Recentemente a Peugeot lançou no Brasil o novo 208. Segundo a fabricante um dos grandes destaques do hatch compacto é poder abrigar na mesma carroceria duas opções bastante distintas de motorização — uma tradicional a combustão, 1.6 16V flex, e outra 100% elétrica, a e-GT, que chega em 2021. Ou seja: por fora o carro é praticamente o mesmo, mas a tecnologia de propulsão de cada um é totalmente diferente.

Essa é sem dúvida uma característica interessante e pertinente, porém está longe de ser exatamente uma novidade. Nos anos 90, na Europa, Japão e Estados Unidos, várias fabricantes — inclusive a própria Peugeot — ofereceram versões elétricas de seus modelos que já existiam com motor a combustão, em boa parte para atender novas leis de emissão ou exigências governamentais da época.

Quase todos esses modelos, porém, caíram no esquecimento após um modestíssimo desempenho de vendas, seja por custarem bem mais caro que os tradicionais ou pela tecnologia ainda não estar bem desenvolvida, em particular no que diz respeito ao tempo de carregamento, autonomia e peso do veículo. Mas tiveram seu papel na história e, por isso, vamos relembrar agora dez deles, escarafunchados no acervo do MIAU, o Museu da Imprensa Automotiva.

Peugeot 106 Electric, lançado em 1995 — Foto: Acervo MIAU

1 – Peugeot 106 Electric
O antepassado do novo 208 e-GT foi vendido na Europa por bastante tempo, de 1995 até 2003, em versões de três e cinco portas. Chegou, inclusive, a receber uma reestilização em 1996. Assim como todos os elétricos dos anos 1990, era um carro totalmente urbano – a autonomia era de 100 quilômetros, mas para conseguir percorrer essa distância demorava: a potência era de parcos 27 cv e a velocidade máxima, de 90 km/h.

Em compensação as baterias ficavam totalmente carregadas em seis horas numa tomada comum, mas costumavam sofrer efeito memória. Mesmo assim foram vendidos 6,5 mil 106 Electric ao longo desses anos.

Renault Clio Electrique, também lançado em 1995 — Foto: Arquivo MIAU

2 – Renault Elektro Clio
Outro francês, também lançado em 1995. A autonomia era de apenas 80 quilômetros, mas a potência – uau – chegava a 29 cv. A velocidade máxima era quase nada melhor que o 106, 95 km/h de fábrica. Viveu até 2000 e também passou por uma reestilização igual à dos irmãos a combustão, mas nesses cinco anos somente cerca de 250 unidades encontraram compradores.

Dodge EPIC, versão elétrica da Town & Country lançada em 1997 — Foto: Acervo MIAU

3 – Chrysler TEVan / Dodge EPIC
Externamente iguais às Dodge Town & Country e Caravan, essas podem ser certamente consideradas as primeiras minivans elétricas do mundo. A primeira versão, a TEVan, foi lançada em 1993 nos Estados Unidos, mas somente frotistas, ou seja, empresas, podiam comprá-la. Velocidade máxima de 104 km/h, autonomia de quase 130 quilômetros e potência de 35 cv.

Em 1997 foi modernizada e apresentada como Dodge/Plymouth EPIC, com melhorias especialmente na autonomia, que subia a quase 145 quilômetros mesmo com maior velocidade máxima, 130 km/h. As baterias ficavam totalmente carregadas em até oito horas. Saiu de linha em 2000, com cerca de trezentas unidades vendidas ao todo.

Citroën AX Electrique, o primeiro da turma noventista, chegou ainda em 1993 — Foto: Acervo MIAU

4 – Citroën AX Electrique
Outro dos primeiros elétricos noventistas. Foi lançado ainda em 1993 e pagava o preço da inovação: autonomia de menos de 80 quilômetros, mas velocidade máxima de 91 km/h.

Contava com um sistema eletrônico que reduzia bastante o desempenho caso a carga da bateria estivesse se aproximando do fim, para aumentar a distância percorrida — recurso útil levando-se em conta que não existiam postos de carregamento para elétricos pelo caminho como hoje.

Havia ainda um pequeno motor a gasolina que servia não para carregar as baterias, mas sim, veja só, para providenciar aquecimento interno, algo indispensável no frio europeu. Foram quase 400 AX Electrique produzidos até 1996.

O Toyota RAV4 EV foi lançado em 1997 — Foto: Acervo MIAU

5 – Toyota RAV4 EV
Pois é: até os 4×4 compactos já tiveram o seu representante elétrico nos 90. O Toyota RAV4 EV foi lançado nos Estados Unidos em 1997. A autonomia podia variar de 160 a 190 quilômetros com uma carga completa de cinco horas na tomada e a máxima chegava a 125 km/h.

Ele foi vendido também no Japão. Viveu até 2003, chegando à nova geração do RAV4, e teve cerca de 1.500 unidades comercializadas. O interessante é que a atual geração do RAV4 também oferece duas versões com tecnologia elétrica, incluindo um híbrido plug-in.

O VW Golf Mk3 elétrico recebia o sobrenome Citystromer — Foto: Acervo MIAU

6 – Volkswagen Golf Mk3 Citystromer
Um dos hatches médios mais aclamados e conhecidos do mundo, também o Golf de terceira geração teve sua versão elétrica, batizada Citystromer. Foi lançado na Alemanha no fim de 1993 e viveu até 1996, mas apenas 120 unidades foram produzidas nesses três anos.

Uma vantagem era seu tempo de carregamento: em uma hora e meia 80% das baterias estavam carregadas. Uma inovação realmente impressionante para a época era a recuperação da energia gerada nas frenagens, que carregava as baterias. Mantida uma velocidade média de 50 km/h a autonomia chegava a 90 quilômetros. Gostou? Dá para comprar um Golf híbrido plug-in aqui no Brasil hoje, bem mais moderno, o GTE – mas ele custa R$ 200 mil.

O Citroën Saxo Electrique não tinha estepe: as baterias roubaram seu lugar — Foto: Acervo MIAU

7 – Citroën Saxo Electrique
Essa era a versão Citroën do Peugeot 106, e além de compartilhar a mesma plataforma também utilizava as mesmas baterias e motor elétrico do irmão, o que lhe conferia desempenho e números idênticos. Uma curiosidade de ambos é que não havia estepe: as baterias roubaram todo o espaço disponível no carro, além de contribuírem com quase 300 quilos extras. Foram mais de 6 mil Saxo Electrique fabricados de 1997 a 2002.

Até uma versão elétrica da Chevrolet S10 existiu: chegou em 1997 — Foto: Acervo MIAU

8 – Chevrolet S10 Electric
Sim: também as picapes noventistas tiveram versões elétricas. A pioneira foi a Chevrolet S10 EV, que pode ser considerada a primeira picape moderna elétrica do mundo – toma essa, Cybertruck! Só viveu um ano, mas ainda assim pouco mais de 1.000 unidades foram produzidas. Seus números eram bons para a época: 114 cv e autonomia de 62 quilômetros a 100 km/h constantes ou quase 100 quilômetros a 70 km/h. A versão 1998 trouxe novas baterias, que quase dobravam a autonomia.

A Ford não admitiu ficar atrás e lançou a sua Ranger EV em 1998 — Foto: Acervo MIAU

9 – Ford Ranger EV
Se tem uma coisa que uma montadora sediada nos Estados Unidos não suporta é ficar atrás das outras duas concorrentes locais. Com o lançamento da S10 Electric em 1997 a Ford correu e no ano seguinte apresentou a Ranger EV.

A potência era menor, 91 cv, mas viveu bem mais, até 2002. A autonomia máxima era de espantosos 140 quilômetros, andando a 70 km/h constantes. A picape da Ford também contava com um sistema de recuperação de energia nas frenagens e a portinhola de engate do pino para carregar as baterias ficava na própria grade dianteira.

Nem mesmo os utilitários de carga ficaram de fora da ofensiva elétrica noventista — Foto: Acervo MIAU

10- Citroën Berlingo Electrique/Peugeot Partner Electric
Nem mesmo os veículos essencialmente de trabalho escaparam da onda elétrica de meados dos anos 90. Com capacidade de carga para 500 quilos, essas vans gêmeas tinham velocidade máxima de 105 km/h e autonomia máxima de 96 quilômetros (vazias…).

Saíram de linha em 2005, após quase dois mil deles produzidos, mas a Berlingo Electrique voltou com face-lift em 2008 e foi até 2011. O modelo pode ser considerado o pai da versão elétrica da novíssima geração do Berlingo van, em oferta atualmente nas concessionárias Citroën da Europa.

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