UOL – Qual projeção o senhor faz para a economia em geral, para o setor de automotivo e para a BMW em 2020 diante da epidemia de coronavírus?
Aksel Krieger – Ainda é muito cedo para fazer qualquer tipo de estimativa quanto aos efeitos da pandemia no setor, na economia e para o Grupo BMW. Neste momento, nosso foco são nossos colaboradores, parceiros e clientes. Nos reunimos diariamente em um comitê para tomar as medidas necessárias.
O que podemos afirmar agora é que todas as medidas de contenção tanto para evitar o contágio quanto para aumentar a segurança das pessoas foram tomadas, dentre várias outras atividades recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Paramos a produção nas duas fábricas e colocamos os administrativos em home office. Também tomamos diversas atitudes para proteger nossa rede e nossos clientes.
UOL – Qual será o futuro dos carros?
O carro sempre terá o seu papel. Estamos falando muito do “carsharing” (compartilhamento de carros), que, para a indústria premium, é excelente, porque cada vez mais consumidores terão acesso aos nossos produtos.
Por exemplo, um carro premium poderá custar (hipoteticamente), por quilômetro rodado, R$ 0,40 e um comum, R$ 0,20. Será uma oportunidade para o cliente experimentar um carro premium e testar os nossos carros no dia a dia.
O sonho dos jovens brasileiros ainda é ter um carro?
Estudamos bastante esse comportamento e sabemos que o jovem ainda quer ter o carro. No Brasil, há uma intenção grande deste público em tirar a carteira de motorista.
Monitoramos também os “millenials”, que agora têm família. Todo mundo acreditava que eles seriam mais urbanos, mas alguns, nos Estados Unidos, por exemplo, estão indo para os subúrbios e tendo a vida que os pais também levaram.
É muito mais o momento de vida da pessoa, e o carro precisa se adaptar à fase da vida daquele cliente.
Houve alguma mudança do perfil do consumidor de carros de luxo nos últimos anos?
O mercado consumidor aumentou no Brasil e no mundo. As montadoras premium estão lançando vários carros em diferentes nichos de consumo.
Antigamente, o carro menor da BMW era o Série 3, que é um sedã médio. Hoje, temos o Série 1, o Mini Cooper, que é menor também.
Qual é o perfil do consumidor da BMW no Brasil?
Temos um perfil diversificado. Há as pessoas que estão entrando na marca, e como o carro premium no Brasil tem um custo mais elevado, focamos no carro usado.
É possível comprar um BMW usado na concessionária com garantia de fábrica. O público também está ficando mais jovem. A idade média está perto de 40 anos ou 50 anos.
Na China, a idade média de um consumidor da BMW é 35 anos, então o desafio da marca muda. É preciso ter muito mais tecnologia porque esse público também vai exigir um nível de conectividade muito maior.
Em relação às motos, elas são a porta de entrada da marca?
Fizemos alguns estudos neste sentido e vimos que alguns clientes que têm motos acabam migrando para os carros também. Temos mostos mais acessíveis, como a G310, que custa perto de R$ 20 mil. É a primeira porta de entrada da marca.
Pensando nas novas tecnologias, qual será o futuro dentro da indústria automobilística?
Eu vejo como um ecossistema. No passado, os meus concorrentes eram Audi, Mercedes e Land Rover. Hoje em dia estou competindo com clientes da Apple, do Google, da Amazon.
O engraçado é que, ao mesmo tempo em que competimos com essas empresas, cooperamos com elas. Lá fora, temos uma cooperação de carsharing com a Mercedes. Anos atrás ninguém sonharia com isso. O ecossistema está cada vez mais integrado e complexo.
Qual a diferença entre o mercado brasileiro e o mercado lá fora? Na Europa, carros premium parecem muito mais populares do que no Brasil.
Em termos de acessibilidade, realmente o mercado premium lá fora é mais popular. A fatia premium do mercado total no Brasil está em 2% enquanto na Alemanha, por exemplo, é 20% a 30%. Isso tem muito a ver com o desenvolvimento da economia.
Com o país crescendo e a classe média aumentando, esse número tende a aumentar também.