O elétrico Chevrolet EV1 está prestes a se tornar uma lenda urbana, quase uma fábula automotiva que pode ter acontecido ou não. Mas aconteceu.
Vinte e três anos após o início de sua produção (em 1996), eis que uma unidade é encontrada em estado de abandono na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos.
Aqui é a hora de encaixar a pergunta: desde quando um carro abandonado relativamente moderno é digno de virar notícia?
Essa é a parte do “senta que lá vem história”. O EV1 foi lançado como uma experiência de mercado na segunda metade da década de 90. A General Motors queria testar a tecnologia e só produziu 1.117 unidades do compacto 100% elétrico.
À época, a própria GM enfrentou resistência da indústria, de políticos e do setor petroleiro. Em vez de vender os carros, o fabricante ofereceu aos interessados por leasing — uma espécie de financiamento em que o veículo é devolvido ao final do período contratado.
No caso do EV1, havia uma cláusula sujeitando os clientes à devolução do modelo a qualquer tempo, se solicitado pela General Motors, sob pena de aplicação de multa.
Sem dar nenhuma explicação, tanto aos clientes quanto ao mercado, a GM enviou um comunicado aos consumidores requerendo a devolução imediata de todos os EV1. O caso virou notícia, mas a empresa resistiu em oferecer explicações convincentes.
O assunto acabou se tornando um tabu industrial e até rendeu assunto para o documentário Quem Matou o Carro Elétrico? (2006). O filme contou com a participação de celebridades, como Mel Gibson e Tom Hanks, e até o advogado Ralph Nader — famoso por enfrentar a indústria automobilística nos anos 60 por questões de falta de segurança dos automóveis daquela década.
Cerca de 20 unidades remanescentes foram desativadas e inutilizadas, sendo doadas para museus e universidades.
Na década de 90, o EV1 foi oferecido de forma extremamente limitada — apenas na região da Califórnia e algumas cidades do Arizona e Phoenix.Um ano após ser introduzido no mercado, chegou a São Francisco e Sacramento.
O modelo era equipado com um motor elétrico que rendia 138 cavalos.
Esse projeto-piloto era considerado o mais rápido dos elétricos. Chegava a 128 km/h e tinha autonomia de 113 km na primeira versão, 257 km na segunda. Tudo isso graças às baterias desenvolvidas pela Delphi e pela Panasonic, posteriormente.
Ao “comprar” o veículo, que tinha preço sugerido de US$ 34.000 (cerca de aproximadamente R$ 140 mil), o motorista recebia também o carregador. A bateria levava 15 horas para carregar por completo. Além disso, havia também um kit de carga rápida para 220 volts, que diminuia o tempo de recarga para 12 horas.
Apesar de inovador, o EV1 sofreu represálias. A General Motors enfrentou pressões da indústria do petróleo e por estar se inserindo em um nicho de mercado ainda pouco explorado, a montadora encerrou a produção do veículo em 1999.
Os EV1 foram retomados, confiscados e destruídos sob protesto dos entusiastas, até mesmo com episódios de prisão de manifestantes. A GM foi acusada de sabotar o próprio projeto por conta de pressões jamais confirmadas, assim como as acusações à fábrica nunca foram confirmadas.
Hoje, a própria General Motors fez grande esforço para tornar viável o Chevrolet Volt e, inclusive no Brasil, se prepara para expandir o mercado do hatch Bolt.