Antes da última BMW i3 a deixar sair da linha de produção em Leipzig, na Alemanha, sequer esfriar, a marca irmã Mini já está lançando o que deve se tornar o novo elétrico de entrada do grupo. A companhia está começando com este veículo, o Mini Aceman, que também revela uma nova direção de design para a marca.
Ele não apenas é o primeiro modelo crossover totalmente elétrico da empresa, mas também o primeiro Mini a ser construído em uma arquitetura dedicada à categoria. Isso significa que não há compromissos relacionados a enfiar motores elétricos e copiosas quantidades de cabos em espaços feitos para hospedarem um maquinário à combustão. Esse fator o separa do Mini Electric de 2020 (chamado Cooper SE em outros territórios), que foi construído em um molde adaptado de um modelo movido por motor à combustão interna. A arquitetura elétrica, assim como o carro, serão feitos não na Alemanha, nem no Reino Unido, mas na China, pela Great Wall Motors – outra novidade para a marca.
A Mini diz que o conceito Aceman, SUV crossover revelado nesta terça (26) em Dusseldorf, é 80% fiel ao design que irá para produção final e chegará às ruas em 2024. O veículo ficará em algum lugar entre as linhas Cooper e Countryman, mesmo que, com uns 4 metros de largura e 2 metros de altura, ele tenha praticamente o tamanho do Countryman (o que sugere que o esportivo possa muito bem crescer em uma futura reedição). Curiosamente, o visual corpulento e agressivo do Aceman faz o carro parecer maior que de fato é.
A Mini, que vendeu 302 mil carros mundialmente em 2021, espera que metade dos veículos comercializados por ela até 2027 sejam elétricos. A fabricante planeja ainda introduzir seu último modelo movido a combustíveis fósseis em 2025.
O design ‘caixa dupla’ do Aceman, com as rodas mais próximas da frente e traseira, dá mais espaço para passageiros e bagagem sem exigir dimensões maiores – apesar de ser um quatro portas com porta-malas de tamanho razoável e cinco assentos. Vidro embutido nos painéis no corpo do veículo melhoram sua aerodinâmica, enquanto os ultrapassados detalhes cromados dão – ainda bem – lugar a um visual mais minimalista. Uma base larga, arcos encorpados ao redor das rodas – também maiores – e um rack customizado no teto completam o feeling de crossover do conceito
Como é o caso de muitos elétricos, a grade dianteira do Aceman é fechada, já que resfriamento não é necessário para motores à eletricidade. Ao invés dela, a Mini adicionou uma matriz de luzes LED integrada à seção superior que pode ser animada, aparentemente, por nenhuma razão senão ser fisicamente possível e útil para “dar boas vindas aos ocupantes”. Na verdade, as luzes são um dos grandes destaques do carro, já que a Mini desistiu dos clássicos faróis redondos e optou por formas mais angulares que acompanham a silhueta do veículo.
As lanternas frontais e traseiras do Aceman também são compostas de LEDs. Isso significa que, ao menos no caso do conceito, os padrões de luz dos faróis podem ser modificados a depender da necessidade ou desejo do usuário. Mas este é um elemento dessa versão que não está confirmada para a edição final do modelo, embora a Mini esteja aparentemente interessada em manter essa função.
Como vem se tornando mais comum no design de automóveis, o interior do novo conceito elétrico da Mini emprega materiais ecológicos. Neste caso, trata-se de superfícies cobertas por uma trama de tecidos reciclados desenvolvida inicialmente como parte do modelo conceito Strip Paul Smith do ano passado, que não havia sido pensado para as estradas. O volante de veludo verde escuro é um sucesso em particular. O painel aparentemente foi feito para lembrar um soundbar, se estendendo pela largura do interior livre de couro. Mas a suposta estrela do Aceman é o novo display circular OLED que funciona como tela central.
A interface de usuário da versão final do veículo vai se basear na nova versão do Mini OS, que pela primeira vez foi construído sobre o sistema Android Open Source Project. A fabricante quer usar essa caixa de ferramentas para criar “modos de experiência”, como o “Pop-Up”, que sugere referências e destinos dependendo das prioridades que o usuário configura, como “aventura”, restaurantes, ou lugares que estão bombando. É esperar para ver se essa navegação contextualizada chegará ao modelo final, já que uma função dessas precisa ser precisa e útil para não se tornar quase imediatamente irritante.
Também parece improvável que um sistema de projeção embutido no interior, programado para jogar imagens em movimento – como um mapa de contornos bem definidos ou imagens de nuvens espalhadas sobre todo o painel – chegue ao produto final.
O segundo carro elétrico da Mini será parte da mesma plataforma que o futuro Mini “clássico” de três portas, que deve chegar às ruas ano que vem, também com uma completa repaginada visual. A empresa disse que seu novo três portas será lançado em dois modelos: o Cooper E e o SE. O E provavelmente terá 135 kW de potência e 300 km de autonomia, enquanto o SE deve apresentar 160 kW e 400 km de autonomia. Já que o Aceman será construído na mesma plataforma, é possível estimar que sua performance será ao menos similar a este modelo.
Quanto à tecnologia de direção autônoma, a Mini não revela que capacidades estão planejadas para o Aceman, assim como o preço da versão comercial, ou mesmo se ele terá ou não tração nas quatro rodas.
Levando em consideração que o Mini Electric tem uma autonomia entre 200 e 232 km, estamos falando de um aumento considerável. Mas infelizmente ela fica abaixo da marca de 480 km buscada por muitos compradores de elétricos, especialmente em um cenário no qual a infraestrutura de recarga continua inadequada em muitos países. Além disso, já que esse carro não deve ser lançado até 2024, um veículo elétrico sub-480 km poderá parecer uma proposta de mercado ainda mais estranha. Afinal, o Soul elétrico da Kia tem um alcance de bateria de 644 km na cidade e 450 km em uso misto – e ele foi lançado em 2020.
Ainda que o Countryman seja o segundo maior sucesso da marca depois de seu hatchback de três portas, se o Aceman acabar adotando um sistema 4×4, pode muito bem ser que ele chegue para substituir o esportivo no trabalho que nunca realmente foi capaz de concretizar: a de ser um SUV deliberadamente urbano. Caso seja bem-sucedido, há espaço para que a Mini transforme o design do Countryman em algo finalmente mais apropriado ao seu nome: um utilitário completamente elétrico mais confortável fora das cidades.
“Este conceito é uma prévia de tudo que virá depois dele. Seja qual modelo for o seguinte, ele adotará algumas páginas deste novo livro de design”, diz Adrian van Hooydonk, diretor de design da BMW Group. “O Countryman foi ou não bem-sucedido? Nós achamos que sim. Está vendendo bem em todo mundo. Mas temos recebido críticas interessantes. Alguns mercados dizem que o carro é grande demais. Outros, que é muito pequeno. Então a meta agora é irmos com dois SUVs crossovers: este Aceman e o futuro Countryman. É difícil agradar todos os territórios com um único veículo.”
*Leia a matéria original na Wired