Em 2008, com o lançamento do Tesla Roadster, o mercado automobilístico entrava definitivamente na “onda elétrica”. Mais de 14 anos depois, com conceitos como ESG em alta e a disparada de preços de combustíveis fósseis, os modelos elétricos seguem ganhando força.

Só o Brasil já conta com mais de 100 opções de carros elétricos, entre híbridos e 100%, atraindo uma parcela cada vez maior de clientes, principalmente, com o surgimento de opções mais “em conta”.

A chegada ao mercado do E-JS1 da JAC Motors, Renault Kwid e o iCar da Caoa Chery — ambos custando em torno de R$ 150 mil — fez com que muitos motoristas começassem a pensar na ideia de ter um elétrico na garagem, uma vez que a maioria dos modelos passam dos R$ 200 mil.

Como toda novidade, são muitas as dúvidas sobre custos, manutenção e até como carregar e manter um carro deste tipo. Abaixo seguem algumas dicas importantes:


JAC E-JS1
Onde carregar o carro elétrico?

A quantidade de pontos de recarga tem aumentado consideravelmente, mas ainda segue concentrada nos grandes centros urbanos. Levantamento recente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) apontava que dez estados brasileiros não contavam com nenhuma dessas estruturas.

Neste grupo estão, por exemplo, todos os estados da região Norte, além de Sergipe, Maranhão e Mato Grosso do Sul. O país possui ao menos 1.250 pontos públicos de recarga para modelos elétricos — 47% deles no estado de São Paulo.

Em São Paulo, os eletropontos estão espalhados por shoppings, mercados e prédios comerciais. Porém, durante os testes realizados pela reportagem, houve grande dificuldade em carregar os veículos porque a maioria deles não são de carga rápida — são necessárias 7 horas para o veículo ficar totalmente carregado nestas estruturas.

A dica é: Organize-se para carregar o veículo sempre tendo um local fixo para isso. É preferível deixar o carro sendo carregado ao longo da noite (em casa) ou em algum lugar público no período em que você estiver trabalhando, por exemplo.


Quanto custa ter um carregador em casa?

Proprietários de carro elétrico podem carregar o veículo em casa. A maioria dos modelos já são vendidos com um adaptador que conecta o carro em uma tomada 220 volts — a mesma disponível na maioria das casas.

Essa opção, porém, faz um carregamento muito lento, que pode demorar mais de 10h para ir de 0 a 100%. Nesse caso, é producente deixar o automóvel carregando durante a noite para ter carga suficiente para se locomover no dia seguinte.

Quem preferir instalar em casa um carregador elétrico, chamado de Wallbox, é preciso investir ao menos R$ 5 mil. O mercado conta com diferentes opções que, inclusive, oferecem quantidades diferentes de energia e diminuem o tempo de recarga. O preço desses aparelhos mais robustos pode passar dos R$ 10 mil.

A instalação exige mão de obra especializada porque será preciso um novo ponto de energia no quadro de luz da residência. Se você mora em prédio residencial, antes de iniciar a instalação do equipamento, é preciso solicitar autorizações ao condomínio com supervisão do síndico.


Renault KWID E-Tech
Qual o impacto na conta de energia elétrica?

Além do preço em si do carro elétrico, outro custo que deixa o motorista preocupado é com a recarga de energia elétrica. A boa notícia é: A economia pode ser grande em relação ao carro a combustão.

O valor exato depende da região em que você mora porque cada estado possui um custo diferente de energia elétrica. Considerando uma taxa de R$ 0,92 KWh (valor médio cobrado em São Paulo), os modelos mais baratos, como o E-JS1 e o Kwid elétrico, custam cerca de R$ 30 para carregamentos que vão de 0 a 100%.

Importante lembrar: O cálculo feito não considera as variações de bandeiras tarifárias.

Ambos os veículos usados no exemplo acima (E-JS1 e o Kwid elétrico) oferecem uma autonomia de cerca de 300 Km, valor abaixo dos modelos a combustão mais vendidos do país, como HB20, da Hyundai, que pode rodar quase 600 Km com um tanque cheio de gasolina.

Mesmo assim, pensar que um tanque cheio de um carro a combustão pode custar mais de R$ 300, mesmo sendo necessário duas cargas completas em um carro elétrico para obter a mesma autonomia, o valor ainda é bem satisfatório.

Quem tem carro elétrico ainda tem outra vantagem: Locais com carregamento em shoppings, mercados e estradas costumam não cobrar pelo serviço. A equipe de reportagem fez recargas em um shopping e, quando dirigiu em plena estrada, fez uma parada em uma concessionária da JAC, que também aceita veículos de outras marcas.

A dica é: Combine o carregamento em casa com o realizado em pontos públicos. Assim, você vai conseguir reduzir ainda mais seu custo mensal, que pode chegar a zero se você utilizar apenas os locais fora de casa.


Os custos com manutenção são caros?

Outra vantagem dos carros elétricos é com o custo de manutenção.

Por não ter câmbio, radiador, filtro de ar, filtro de óleo, filtro de combustível, sistema de escapamento, correias, velas, catalisador, entre outros componentes, a manutenção desse tipo de veículo é muito menor, podendo chegar a 50% do valor de um carro a combustão.

Por outro lado, existe um risco sobre a bateria. Apesar de muitas vezes ser coberto pela garantia, um problema na bateria pode elevar os gastos. A vida útil de uma bateria pode atingir 10 anos.

Caso a bateria dê algum problema ou estrague, a única solução é trocá-la. Vale lembrar que a bateria é um dos itens que mais ajuda a deixar um veículo elétrico caro hoje e tem sido o foco de atenção das fabricantes que buscam meios para barateá-la.


Caoa Chery iCar
Carro elétrico desvaloriza mais rápido?

Números recentes da consultoria KBB, divulgados no Prêmio Melhor Revenda 2022, mostram que a desvalorização dos carros elétricos não é maior do que a de outros veículos.

Veja um exemplo: O elétrico BMW I3 ficou na 19ª posição entre 94 carros avaliados no quesito desvalorização, perdendo 6,6% de seu valor em um ano de uso. O modelo elétrico é o que atingiu a posição mais alta.

Alguns modelos a combustão perderam mais valor, como o Renault Stepway, que caiu 15,77%; o Volkswagen Saveiro perdeu 11,94%, e o Toyota Corolla, 9,77%.


Vale a pena ter um carro elétrico?

Quem pensa em comprar um veículo elétrico, precisa se planejar para carregar o automóvel. Como dito anteriormente, depender só de carregadores em locais como shoppings e mercados não é viável devido à lentidão para se obter uma bateria cheia.

É preciso ter uma opção para carregar em casa ou enquanto está trabalhando, já que mesmo que o carregador também seja do modelo mais lento, nessas situações, é possível deixar o carro pelo menos 4 horas neste processo.

Em relação ao custo, apesar do preço bem maior de entrada, a economia sobre manutenção e abastecimento acaba tornando o carro elétrico muito mais atrativo — no médio e longo prazos, claro.

O valor desembolsado por cada motorista ao longo da utilização do carro vai variar, tanto pelo modo de usar o veículo quanto pela região em que está (devido ao preço da energia).

Outro ponto importante é avaliar qual carro adquirir. As novas opções mais em conta de elétricos, em torno de R$ 150 mil, podem ser atrativas para quem tem bolso para isso, mas existe a questão dos acessórios e do acabamento.

Avalie se é melhor comprar um carro de entrada elétrico, de R$ 150 mil, que não tenha muitos extras ou continuar com um veículo a combustão muito mais completo em relação aos acessórios.

Uma coisa é certa: Se há 14 anos, quando surgiram os primeiros modelos elétricos, muita gente questionava se a categoria iria realmente se manter no mercado, hoje é bem claro que esse é um movimento que não tem como pisar no freio.

[Por: Rodrigo Tolotti | InfoMoney]

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