quem ressuscitou o carro eletrico venho pensando nisso desde que iniciei a serie sobre os desafios que o carro eletrico tera que superar nos proximos 10 anos para que possa substituir plenamente os carros movidos pela combustao interna de onde veio afinal a ideia de desenterrar do passado os carros eletricos e tentar faze los funcionar plenamente mais uma vez teria sido a tecnologia de baterias que passou por uma revoluçao incrivel nos ultimos 30 anos foram os proprios fabricantes motivados pela realidade da baixa qualidade do ar nas metropoles modernas a demanda do publico em cinco minutos eu percebi que nao sabia responder esta pergunta por que a soluçao e eletrica por que nao filtros mais eficientes ou combustiveis com saldo zero como o etanol ou mesmo a impressionante celula de hidrogenio que tambem viabiliza o carro eletrico por que tem que ser um carro movido a pilha e uma resposta que parece facil de se encontrar na verdade ela e quase evidente o carro eletrico movido a baterias ja existe desde o seculo 19 como temos o problema das mudanças climaticas a meta de reduçao de emissoes a missao de limpar o ar nas grandes cidades e reduzir problemas respiratorios usar carros que nao soltam fumaça de combustao pareceu a soluçao mais pratica os motores eletricos e as baterias ja estavam por ai — eles sempre foram usados em onibus caminhoes urbanos bondes e carros de serviço bastou juntar tudo isso com tecnologias mais avançadas e colocar em um carro na verdade isso ja havia acontecido nos anos 1970 quando a opep decidiu manipular o preço do petroleo e fez o preço da gasolina disparar na epoca pensava se em reduzir a dependencia do petroleo — o mesmo tipo de decisao que resultou no carro a alcool brasileiro nos eua as preocupaçoes com a qualidade do ar especificamente na california ja haviam resultado em carros eletricos conceituais que materializavam uma visao para o futuro estas sim foram adaptaçoes do powertrain eletrico que ja existia em outros tipos de veiculos mas a ideia do carro eletrico como resposta para as questoes ambientais contemporaneas estas que temos hoje nao começou ali tudo começou nos anos 1970 quando a preocupaçao sobre o petroleo foi superada pela preocupaçao com a qualidade do ar o nascimento da sustentabilidade foi no final dos anos 1970 que os estudos sobre uma provavel catastrofe climatica começaram a ganhar visibilidade mas um deles se destacou sobre todos os outros por nao ser meramente alarmista mas porque tambem trazia dados projeçoes e propostas de açao para o futuro era o estudo a time do choose publicado pela ford foundation e supervisionado por simon david freeman um engenheiro que fez carreira nos serviços publicos de energia eletrica e proteçao ambiental dos eua o estudo versa sobre as questoes ambientais como a atividade economica afeta a qualidade do ar e o uso de recursos energeticos e propoe açoes para contornarmos estas questoes no futuro foi nele que surgiu conceito de economia sustentavel — sob o nome zero energy growth ou crescimento zero de energia — que propoe um modelo economico que visa a reduçao do consumo de energia e sua manutençao em niveis reduzidos trazendo simulaçoes e propostas para evitar o risco de estagnaçao economica uma vez que o uso de energia esta intimamente ligado ao desenvolvimento da economia a ideia de substituir a matriz energetica do transporte aparece em uma projeçao para os anos 1980 e para o ano 2000 na pagina 21 na qual a nota de rodape diz o seguinte se metade do trafego urbano e metade do trafego ferroviario estiverem eletrificados no ano 2000 6 quatrilhoes de btu de demanda direta de combustivel para o transporte seriam substituidos por 2 1 quatrilhoes de btu de eletricidade com a demanda total de combustiveis permanecendo essencialmente inalterada ou seja segundo as projeçoes baseadas nos dados obtidos em 1973 mesmo com o crescimento da frota ate o ano 2000 se 50% dos carros fossem eletricos o consumo de combustiveis seria o mesmo de 1973 devido a geraçao e eficiencia dos motores eletricos e essa projeçao aparentemente embasou a recomendaçao do estudo sobre incentivos a automoveis mais eficientes pelo encarecimento dos veiculos menos eficientes — ele aparece na pagina 485 sob o capitulo comentarios do conselho consultivo para conter a taxa de crescimento do uso de energia na proxima decada em 2% ou menos o projeto recomenda politicas publicas que ainda permitirao ao consumidor liberdade de escolha carros com baixa quilometragem ainda podem ser comprados mas novas taxas de impostos encorajariam a maioria de nos a comprar veiculos eficientes ainda nos anos 1970 simon david freeman foi nomeado presidente da tennessee valley authority a companhia eletrica da regiao do vale do rio tennessee pelo presidente americano jimmy carter ali freeman teve um papel ativo na divulgaçao da tecnologia de veiculos eletricos visando promover uma corrida com modelos experimentais entre os atores paul newman e robert redford — pense neles como leonardo di caprio e brad pitt atualmente em termos de celebridade a ideia foi engavetada quando freeman se deu conta de que iria promover uma tecnologia que nao estava disponivel comercialmente [caption id= attachment_324850 align= aligncenter width= 1228 ] s david freeman no fim dos anos 1990[/caption] depois do seu periodo na tennessee valley authority freeman continuou atuando como conselheiro de recursos energeticos para diversos orgaos publicos americanos — como os departamentos de energia de los angeles e nova york alem da administraçao de portos de los angeles — sempre adotando a politica de conservaçao de energia em vez de crescimento como o estudo da ford foundation havia proposto freeman foi fundamental para a disseminaçao do conceito zero energy growth entre as autoridades de energia dos eua como consequencia seu trabalho tambem influenciou os orgaos de proteçao ambiental como a propria agencia de proteçao ambiental dos eua epa onde trabalhava quando supervisionou o estudo da ford foundation possibilidade a mae da necessidade sabe por que o concorde morreu nao foi por causa do custo de operaçao ou por causa das normas de ruido ou mesmo sobre as restriçoes de voo continental o concorde morreu porque nao era mais necessario antes da invençao do concorde era natural que as viagens de negocios da america ate a europa durassem entre oito e 14 horas ninguem contava que o diretor executivo estabelecido em nova york estivesse em paris em menos de 24 horas mas quando o concorde apareceu ele poderia acordar em nova york tomar um cafe da tarde em paris e voltar para o jantar em nova york entao veio a necessidade de se estar do outro lado do atlantico no mesmo dia nao eram turistas os principais passageiros do concorde mas os executivos mas entao surgiu a revoluçao tecnologica que estamos vivendo emails ligaçoes de audio pela internet video conferencias certificaçoes digitais sistemas integrados globalmente por que alguem precisaria estar presencialmente do outro lado do atlantico em tres horas se agora aquela reuniao ou assinatura poderia ser resolvida em 40 minutos em uma sala com uma rede privada e tecnologia de segurança de ponta ao mesmo tempo deixou de ser razoavel aguardar mais de um periodo do horario comercial por uma resposta sem que um prazo maior seja informado ou negociado quando alguem nao responde o email pela manha espera se receber o retorno a tarde e assim criamos nossas necessidades se e possivel eu quero o carro eletrico moderno — e sua necessidade — surgiu dessa forma alguem mostrou que era possivel e entao alguem passou a querer a precisar dele quem começou isso foi a gm em 1987 naquele ano aconteceu a primeira ediçao do world solar challenge o desafio solar mundial aquela famosa corrida de carros ultra eficientes movidos por energia solar que cruza a australia de norte a sul a cada dois anos a gm foi uma das fabricantes que decidiu participar da corrida e sendo a gigante que e venceu esta ediçao inaugural [caption id= attachment_324852 align= aligncenter width= 1351 ] gm sunraycer o carro solar que venceu a corrida[/caption] animado com o sucesso do seu carro eletrico carros solares sao eletricos caso voce nao saiba; apenas a captaçao de energia e solar o entao presidente da gm na epoca roger smith perguntou a equipe se seria possivel fazer um carro eletrico viavel comercialmente a ideia e que ele fosse uma alternativa para ir e voltar do trabalho — o que os americanos chamam de daily commute — contanto que sua rotina nao tivesse uma distancia maior que 120 milhas por dia [caption id= attachment_324853 align= aligncenter width= 1346 ] o sunraycer cruzando a australia[/caption] a equipe da gm tinha um engenheiro eletronico chamado alan cocconi que desenvolveu em seu laboratorio garagem um sistema de era capaz de controlar a frequencia do sinal eletrico enviado das baterias para o motor eletrico permitindo que a entrega de energia fosse sempre suficiente para a demanda de potencia do carro pense como o mapa de injeçao e igniçao mas em vez de fluxo de combustivel e centelha estamos falando apenas de frequencia de sinal eletrico na pratica era um amplificador de tres canais que permitiu que o carro eletrico funcionasse como um carro de combustao interna em termos de controle de aceleraçao esse e o componente chave do carro eletrico moderno conhecido simplesmente como controlador foi ele que diferenciou o carro eletrico moderno de todos os eletricos do passado com o controlador de cocconi a gm conseguiu fazer um carro eletrico funcional e o levou ao salao de los angeles de 1990 seu nome era gm impact e ele era descrito pela equipe da gm como um carro parecido com o corvette de dois lugares estiloso e com grande potencial comercial o problema e que o carro era uma aposta ousada de roger smith tanto que ele sequer sabia se havia demanda para um carro eletrico — o executivo de marketing john r dabels foi encarregado de descobrir tudo o que era necessario para vender um carro eletrico ao grande publico nessa missao de despertar o interesse pelo carro eletrico muita gente ficou empolgada com a possibilidade de se ter um carro que e reabastecido na tomada da garagem e que nao faz barulho e que e super rapido e moderno entre os entusiasmados estava o california air resources board o conselho de recursos do ar da california conhecido pela sigla carb o mesmo orgao que criou a primeira legislaçao de controle de emissoes para os carros do ocidente em 1968 — um processo que culminou na primeira morte do muscle car e na invasao dos carros euro asiaticos aos eua nos anos 1970 aquela altura o carb ja estava atuava sob o conceito de conservaçao de energia de economia sustentavel e se a toda poderosa gm havia feito um carro eletrico e pensava em coloca lo no mercado em breve significava que o carro eletrico proposto no estudo da ford foundation finalmente era possivel ao menos sob os olhos dos burocratas do carb o resultado foi que antes mesmo de a gm colocar o impact no mercado sem mesmo saber se havia demanda pelos eletricos o carb pressionou os legisladores da california para aprovar uma lei que obrigava os fabricantes a vender carros eletricos na california a lei aprovada em 1990 se chamava zero emission vehicle mandate e previa que em 1998 2% dos carros vendidos na california deveriam ter emissao zero subindo para 5% em 2001 e 10% em 2003 se o carro eletrico e possivel ele pode ser necessario a gm seguiu em frente com seu plano de colocar o gm impact no mercado e em 1996 o lançou como ev 1 vendido somente no modelo de leasing no qual os clientes teriam de devolver o carro ao final do contrato segundo os executivos da gm foram investidos mais de us$ 2 bilhoes entre o desenvolvimento do carro criaçao da infra estrutura de recarga e marketing deste orçamento us$ 1 25 bilhao eram incentivos do governo federal concedidos devido a novidade tecnologica https //www youtube com/watch v=wodtinlvlb8 foi justamente o ev 1 que consolidou o carro eletrico como uma soluçao para a questao ambiental a demanda pelo carro e toda a sua campanha promocional foi baseada no fato de ele ser ecologicamente correto as pessoas gostavam dele porque ele era rapido era moderno e acima de tudo nao fazia barulho nem soltava fumaça o publico do ev 1 portanto foi formado inicialmente por ambientalistas pessoas que viram no carro uma forma de continuar sua rotina normalmente sem prejudicar a qualidade do ar o problema e que o ev 1 era um programa experimental ainda que fosse comercial a gm achou que poderia fazer muito dinheiro saindo na frente nessa corrida dos eletricos mas ao longo do processo percebeu que o negocio talvez fosse inviavel paralelamente ao projeto ev 1 a gm e as demais fabricantes — aquela altura todas com veiculos eletricos como mandava a legislaçao de 1990 — começaram a investir nas pesquisas com celulas de hidrogenio apostando nesta tecnologia como uma substituta limpa para os carros de combustao interna com o ano 2001 se aproximando e a baixa demanda por carros eletricos os fabricantes começaram a pressionar o legislativo californiano a extinguir a lei alguns legisladores acharam que era bravata das fabricantes e pressionaram para que os prazos fossem mantidos em uma troca de desafios de ambas as partes no fim das contas a lei foi derrubada em 2003 depois de lançar uma segunda geraçao do ev 1 e atualiza lo com as promissoras baterias de nimh — as mesmas usadas ate hoje pelos hibridos e eletricos os prazos dos contratos de leasing se encerraram e a gm achou melhor recolher os carros sem deixar um sucessor os motivos nunca foram esclarecidos — o que levou a uma teoria conspiratoria sobre a gm ter matado o carro eletrico por pressao das petroliferas e sujeitos ocultos que e explorada no documentario quem matou o carro eletrico de 2006 https //vimeo com/25450071 analisando a historia em 2022 com o devido distanciamento temporal para esfriar o calor da discussao parece pouco provavel que a gm tivesse se auto sabotado matando um projeto com potencial de viabilidade e uma suposta demanda comercial apesar da demanda e possivel que ele fosse inviavel devido ao custo de reposiçao de baterias a gm tambem se recusou a vender os carros apos o encerramento do contrato de leasing o que alimentou a teoria conspiratoria mas e muito provavel que eles so estivessem evitando futuros problemas legais e principalmente impedindo que o carro caisse nas maos da concorrencia naquele mesmo ano de 2003 quando os carros foram recolhidos e sucateados — alguns foram enviados a museus e universidades sem motor — elon musk iniciou a tesla para atender esta aparente demanda por veiculos eletricos cinco anos depois em 2008 a questao climatica foi novamente colocada em pauta com o documentario uma verdade inconveniente agora nao mais preocupada com o uso de recursos energeticos e qualidade do ar e a saude publica mas abordando o impacto que a economia nao sustentavel estava causando no planeta como um todo [caption id= attachment_324854 align= aligncenter width= 1400 ] temos que salvar o planeta al gore ou nunca [/caption] o documentario teve um grande impacto no publico e colocou a pauta ambientalista na discussao publica e a enraizou na cultura global com isso o publico passou a pressionar seus representantes politicos e as agencias de proteçao ambiental e legisladores de todo o mundo passaram a discutir regras mais rigidas sobre as emissoes do transporte foi quando o carro eletrico ganhou sua terceira chance com vendas em alta e investimentos bilionarios da industria no desenvolvimento destes carros eles serao a unica alternativa disponivel a partir de 2035 nos eua e na uniao europeia enquanto outros paises discutem prazos semelhantes para forçar a substituiçao dos veiculos emissores de gases como proposto pelo estudo a time do change esta materia e uma amostra do nosso conteudo exclusivo que foi publicada aberta como um presente para voce provar um pouco do que produzimos diariamente para os nossos assinantes e flatouters se voce gostou da leitura escolha seu plano e torne se um assinante alem das materias exclusivas voce tambem tem acesso ao grupo secreto plano flatouter descontos com empresas parceiras para detailing compras de peças e acessorios acesso exclusivo aos eventos para flatouters alem de vantagens nos sorteios do goodguys [fo form plans] leia mais https //flatout com br/os desafios do carro eletrico parte 1 o preco/ https //flatout com br/os desafios do carro eletrico parte 2 as baterias/
Quem ressuscitou o carro elétrico? Venho pensando nisso desde que iniciei a série sobre os desafios que o carro elétrico terá que superar nos próximos 10 anos para que possa substituir plenamente os carros movidos pela combustão interna.
De onde veio, afinal, a ideia de desenterrar do passado os carros elétricos e tentar fazê-los funcionar plenamente mais uma vez? Teria sido a tecnologia de baterias, que passou por uma revolução incrível nos últimos 30 anos? Foram os próprios fabricantes, motivados pela realidade da baixa qualidade do ar nas metrópoles modernas? A demanda do público?
Em cinco minutos eu percebi que não sabia responder esta pergunta: por que a solução é elétrica? Por que não filtros mais eficientes ou combustíveis com saldo zero, como o etanol? Ou mesmo a impressionante célula de hidrogênio, que também viabiliza o carro elétrico? Por que tem que ser um carro movido a pilha?
É uma resposta que parece fácil de se encontrar. Na verdade, ela é quase evidente: o carro elétrico movido a baterias já existe desde o século 19. Como temos o problema das mudanças climáticas, a meta de redução de emissões, a missão de limpar o ar nas grandes cidades e reduzir problemas respiratórios, usar carros que não soltam fumaça de combustão pareceu a solução mais prática.
Os motores elétricos e as baterias já estavam por aí — eles sempre foram usados em ônibus, caminhões urbanos, bondes e carros de serviço bastou juntar tudo isso com tecnologias mais avançadas e colocar em um carro. Na verdade isso já havia acontecido nos anos 1970, quando a OPEP decidiu manipular o preço do petróleo e fez o preço da gasolina disparar. Na época, pensava-se em reduzir a dependência do petróleo — o mesmo tipo de decisão que resultou no carro a álcool brasileiro.
Nos EUA, as preocupações com a qualidade do ar, especificamente na Califórnia, já haviam resultado em carros elétricos conceituais, que materializavam uma visão para o futuro. Estas sim foram adaptações do powertrain elétrico que já existia em outros tipos de veículos.
Mas a ideia do carro elétrico como resposta para as questões ambientais contemporâneas, estas que temos hoje, não começou ali. Tudo começou nos anos 1970, quando a preocupação sobre o petróleo foi superada pela preocupação com a qualidade do ar.
O nascimento da sustentabilidade
Foi no final dos anos 1970 que os estudos sobre uma provável catástrofe climática começaram a ganhar visibilidade, mas um deles se destacou sobre todos os outros por não ser meramente alarmista, mas porque também trazia dados, projeções e propostas de ação para o futuro.
Era o estudo “A Time do Choose”, publicado pela Ford Foundation e supervisionado por Simon David Freeman, um engenheiro que fez carreira nos serviços públicos de energia elétrica e proteção ambiental dos EUA. O estudo versa sobre as questões ambientais, como a atividade econômica afeta a qualidade do ar e o uso de recursos energéticos e propõe ações para contornarmos estas questões no futuro.
Foi nele que surgiu conceito de economia sustentável — sob o nome “Zero Energy Growth”, ou “crescimento zero de energia” —, que propõe um modelo econômico que visa a redução do consumo de energia e sua manutenção em níveis reduzidos, trazendo simulações e propostas para evitar o risco de estagnação econômica, uma vez que o uso de energia está intimamente ligado ao desenvolvimento da economia.
A ideia de substituir a matriz energética do transporte aparece em uma projeção para os anos 1980 e para o ano 2000 na página 21, na qual a nota de rodapé diz o seguinte:
“Se metade do tráfego urbano e metade do tráfego ferroviário estiverem eletrificados no ano 2000, 6 quatrilhões de Btu de demanda direta de combustível para o transporte seriam substituídos por 2,1 quatrilhões de Btu de eletricidade, com a demanda total de combustíveis permanecendo essencialmente inalterada.”
Ou seja: segundo as projeções baseadas nos dados obtidos em 1973, mesmo com o crescimento da frota até o ano 2000, se 50% dos carros fossem elétricos, o consumo de combustíveis seria o mesmo de 1973 devido à geração e eficiência dos motores elétricos.
E essa projeção, aparentemente, embasou a recomendação do estudo sobre incentivos a automóveis mais eficientes pelo encarecimento dos veículos menos eficientes — ele aparece, na página 485, sob o capítulo “Comentários do Conselho Consultivo”:
“Para conter a taxa de crescimento do uso de energia na próxima década em 2% ou menos, o Projeto recomenda políticas públicas que ainda permitirão ao consumidor liberdade de escolha. Carros com baixa quilometragem ainda podem ser comprados, mas novas taxas de impostos encorajariam a maioria de nós a comprar veículos eficientes.”
Ainda nos anos 1970, Simon David Freeman foi nomeado presidente da Tennessee Valley Authority, a companhia elétrica da região do vale do Rio Tennessee, pelo presidente americano Jimmy Carter. Ali, Freeman teve um papel ativo na divulgação da tecnologia de veículos elétricos, visando promover uma corrida com modelos experimentais entre os atores Paul Newman e Robert Redford — pense neles como Leonardo di Caprio e Brad Pitt atualmente, em termos de celebridade. A ideia foi engavetada quando Freeman se deu conta de que iria promover uma tecnologia que não estava disponível comercialmente.
Depois do seu período na Tennessee Valley Authority, Freeman continuou atuando como conselheiro de recursos energéticos para diversos órgãos públicos americanos — como os departamentos de energia de Los Angeles e Nova York, além da administração de portos de Los Angeles —, sempre adotando a política de conservação de energia em vez de crescimento, como o estudo da Ford Foundation havia proposto.
Freeman foi fundamental para a disseminação do conceito Zero Energy Growth entre as autoridades de energia dos EUA. Como consequência, seu trabalho também influenciou os órgãos de proteção ambiental, como a própria Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), onde trabalhava quando supervisionou o estudo da Ford Foundation.
Possibilidade, a mãe da necessidade
Sabe por que o Concorde morreu? Não foi por causa do custo de operação ou por causa das normas de ruído ou mesmo sobre as restrições de voo continental. O Concorde morreu porque não era mais necessário.
Antes da invenção do Concorde era natural que as viagens de negócios da América até a Europa durassem entre oito e 14 horas. Ninguém contava que o diretor executivo estabelecido em Nova York estivesse em Paris em menos de 24 horas. Mas quando o Concorde apareceu, ele poderia acordar em Nova York, tomar um café da tarde em Paris e voltar para o jantar em Nova York. Então veio a necessidade de se estar do outro lado do Atlântico no mesmo dia. Não eram turistas os principais passageiros do Concorde, mas os executivos.
Mas então surgiu a revolução tecnológica que estamos vivendo. Emails, ligações de áudio pela internet, vídeo-conferências, certificações digitais, sistemas integrados globalmente. Por que alguém precisaria estar presencialmente do outro lado do Atlântico em três horas, se agora aquela reunião ou assinatura poderia ser resolvida em 40 minutos em uma sala com uma rede privada e tecnologia de segurança de ponta?
Ao mesmo tempo, deixou de ser razoável aguardar mais de um período do horário comercial por uma resposta sem que um prazo maior seja informado ou negociado. Quando alguém não responde o email pela manhã, espera-se receber o retorno à tarde. E assim criamos nossas necessidades: se é possível, eu quero.
O carro elétrico moderno — e sua necessidade — surgiu dessa forma: alguém mostrou que era possível, e então alguém passou a querer, a precisar dele.
Quem começou isso foi a GM, em 1987. Naquele ano aconteceu a primeira edição do World Solar Challenge, o “Desafio Solar Mundial”, aquela famosa corrida de carros ultra-eficientes movidos por energia solar, que cruza a Austrália de Norte a Sul a cada dois anos. A GM foi uma das fabricantes que decidiu participar da corrida e, sendo a gigante que é, venceu esta edição inaugural.
Animado com o sucesso do seu carro elétrico (carros solares são elétricos, caso você não saiba; apenas a captação de energia é solar), o então presidente da GM na época, Roger Smith, perguntou à equipe se seria possível fazer um carro elétrico viável comercialmente. A ideia é que ele fosse uma alternativa para ir e voltar do trabalho — o que os americanos chamam de “daily commute” —, contanto que sua rotina não tivesse uma distância maior que 120 milhas por dia.
A equipe da GM tinha um engenheiro eletrônico chamado Alan Cocconi, que desenvolveu em seu laboratório-garagem um sistema de era capaz de controlar a frequência do sinal elétrico enviado das baterias para o motor elétrico, permitindo que a entrega de energia fosse sempre suficiente para a demanda de potência do carro.
Pense como o mapa de injeção e ignição, mas em vez de fluxo de combustível e centelha, estamos falando apenas de frequência de sinal elétrico. Na prática, era um amplificador de três canais que permitiu que o carro elétrico funcionasse como um carro de combustão interna em termos de controle de aceleração. Esse é o componente-chave do carro elétrico moderno, conhecido simplesmente como “controlador”. Foi ele que diferenciou o carro elétrico moderno de todos os elétricos do passado.
Com o controlador de Cocconi, a GM conseguiu fazer um carro elétrico funcional, e o levou ao Salão de Los Angeles de 1990. Seu nome era GM Impact e ele era descrito pela equipe da GM como “um carro parecido com o Corvette, de dois lugares, estiloso e com grande potencial comercial”. O problema é que o carro era uma aposta ousada de Roger Smith, tanto que ele sequer sabia se havia demanda para um carro elétrico — o executivo de marketing John R. Dabels foi encarregado de descobrir tudo o que era necessário para vender um carro elétrico ao grande público.
Nessa missão de despertar o interesse pelo carro elétrico, muita gente ficou empolgada com a possibilidade de se ter um carro que é reabastecido na tomada da garagem e que não faz barulho e que é super rápido e moderno. Entre os entusiasmados estava o California Air Resources Board, o conselho de recursos do ar da Califórnia, conhecido pela sigla CARB. O mesmo órgão que criou a primeira legislação de controle de emissões para os carros do ocidente em 1968 — um processo que culminou na primeira morte do muscle car e na invasão dos carros euro-asiáticos aos EUA nos anos 1970.
Àquela altura o CARB já estava atuava sob o conceito de conservação de energia, de economia sustentável. E se a toda-poderosa GM havia feito um carro elétrico e pensava em colocá-lo no mercado em breve, significava que o carro elétrico proposto no estudo da Ford Foundation finalmente era possível. Ao menos sob os olhos dos burocratas do CARB.
O resultado foi que, antes mesmo de a GM colocar o Impact no mercado, sem mesmo saber se havia demanda pelos elétricos, o CARB pressionou os legisladores da Califórnia para aprovar uma lei que obrigava os fabricantes a vender carros elétricos na Califórnia. A lei, aprovada em 1990 (!) se chamava “Zero Emission Vehicle mandate”, e previa que em 1998 2% dos carros vendidos na Califórnia deveriam ter emissão zero, subindo para 5% em 2001 e 10% em 2003. Se o carro elétrico é possível, ele pode ser necessário.
A GM seguiu em frente com seu plano de colocar o GM Impact no mercado e, em 1996, o lançou como EV-1, vendido somente no modelo de leasing, no qual os clientes teriam de devolver o carro ao final do contrato. Segundo os executivos da GM, foram investidos mais de US$ 2 bilhões entre o desenvolvimento do carro, criação da infra-estrutura de recarga e marketing. Deste orçamento, US$ 1,25 bilhão eram incentivos do governo federal, concedidos devido à novidade tecnológica.
Foi justamente o EV-1 que consolidou o carro elétrico como uma solução para a questão ambiental. A demanda pelo carro e toda a sua campanha promocional foi baseada no fato de ele ser “ecologicamente correto”. As pessoas gostavam dele porque ele era rápido, era moderno e, acima de tudo, não fazia barulho nem soltava fumaça. O público do EV-1, portanto, foi formado inicialmente por ambientalistas, pessoas que viram no carro uma forma de continuar sua rotina normalmente sem prejudicar a qualidade do ar.
O problema é que o EV-1 era um programa experimental, ainda que fosse comercial. A GM achou que poderia fazer muito dinheiro saindo na frente nessa corrida dos elétricos, mas ao longo do processo percebeu que o negócio talvez fosse inviável.
Paralelamente ao projeto EV-1, a GM e as demais fabricantes — àquela altura todas com veículos elétricos, como mandava a legislação de 1990 — começaram a investir nas pesquisas com células de hidrogênio, apostando nesta tecnologia como uma substituta limpa para os carros de combustão interna. Com o ano 2001 se aproximando e a baixa demanda por carros elétricos, os fabricantes começaram a pressionar o legislativo californiano a extinguir a lei.
Alguns legisladores acharam que era bravata das fabricantes, e pressionaram para que os prazos fossem mantidos, em uma troca de desafios de ambas as partes. No fim das contas, a lei foi derrubada.
Em 2003, depois de lançar uma “segunda geração” do EV-1 e atualizá-lo com as promissoras baterias de NiMH — as mesmas usadas até hoje pelos híbridos e elétricos, os prazos dos contratos de leasing se encerraram e a GM achou melhor recolher os carros sem deixar um sucessor.
Os motivos nunca foram esclarecidos — o que levou a uma teoria conspiratória sobre a GM ter matado o carro elétrico por pressão das petrolíferas e sujeitos ocultos, que é explorada no documentário “Quem Matou o Carro Elétrico?”, de 2006.
Analisando a história em 2022, com o devido distanciamento temporal para esfriar o calor da discussão, parece pouco provável que a GM tivesse se auto-sabotado, matando um projeto com potencial de viabilidade e uma suposta demanda comercial. Apesar da demanda, é possível que ele fosse inviável devido ao custo de reposição de baterias.
A GM também se recusou a vender os carros após o encerramento do contrato de leasing, o que alimentou a teoria conspiratória, mas é muito provável que eles só estivessem evitando futuros problemas legais e, principalmente, impedindo que o carro caísse nas mãos da concorrência.
Naquele mesmo ano de 2003, quando os carros foram recolhidos e sucateados — alguns foram enviados a museus e universidades sem motor — Elon Musk iniciou a Tesla para atender esta aparente demanda por veículos elétricos.
Cinco anos depois, em 2008, a questão climática foi novamente colocada em pauta com o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, agora não mais preocupada com o uso de recursos energéticos e qualidade do ar e a saúde pública, mas abordando o impacto que a economia não-sustentável estava causando no planeta como um todo.
O documentário teve um grande impacto no público, e colocou a pauta ambientalista na discussão pública e a enraizou na cultura global. Com isso o público passou a pressionar seus representantes políticos e as agências de proteção ambiental e legisladores de todo o mundo passaram a discutir regras mais rígidas sobre as emissões do transporte.
Foi quando o carro elétrico ganhou sua terceira chance. Com vendas em alta e investimentos bilionários da indústria no desenvolvimento destes carros, eles serão a única alternativa disponível a partir de 2035 nos EUA e na União Europeia, enquanto outros países discutem prazos semelhantes para forçar a substituição dos veículos emissores de gases, como proposto pelo estudo “A Time do Change”.
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