O aplicativo de transporte 99 quer ampliar o volume de viagens iniciadas nas periferias das cidades, ao mesmo tempo em que corre para liderar a eletrificação entre os aplicativos.

Em 2022, a plataforma viu avançar a participação de corridas feitas fora do centro expandido em pelo menos dez capitais. Em média, 60% das viagens realizadas em fevereiro deste ano partiram de endereços periféricos. Dois anos antes, esse percentual ficava em 55%.

Na avaliação do diretor de políticas públicas e relações governamentais da 99, Diogo Souto Maior, o aumento de corridas fora das regiões centrais atende a uma necessidade de ampliação própria do negócio.

Para melhorar o equilíbrio entre oferta e preço, é necessário fazer mais viagens. E para isso, moradores de mais regiões da cidade precisam ter acesso ao serviço do aplicativo.

Além disso, a empresa vê a pandemia como um período que possibilitou novas primeiras viagens. Aos que não puderam adotar o trabalho remoto, o uso de aplicativos de transporte foi um meio seguro de continuar circulando.

Parte desse aumento é atribuído aos deslocamentos de curta distância, aqueles feitos entre a casa e o terminal de ônibus ou metrô, uma espécie de “last mile” (jargão do setor logístico para a distância final entre o centro de distribuição e a casa do cliente) do transporte do dia a dia.

Em São Paulo, 57% das corridas realizadas em fevereiro partiram de bairros afastados. No mesmo período, em 2020, eram 54%. Para chegar ao resultado, a 99 cruzou dados do Censo (que divide a cidade em regiões por renda média) com as informações das corridas realizadas por meio do aplicativo.

O maior avanço foi registrado em Porto Alegre, onde o percentual de corridas periféricas passou de 56% para 63%. Souto Maior diz que o plano da 99 é continuar avançando nessas regiões. Essa expansão integra o eixo de democratização do transporte da agenda do aplicativo, que comemora dez anos de existência.

Nesse período, as atividades intermediadas pelo aplicativo movimentaram R$ 54,2 bilhões, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) encomendada pela empresa. Somente nos últimos três anos, foram R$ 45,8 bilhões.

Na outra frente de planos para o futuro, a 99 tenta tomar a dianteira da eletrificação entre as plataformas de mobilidade. As primeiras tentativas de utilização de carros elétricos foram feitas ainda neste ano.

A promessa da 99 é chegar a 300 veículos elétricos em frota nos próximos quatro meses. Dois da Caoa Cherry já ficaram circulando por São Paulo, sob testes, com motoristas cadastrados. A ideia dos primeiros testes, segundo Thiago Hipolito, diretor de inovação da 99, foi coletar dados do desempenho desses veículos para a atividade e a percepção dos motoristas.

Há pouco mais de um mês, o primeiro D1, da chinesa BYD, também entrou para a incipiente frota própria da 99. O modelo foi planejado a partir de uma joint-venture da DiDi, empresa chinesa que controla a 99, com a montadora, e pensado em atender aplicativos de transporte.

O espaço interno é equivalente ao de um SUV compacto, o piso é plano e a porta direita, deslizante, pode ser aberta no painel, pelo motorista.

Fenando Pfeiffer, diretor de estratégia do DriverLab, centro de inovação da 99, diz que o carro tem outros atributos favoráveis ao modelo de negócio do aplicativo. Como outros elétricos, o D1 é silencioso. Não há vibração e não há o barulho do motor.

Para quem dirige, a potência é simular a de um motor 1.8, permitindo que a aceleração inicial e em subidas seja suave, e a resposta, rápida. Na quinta, data em que a 99 organizou um café da manhã para apresentar seus planos para o futuro, o carro foi usado para transportar convidados (incluindo esta repórter).

O desenho do carro também considerou a necessidade de eficiência para uma velocidade controlada, típica dos deslocamentos urbanos. Enquanto um veículo a combustão gasta mais combustível em um engarrafamento ou quando o tráfego fica pesado, os elétricos não aumentam o consumo de energia.

A autonomia, por carga, é de cerca de 370 quilômetros, o que, segundo a 99, atende as necessidades de trabalho dos motoristas.

Mas a redução nas despesas –cerca de 80% menos gastos na comparação com um veículo a gasolina, e 70%, em relação ao GNV– ainda são ofuscados pelo preço final do carro. O D1 custa hoje R$ 269,9 mil, segundo a fabricante.

“O preço do elétrico ainda é proibitivo”, afirma Pfeiffer. Na avaliação do executivo, a “agenda” dos veículos elétricos vai além da questão da mobilidade, o que favorece os interessados em liderar iniciativas e promover parcerias. “A indústria privada quem vai ser o agente. Mas também entendemos que ainda não estamos no estágio de compra”, diz.

Para a 99, a operação com os elétricos deve ser feita com a intermediação das locadoras. Ainda nesta semana, 50 elétricos Nissan Leaf serão colocados para locação por meio da Movida. Nessa fase do piloto, ainda exclusivamente em São Paulo, os motoristas que utilizarão os veículos serão escolhidos pelo aplicativo.

Segundo Hipolito, somados um abatimento no preço de locação e a redução de custos com abastecimentos, os motoristas que utilizarem os elétricos terão uma economia de 25%. Na locação, haverá 50% de desconto –o valor padrão do aluguel de um elétrico hoje é o dobro ante um carro convencional.

A inclusão dos outros 250 elétricos na frota ainda não está fechada, dizem os executivos. O plano até 2025 é chegar a 10 mil veículos movidos a eletricidade e o mesmo número de estações de recarga públicas (hoje existem 1.500) por meio da Aliança pela Mobilidade Sustentável, liderada pelo aplicativo.

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