Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe

Os veículos movidos a eletricidade existem desde o advento da indústria automobilística — diversos dos primeiros carros do século 19 eram movidos a elétrons. Mas seu potencial real não ficou evidente até o início da produção global em massa do híbrido Prius pela Toyota, há 20 anos. Menos de uma década depois, a Tesla lançou o Roadster, seu carro esportivo totalmente elétrico, e conseguiu um empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia dos Estados Unidos, dando início à produção de seus sedãs totalmente elétricos. Atualmente, o empréstimo já foi quitado e a Tesla vale sete vezes mais do que a General Motors.

Hoje, é impossível não notar a tendência. Desde 2016, as vendas de veículos elétricos e híbridos quase dobraram na América do Norte e, em 2018, pela primeira vez, as vendas aumentaram até mesmo com a queda dos preços da gasolina. No ano passado, com a economia destruída pela covid-19, as compras de veículos elétricos ou parcialmente elétricos aumentaram quase 5% em relação a 2019, ante uma queda de 15% nas vendas de automóveis em geral.

Já existem Hummers elétricos, um Mustang elétrico e uma motocicleta Harley-Davidson elétrica, e os fabricantes de automóveis norte-americanos planejam triplicar a quantidade de modelos não movidos a combustívelpara 203 até 2024.

Os preços das baterias e dos motores estão cada vez menores e provavelmente reduzirão ainda mais devido à inovação e às economias de escala que surgem quando empresas como a Amazon, que planeja comprar 100 mil veículos elétricos de entregas nos próximos anos, aumentam sua demanda por esses veículos produzidos em massa. Assim como a produção atual de energia solar e energia eólica custa somente centavos, o preço de um carro ou caminhão não movido a combustíveis fósseis, segundo algumas estimativas, poderá se equiparar aos preços dos veículos tradicionais em no máximo cinco anos. A Ford acredita que, com o tempo, uma versão elétrica futura de sua popular picape F150 se tornará muito mais barata do que a original movida a gasolina.

Ao todo, mais de sete milhões de veículos elétricos atualmente circulam pelas ruas do planeta. A Tesla sozinha já produziu mais de um milhão. A BMW já vendeu meio milhão e acredita que dobrará essa cifra neste ano. A Volkswagen, a maior montadora do mundo, desenvolveu dezenas de modelos elétricos.

“O transporte eletrificado é o futuro”, afirma Kristin Dziczek, economista do Centro de Pesquisa Automotiva de Ann Arbor, Michigan, financiado por fabricantes de automóveis. “Acredito que é um caminho sem volta. A decisão já foi tomada.”

Mas é difícil calcular o quanto falta avançar ainda. Aproximadamente 1,5 bilhão de carros e caminhões movidos a combustível ainda estão em uso. Existem seis vezes mais SUVs movidos a combustível no mundo do que em 2010: cerca de 200 milhões. Uma reportagem do jornal Wall Street Journal publicada nesta semana revelou que a Volkswagen está enfrentando dificuldades com o software de seus novos modelos. Existem menos pontos públicos de recarga rápida em todos os Estados Unidos do que postos de gasolina no Alabama.

A maioria das pessoas não comprará um veículo elétrico até que o preço e a praticidade sejam equiparáveis às alternativas existentes, e “não há mercado no mundo que possa alcançar isso sem algum tipo de investimento público”, ressalta Dziczek.

Na Noruega, onde aproximadamente metade de todos os carros nas estradas não são mais movidos a combustível, há descontos em impostos, isenções de pedágios e uma infinidade de outros incentivos, observa ela.

E embora as montadoras não queiram ser informadas sobre como administrar seus negócios, a maioria dos especialistas concorda que a regulamentação é essencial.

Diante das declarações dos cientistas de que as emissões líquidas de combustíveis fósseis devem ser zeradas até meados do século para evitar o pior agravamento das mudanças climáticas, a China, o Japãogrande parte da Europa estão avançando nas medidas para proibir as vendas de novos veículos movidos a combustível até 2035, ou talvez até antes. A Califórnia, a quinta maior economia do mundo, também está se preparando para proibir as vendas de novos veículos movidos a gasolina não híbridos até 2035, assim como alguns outros estados dos Estados Unidos.

Mas o governo Trump contestou essa autoridade dos estados. Em 2020, o governo Trump afrouxou as normas de economia de combustível dos Estados Unidos, medida que dividiu a indústria e talvez até tenha induzido algumas montadoras a abandonar os planos de produção de carros limpos para se manterem competitivas.

“As montadoras não revelam, mas apreciam uma padronização em todo o mundo”, afirma Alan Baum, analista e pesquisador da indústria automotiva, também de Michigan. A maioria das grandes montadoras deseja produzir o mesmo modelo de cada carro para venda em diversos continentes, o que lhes permite distribuir os custos globalmente.

Normas mais rígidas de eficiência de combustível conferem às empresas liberdade para encontrar seus próprios meios de atingir as metas — seja por meio de modelos totalmente elétricos ou uma mistura de veículos híbridos e econômicos. Mas ao menos obrigam todos os envolvidos a tomarem uma atitude.

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