A paciência é uma virtude, e os orientais sabem disso como poucos. No caso da Coreia do Sul mais ainda, e o país que superou guerras e ainda espera a solução de um conflito interminável com a vizinha vem, gradualmente, construindo excelência em diferentes áreas da indústria.
No ramo automotivo não é diferente, e a Kia, a passos calculados, constrói junto à Hyundai uma família cada vez mais unificada de modelos eletrificados, aproveitando uma receita comum que parece dar certo.
O Kia Niro, que acaba de chegar ao Brasil, é um dos expoentes dessa revolução: ele aproveita grandes virtudes de outros modelos da marca, adaptando-as às suas propostas.
O Niro chega ao Brasil em duas versões: a mais barata, EX, parte de R$ 204.990, e já traz uma lista satisfatória de opcionais. O topo de linha Niro SX Prestige custa R$ 239.990, acrescentando faróis com projetores em leds, teto solar, ajuste elétrico do banco do carona e recursos de direção autônoma, entre outros detalhes.
Estilo ousado
Uma dessas propostas é o design atrevido, e a recepção dos seguidores de QUATRO RODAS no Instagram sugere que, ao contrário da Hyundai, a Kia vem acertando a mão no estilo diferente que dá aos seus carros.
Principalmente a traseira do Niro — com lanternas em forma de bumerangue que ficam totalmente na coluna C — foi bem elogiada pelos público, que também curtiu a releitura do “nariz de tigre” na dianteira, onde há projetores retangulares e DRLs em ângulos bem marcados, dando aspecto tridimensional ao conjunto de iluminação.
Outro possibilidade de personalização está na coluna traseira, que pode ser pintada em cores bem diferentes da carroceria sem custo adicional. Além das oito tonalidades principais, há quatro opções à coluna: verde, cinza, preto e laranja, num total de 17 combinações.
Chamada de aeropillar, a peça é customizável sem custo adicional; a postura vertical da lanterna contribui bastante para a sensação de tamanho do Niro e pequenos dutos de ar entre o chassi e as peças de iluminação contribuem para a eficiência aerodinâmica, acima da média.
Consumo excelente
O novo Kia Niro ainda não foi testado por QUATRO RODAS (apenas o antigo, que não chegou a ser lançado), mas os dados do Inmetro são promissores por si. Nas medições oficiais, o carro cravou 19,8 km/l de gasolina na cidade e 17,7 km/l na estrada. O consumo melhor em cenário urbano, inclusive, entrega que o SUV médio da Kia é um modelo híbrido; nesse caso, um HEV.
Também chamado de híbrido convencional, esse tipo de eletrificação corresponde ao mesmo aplicado na linha Toyota Corolla e Corolla Cross. Nesse arranjo — mais avançado que um híbrido leve — o motor 1.6 aspirado (105 cv/14,8 kgfm) funciona só em médias e altas velocidades. Em baixas, quem assume a movimentação é o elétrico de 43 cv.
Mesmo assim, o motor elétrico atua em conjunto com o 1.6 na maioria das vezes. Além de entregar 17,3 kgfm instantaneamente, ele permite que o motor a combustão funcione o mais próximo possível de sua faixa mais eficiente, permitindo tais números de consumo.
A potência combinada do conjunto é de 141 cv, portanto não espere comportamento esportivo do Niro, cuja máxima é limitada a 175 km/h. A grande diferença dinâmica está na oferta rápida do torque combinado, de satisfatórios 27 kgfm, em sensação semelhante à de um motor diesel e com o ponto positivo de não haver o lag que o 1.3 turbo do Compass, por exemplo, com 27,5 kgfm, tem.
Ainda que a posição de dirigir seja elevada e o Niro transmita a sensação de ser bem pesado, a plataforma K3 com suspensão multilink na traseira se sai muito bem, evitando principalmente a rolagem dos passageiros em curvas mais acentuadas.
A generosa camada de sistemas de segurança e automação veicular também auxilia na prevenção de diferentes tipos de acidentes, e as cinco estrelas do utilitário no Euro NCAP e no NHTSA mostram que o projeto não dá ponto sem nó.
Conforto pleno
Se por fora o Niro adota um visual bem distinto de outros Kia, por dentro o novo padrão de interiores da marca é aplicado em totalidade. A começar pelo painel, que traz quadro de instrumentos digital de 10,25’’ e outra tela do mesmo tamanho, que serve de central multimídia e está unida sob a mesma moldura.
Também há uma engenhosa barra touchscreen, que alterna seus botões entre os comandos de ar-condicionado e mídia. Elegante, o mecanismo também conta com dois seletores giratórios que permitem ao motorista comandar a temperatura do vento e o volume do som apenas pelo tato, poupando tempo e risco. O Niro ainda conta com Android Auto e Apple Carplay sem fio, com carregamento por indução disponível na versão topo de linha SX Prestige.
A atenção aos detalhes é notável na qualidade do materiais, e soluções importadas de modelos bem mais caros, como o EV6, trazem um ar de funcionalidade que agrada quem comanda o SUV médio.
Por exemplo, as borboletas atrás do volante (idêntico ao do EV6) servem, no modo Eco, para dosar o nível da frenagem regenerativa, que alimenta as baterias. No modo Sport elas voltam para função convencional, comando as trocas do agradável câmbio de seis velocidades com dupla embreagem.
Ainda que o console central não seja do tipo dois andares, ele poupa espaço com o disco de seleção da marcha, deixando o câmbio sequencial só no volante. No dilema entre espaço e sensação esportiva, a primeira opção faz mais sentido em um modelo dessa potência.
E se a proposta da coreana é promover “paz de espírito” a quem embarca no Niro, isso certamente é favorecido pelo tecido Altaica dos bancos, bem confortáveis, perfurados e feitos a base de Eucaliptos — o reaproveitamento de vegetais, inclusive, predomina ao redor da cabine.
Completando a lista de virtudes da cabine, os passageiros de trás são muito beneficiados pelo entre-eixos de 2,72 m, que supera com folga a concorrência. A parte de trás da primeira fileira oferece carregamento de celular direto no encosto das costas e, perante o encosto de cabeça, há um curioso porta-objetos.
Outro ponto bem notável é o silêncio: além do motor funcionar de modo bem silencioso, o Niro traz um revestimento extra nas caixas de roda, que visivelmente abafa a reverberação dos pneus. No fim das contas, é difícil, em um teste rápido, encontrar pontos de desconforto no modelo importado da Coreia do Sul.
A nova fase da Kia
Certamente a safra pródiga da matriz tende a favorecer a Kia do Brasil, que vem renovando intensamente sua linha após alguns anos de marasmo. Mesmo tendo sido lançado nesta quarta-feira (5), o Niro já teve quase 100 unidades vendidas em menos de uma semana.
A explicação? O sucesso do Sportage e problemas de estoque. “Em setembro vivemos o fundo do poço em relação à crise de semicondutores”, explica o presidente José Luiz Gandini. “A fila de espera do Sportage está alta e muitos concessionários ofereceram o Niro antes mesmo dele ser lançado para os clientes”, completou, justificando a venda de um carro que sequer fora apresentado.
Na coletiva de lançamento, a ambiguidade de sentimentos de Gandini era evidente e, ao mesmo tempo que demonstrava plena satisfação com o produto, o executivo lamentava que o gargalo no fornecimento esteja limitando o desempenho da Kia no país.
Mesmo assim, 2023 promete tempos mais fáceis, e vários lançamentos seguirão renovando e ampliando o catálogo da marca. Um dos confirmados o novo Sorento, que usará arranjo semelhante ao do Niro mas com um motor 1.6 turbo, totalizando 230 cv e 35,7 kgfm.
O Kia Cerato também mudará, mas a tendência é que simplesmente receba o facelift já aplicado na América do Norte. Além disso, o EV6 teve sua data de lançamento mais bem calculada, agora com a indefinição se limitando ao fato de ser em agosto ou setembro de 2023.
Por fim, adianta Gandini, haverá mais uma ou duas novidades que virão da Coreia do Sul, mas que permanecem em segredo. O Kia EV9 não é uma delas, mas o Seltos é uma forte probabilidade.
Ficha técnica do Kia Niro SX Prestige 2023
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, 1.589 cm³, 141 cv a 5.700 rpm, 14,7 kgfm a 4.000 rpm. elétrico, dianteiro, síncrono de ímãs permanentes, 43 cv a 1.798 – 2.500 rpm, 17,3 kgfm a 0 – 1.798 rpm; potência combinada, 141 cv; torque combinado, 27,0 kgfm.
Câmbio: automático de dupla embreagem, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,6 m (diâmetro de giro)
Suspensão: ind. McPherson (dianteira), multilink (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
Pneus: 225/45 R18 Rodas: liga leve, 18’’
Peso: 1.394 kg
Dimensões: comprimento, 442,0 cm; largura, 182,5 cm; altura, 154,5 cm; entre-eixos, 272,0 cm; porta-malas, 425 l, tanque, 42 l
Consumo: 19,8 km/l (cidade); 17,7 km/l (estrada)*
Velocidade máxima: 175 km/h*
* Dados de fábrica
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