A intenção do governo de incentivar a vinda ao Brasil da fabricante de veículos elétricos Tesla gerou desconforto ao setor de biocombustível de cana e milho. Ainda sem maiores detalhes sobre como poderia se dar a atração da companhia, alguns empresários de usinas e representantes de entidades de classes, entre os quais um ex-presidente da Anfavea, e dois pesquisadores preferem aguardar para darem uma manifestação pública.
Primeiro o filho anunciou, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e hoje, pelo Twitter, o pai, o presidente Jair (sem partido), confirmou que vai tratar do tema em sua próxima visita aos Estados Unidos.
Mesmo que não haja incentivos fiscais diretos, como renúncia fiscal, o que iria na contramão do discurso de governo, só a presença da Tesla já pode foi entendida como um concorrente direto às empresas brasileiras.
Alguma forma de ajuda, no entanto, sempre acaba acontecendo, no mínimo de algum governo estadual.
A empresa americana fabrica carros sem combustão a bateria de lítio e o mercado sucroenergético aposta no carro elétrico mas a etanol, que libera o hidrogênio para alimentar a célula geradora de energia elétrica para acionamento dos motores.
Toyota e Nissan estão na frente.
Mesmo com todas as dificuldades que a fabricante dos Estados Unidos possa encontrar no País – mercado de consumo longe dos preços de seus veículos e montagem de infraestrutura para carregamento – difícil está sendo para os agentes ouvidos entenderem o motivo dessa nova versão dos Bolsonaros.
Atrair empresas para geração de empregos sempre é importante, mas a Tesla, com sua alta tecnologia, não precisa de mão de obra intensiva, mesmo na cadeia produtiva agregada, lembra o ex-presidente da Anfavea.
Um dos pesquisadores em bioenergia, com assento na USP, acredita mais no interesse do governo em se mostrar “sempre afagando os Estados Unidos”, no momento em que este trava uma batalha mundial para impor condições de mercado para suas empresas, dentro e fora do país.
Os representantes do setor produtivo de etanol aguardam o desenvolvimento mais acelerado do automóvel híbrido elétrico-etanol como um dos vetores para impulsionar mais a produção. Inclusive acreditam que as metas de dobrar a produção e consumo do biocombustível, segundo o RenovaBio, só viriam mesmo com mais esse canal de consumo.
Rota 2030
Só a frota flex de motores a combustão, que pudesse crescer desde que a economia voltasse a andar – o que pouco acreditam antes de 2022 – não é vista como um fator de expansão da produção.
Há o Rota 2030 (Lei 13.755), hoje vigorando para dar incentivos ao desenvolvimento de motores avançados para substituírem os do Ciclo Otto (a combustão), com renúncia fiscal (Só para 2019, a renúncia fiscal é de R$ 2,1 bilhão. Em 2020, de R$ 1,6 bilhão) sobre as empresas (montadoras e autopeças) que aderirem, que as fontes ouvidas entendem, no primeiro momento, que pode se prejudicado, de certa forma.
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Ou seja, algumas empresas poderiam postergar seus projetos.
Por fim, o carro elétrico puro da Tesla e de outras que estão nesse caminho na Europa e China é considerado poluidor, apesar de sua emissão ser zero. É poluidor no processo de fabricação das baterias, de ion de lítio, material extrativo, e no seu descarte.
Ao contrário do elétrico à base de etanol, que também é visto pelas empresas brasileiras com potencial exportador de veículos e etanol. Sem bateria.