias. A meta é de que 35 revendas adotem a nova identidade visual global da Kia.

Otimista, Gandini estabeleceu a meta de vender de 7 a 8 mil veículos neste ano, contando já com a chegada do Niro – caso concretizado, será um aumento considerável sobre os 5 mil emplacamentos da marca feitos em 2021. Segundo o executivo, a Kia até poderia ter volumes maiores no Brasil, se não fossem os problemas com a falta de componentes na Coreia do Sul.

“Estou animado, mas não será fácil porque não depende da gente. O maior problema hoje é a produção, mas estamos fazendo de tudo. Estou indo para Miami visitar o escritório da Kia para brigar (por mais veículos) porque o mercado está comprador. Felizmente nossos carros caíram no gosto do consumidor”.

“Brasil ainda não está pronto para os elétricos”


             EV6 já roda no Brasil, mas deve chegar apenas em 2023

Para 2023, a empresa já confirmou a estreia de mais dois modelos: o Sorento com propulsão híbrida e o novo Cerato, que deve ser oferecido com motorização turbo.

Já o elétrico EV6 deve estrear apenas no fim do ano que vem. Existe, porém, a possibilidade de o lançamento ser adiado para meados de 2024. “Todo o volume da produção está sendo direcionado para abastecer outros mercados, especialmente na Europa, onde ele está fazendo sucesso”, explicou Gandini.

O executivo também confirmou os planos de lançar uma versão elétrica do Bongo, o qual é definido pelo presidente da Kia como “um produto perfeito” para as grandes cidades.

“Vai vir, sim, mas não sei quando. O Bongo elétrico está pronto e é vendido por lá, só que ainda não pode ser exportado. É perfeito para uma cidade como São Paulo. Então acho que seria um sucesso”, analisou.

Questionado sobre eletrificação, Gandini admitiu que “esse é o caminho natural”. Entretanto, ele acredita que o país ainda não está preparado para migrar para os veículos elétricos.

“Eu ainda não acredito muito no elétrico no Brasil pelo fato de o país ainda não estar preparado neste momento. Tenho certeza que estará no futuro, mas agora não está. O carro precisa ser escravo do motorista, e não o contrário. Se de repente você precisar viajar até o Rio de Janeiro, como você vai fazer isso com um carro elétrico? Não dá para confiar na rede de eletropostos porque você pode chegar até um local e a estação de recarga não está funcionando. O híbrido é uma saída maravilhosa porque você tem a opção de colocar gasolina e andar. Mas eu acho que um dia nós vamos chegar lá”.

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