So Paulo – Quem anda pelas ruas de Vitria tem a chance de encontrar um transporte incomum no Brasil: o tuk-tuk. O modelo eltrico comeou a rodar na capital capixaba, nessa quarta-feira (29), depois de um ano e meio de conversas e testes desenvolvidos pela Uber e Movida. Por enquanto, esto rodando 26 unidades do triciclo adaptado. Entre todas as modalidades oferecidas pelo aplicativo de transporte da cidade, essa ser a mais em conta para o usurio.
”Os veculos so abertos, o que tem tudo a ver com o clima do litoral capixaba, e vo oferecer uma experincia indita para os brasileiros”
Silvia Penna gerente de operaes da Uber
A Movida no antecipa quais so os planos que tem para o projeto. Mas o executivo aponta algumas caractersticas das cidades que podero contar com esse tipo de servio: sem trnsito intenso e com qualidades tursticas. Alm disso, graas potncia do motor eltrico e do veculo, que transporta motorista mais dois passageiros, no possvel us-lo em lugares com muitas ladeiras.
O lanamento do tuk-tuk acontece em um momento delicado para as empresas que trabalham com outro novo meio de transporte, o patinete. H menos de uma semana, a Grow (unio dos negcios da mexicana Grin e da brasileira Yellow, anunciada em janeiro do ano passado), anunciou uma reviso de seus planos no Brasil para a operao dos patinetes eltricos e promoveu um enxugamento das cidades onde o aplicativo de aluguel est disponvel.
Semanas antes, outra startup revelou seu descontentamento com a operao desse meio de transporte. A americana Lime comunicou que, apenas seis meses aps comear a oferecer seu servio de aluguel de patinete no Rio de Janeiro e So Paulo, deixaria o pas. Na reformulao do negcio, foram excludos do mapa da companhia outras cidades da Amrica Latina, como Bogot (Colmbia), Buenos Aires (Argentina), Montevidu (Uruguai), Lima (Peru) e Puerto Vallarta (Mxico).
No caso da Grow, a deciso foi por manter o servio apenas em algumas cidades. As bicicletas amarelas, que por meses tomaram algumas ruas de cidades como So Paulo, esto temporariamente fora de circulao. Por meio de comunicado, a empresa informou que “a deciso foi tomada para que a companhia promova um ajuste operacional e continue prestando servios de forma estvel, eficiente e segura.”
Deixaram de ter a operao da Grow, alm de Belo Horizonte e Braslia, as cidades de Campinas, Florianpolis, Goinia, Guarapari, Porto Alegre, Santos, So Vicente, So Jos dos Campos, So Jos, Torres, Vitria e Vila Velha. A empresa decidiu levar os patinetes dessas praas para onde o servio ser mantido. No caso das bicicletas, sem data para voltar, foram tiradas de circulao at que, de acordo com a empresa, seja feito um processo de “checagem e verificao das condies de segurana”.
Ao puxar o freio de arrumao, a Grow espera adotar um outro modelo de negcio. No lugar da operao 100% prpria, que encarece a operao, a ideia conseguir parcerias pblicas e privadas para, segundo o comunicado, “fortalecer e expandir sua operao”. A companhia garante, apesar da deciso, que ainda h espao para o mercado de compartilhamento de patinetes e bicicletas crescer.
A Grow atua em sete pases da Amrica Latina e realizou cerca de 20 milhes de corridas desde o incio das duas marcas, em agosto de 2018. Quando a brasileira Yellow lanou o servio de aluguel de bikes, seus fundadores garantiram que os casos de depredao no eram em volume suficiente para que causassem preocupao.
Alm de bicicletas destrudas e largadas pelas caladas das cidades, o que se comeou a ver com o tempo foi o abandono e os furtos de patinetes. Com o aumento do nmero de usurios, esses aplicativos passaram a registrar mais reclamaes de clientes insatisfeitos com a qualidade. Uma das queixas era a dificuldade em encontrar veculos com as baterias carregadas.
Vinicius Picano, professor de operaes e design sustentvel do Insper, avalia que a fase ainda de experimentao das novas alternativas para micromobilidade tanto por parte das startups quanto em relao aos usurios. Isso explica o fato de se ver correes de rota. “As empresas vo testando modelos de negcios, mudando os artefatos, na tentativa de derrubar custos e ter um modelo que pare de p. A demanda grande por alternativas de micromobilidade, mas no h modelos inquestionveis”, avalia o estudioso.
A exceo, segundo Picano, so as bicicletas compartilhadas e ofertadas em estaes, ou docas, que do sinais de consolidao do modelo. Nesse caso, analisa o especialista, os custos de operao so menores diante da previsibilidade – o gestor sabe onde esto as bikes e isso permite posicionar funcionrios para os servios de manuteno e at reposicionar as reas destinadas para a retirada e entrega do veculo.
Picano acredita que o tuk-tuk, por ser um hbrido entre bicicleta e carro e j representar alguma referncia para os brasileiros por causa do uso em pases asiticos, poder ter mais apelo. Ele destaca ainda o fato de o negcio ter surgido a partir de uma parceria entre duas empresas. “ algo a se ficar de olho”, diz.
Por definio, o diretor da Movida classifica o tuk-tuk como um modelo intermedirio de transporte entre o carro e o servio de mototxi. “Serve para quem tem um pouco mais para gastar e est em busca de mais segurana”.
Silvia Penna, gerente de operaes da Uber, se diz animada com a novidade. “Os veculos so abertos, o que tem tudo a ver com o clima do litoral capixaba, e vo oferecer uma experincia indita para os brasileiros, que est acontecendo nesses primeiros meses do ano, quando as temperaturas esto altas e o nmero de viagens aumenta nessa regio da cidade”, diz.
A executiva da Uber descarta o risco de a nova modalidade canibalizar os outros servios da empresa, oferecidos pelos motoristas de carros. “So produtos distintos que oferecem opes diferentes para as pessoas se movimentarem por Vitria. Os Tuks proporcionam uma experincia e as viagens de carro, outra. No so produtos concorrentes.”
preciso melhorar a regulamentao
Doutora em transportes, Adriana Modesto e pesquisadora voluntaria da Universidade de Braslia, destaca a importncia de surgirem alternativas para atender a demanda da micromobilidade, que atende a trajetos curtos ou que podem ser complementados com outros meios de transporte, como nibus e trem.
A estudiosa defende que haja mais interao entre o poder pblico e as universidades na busca pelos melhores modelos de regulamentao. Ainda hoje, lembra a especialista, h debates em torno da regulao do servio de aplicativos de transporte por falta de planejamento. Quase sempre as novidades em micromobilidade chegam antes da regulamentao, o que acaba por provocar atritos.
“No podemos colocar freio na mobilidade, temos de nos adequar aos novos modos de deslocamento. Mas h uma srie de aspectos que no so levados em conta nesse processo de expanso de servios, como a fragilidade na segurana viria e a falta legislao. Quanto mais chancelados por uma legislao que contemple esses servios especficos, mais seguros nos sentiremos”, analisa Adriana.