Diante das mazelas de se ter um carro elétrico em solo brasileiro, não é de se esperar que tenhamos poucas opções no mercado, o que acaba, claro, tornando a chance de se ter um muito pequena, dado o alto valor que é cobrado por cada um dos modelos. Mas, é necessário entender todas as benesses que ter um veículo desse pode proporcionar. E nisso, o Chevrolet Bolt, talvez, seja o modelo disponível por aqui que melhor faça isso.
Com excelente autonomia, muitos itens tecnológicos e bom espaço, o modelo da Chevrolet se mostra como uma compra altamente racional – se é que podemos chamar assim – dentro das opções que temos no mercado nacional. Apesar dos R$ 175 mil cobrados por ele, o Bolt faz valer o investimento e pode se tornar item quase que essencial para o futuro que teremos pela frente.
O Canaltech passou um período com o Chevrolet Bolt em sua versão única disponibilizada no mercado brasileiro e trará todos os detalhes para vocês agora.
Não passa despercebido
A escolha da Chevrolet em tornar o Bolt em um carro “único” parece acertada. Isso porque o automóvel elétrico da Chevy pode ser enquadrado em uma categoria bem diferente dos seus rivais mais diretos, o Nissan Leaf, já testado pelo Canaltech, e o Renault Zoe. No caso do exemplar japonês, temos um hatch médio tradicional, com design mais “comum”, já o Zoe se encaixa quase como um compacto popular. O Bolt, fosse um carro “normal”, seria o que chamamos de “monovolume”, e competiria com o Honda Fit, um dos veículos que possui maior semelhança com ele no mercado nacional.
Apesar disso, o Bolt, nem de longe, passa despercebido. Suas linhas modernas indicam que se trata de um veículo pensado para o futuro, com uma grade frontal das mais bonitas e que remetem aos automóveis da linha atual da Chevrolet. Com bom porte, altura e detalhes no design, o Chevrolet Bolt atrai não apenas por seus itens tecnológicos, mas também por sua beleza e sensação de exclusividade.
Os itens visuais são completados pelo conjunto óptico, que possui luzes de condução diurna em LED e lanternas em xenon, além das rodas de liga leve em aro 17.
Já quando falamos da parte interna, o Bolt não faz feio. A Chevrolet escolheu não utilizar materiais soft touch para o painel, mas, nem assim, podemos dizer que ele é mal acabado – pelo contrário. Tudo mostra ter excelente encaixe e a aparência, de fato, nos remete à modernidade. Quando o utilizamos à noite, aliás, algo que chama a atenção são as luzes que “cortam” o painel e as portas, dando um toque mais refinado e agradável.
O espaço interno é outro destaque. Com 2,60m de entre eixos e um duto central plano, três adultos vão com absoluto conforto na parte de trás, que apresenta, também, duas entradas USB para os celulares dos passageiros. E por falar em conforto, todos os ocupantes contam com aquecimento dos bancos.
Elétrico arisco
Apesar de pesar 1616kgs, o Chevrolet Bolt, nem de longe, é um carro pesadão e lento. Ele, aliás, é um daqueles casos que ajudam o repórter a desmistificar a fama infundada de que carros elétricos não são divertidos de guiar. Os números, claro, justificam: o Bolt tem um motor elétrico que despeja excelentes 202cv e 36,7 kgf/m de torque imediatos, o que o torna muito ágil e com arrancadas que te colam no banco. O 0 a 100 km/h, segundo nossas medições, foi feito em 7,4 segundos.
Por ter a bateria localizada no seu assoalho, o Bolt ganha mais “grip”, o que ajuda nas curvas em alta velocidade e em manobras de maior agilidade, seja na cidade ou na estrada. O câmbio, que é de marcha única, casa muito bem com o funcionamento do motor e proporciona uma progressão muito esperta da potência. A direção elétrica, por sua vez, tem o peso adequado e, apesar de não ser tão leve, passa imensa segurança nos atos com velocidade mais alta e, quando temos que efetuar manobras na cidade, traz o conforto característico desse tipo de condução.
O rodar do Bolt, porém, não é dos mais suaves. Isso pode ser explicado pelo seu ajuste de suspensão, que é mais duro do que o normal. Talvez pela necessidade imposta pelo peso do carro e por sua aerodinâmica mais agressiva, a Chevrolet tenha optado por dar um automóvel mais “na mão” do que investir em mais conforto. Não que o Bolt seja desconfortável, mas, em comparação com o Leaf, por exemplo, ele deixa a desejar e não encara a buraqueira das nossas cidades com leveza.
Isso escacara que o Bolt, apesar de ser um carro extremamente versátil, ágil e divertido de se guiar, não foi pensado para países emergentes, incluindo o Brasil. Entretanto, mesmo com uma dirigibilidade mais “dura”, o carro elétrico da Chevrolet sobra quando pensamos em eficiência e potência.
E por falar em eficiência…
O grande destaque do Chevrolet Bolt é seu motor elétrico. Além de ser divertido, o mecanismo de recarregamento e sua autonomia o transforma, de longe, no carro elétrico mais racional disponível no mercado brasileiro.
Com autonomia média de 416 quilômetros, o Chevrolet Bolt só perde em capacidade para os SUVs luxuosos Audi e-Tron e Jaguar i-Pace, que conseguem oferecer um pouco mais. Considerando seu preço mais acessível – ou menos caro -, a escolha acaba se tornando óbvia se você pensa em ter o Bolt como seu único carro na garagem.
Mas, o que chamou a atenção, de fato, foi na solução que a Chevrolet encontrou para calibrar o motor e a bateria de modo que eles conseguissem aproveitar bem a energia regenerativa que ele desprende no uso diário. Em nossos testes, tal qual fizemos com o Nissan Leaf, escolhemos um trajeto de 15 quilômetros e o colocamos no modo normal de condução. De acordo com o computador de bordo, ao final do percurso, gastamos “apenas” 12 quilômetros de autonomia, sempre fazendo uso do freio tradicional e, sempre que possível, do freio motor localizado em um paddle atrás do volante.
Quando deixamos o câmbio no modo L (um equivalente ao modo B de outros carros), o Bolt adota um comportamento mais travado e que privilegia o recarregamento com a energia cinética. Já abordamos esse comportamento na análise do Leaf e aqui podemos adotar o mesmo critério: a economia gerada com o câmbio no L não chega a ser tão vantajosa a ponto de prejudicar o conforto na viagem. Pense na seguinte situação: descendo a Serra do Mar rumo ao litoral sul de São Paulo e você precisa deixar o automóvel com uma marcha bem alta e velocidade de cruzeiro; no modo L, o carro vai ficar te segurando, o que, claro, tornará a viagem bem mais chata.
Portanto, por mais que a Chevrolet diga que o Bolt é capaz de rodar, com uma carga, os 416 quilômetros, dependendo de como você conduzir o carro, é possível fazer até mais, o que justificaria, com sobras, ter o automóvel para o uso na cidade e, se você se planejar bem, dá até para fazer viagens curtas, como desse exemplo que demos acima.
Para carregar o Bolt, aliás, além de usar as próprias features do carro, podemos utilizar o carregador que já vem com o veículo e espetá-lo em nossa casa, desde que a tomada seja aterrada e tenha 220v. Nessa configuração, a carga completa demoraria 20 horas. O usuário, aliás, pode ir a qualquer uma das concessionárias Chevrolet credenciadas para comercializar o Bolt EV para adquirir o aparelho de recarga rápida, que pode ser instalado na garagem do cliente pelo valor de R$ 8 mil.
Quatro vezes mais eficiente que a recarga numa tomada 220V convencional, o aparelho de recarga rápida fornece uma quantidade de energia por hora suficiente para que o veículo rode cerca de 40 km, média que um motorista comum percorre por dia. Neste caso, a recarga completa das baterias leva por volta de 10 horas. Já em eletropostos de alta voltagem, bastam 30 minutos de recarga para o carro rodar cerca de 160 km e, em uma hora e meia, 100% da carga. O Bolt conta com garantia de três anos para o veículo e de oito anos para as baterias de íon-lítio.
Equipamentos premium
Além de toda a eficiência que o Chevrolet Bolt esbanja, ele é um carro muitíssimo bem equipado, com itens dignos de carros premium. São 10 airbags, assistente de permanência na faixa, alerta de ponto cego, aviso de tráfego traseiro cruzado, alerta de colisão frontal e sistema de frenagem automática com detecção de pedestres para mitigar acidentes. Além disso, o modelo que testamos vem com as novas câmeras de alta definição para visão 360º, que auxiliam, e muito, em manobras de estacionamento, e ficam localizadas nas extremidades do veículo, melhorando a visibilidade. A definição dessas câmeras, aliás, são um capítulo à parte no Bolt, sendo uma das melhores que vimos aqui no Canaltech.
Desnecessário alertar, aliás, que todos os sistemas de segurança ativos e passivos ajudam, e muito, a condução, mas nada substitui a atenção do motorista. Em nossos testes, sempre procuramos colocar o automóvel em um ambiente controlado para que não haja acidentes, sobretudo quando precisamos avaliar os sensores de colisão. No caso do Bolt, eles se mostraram um dos mais competentes do mercado, mesmo usando-os em velocidades baixas.
Já no pacote de infotenimento, temos a excelente central multimídia My Link de 10 polegadas, modificada especificamente para o Bolt. Nela, podemos ver todos as informações referentes ao funcionamento do veículo e, claro, controlar tudo o que tange à mídia, com espelhamento ágil do Android Auto e do Apple Car Play. Sentimos falta, porém, de um sistema de navegação nativo e da internet nativa, algo que já é possível experimentar em outros veículos da marca.
O sistema de som é outro ponto forte do Bolt. Assinado pela Bose, os falantes dão a impressão de estarmos em uma sala acústica, com a banda, seja ela qual for, tocando bem na nossa frente. Sem exageros, é um dos melhores sistemas de som que tivemos a chance de testar no Canaltech – se não for o melhor.
O isolamento acústico, como era de se esperar, é excelente, fazendo com que nem mesmo estradas com asfalto áspero atrapalhassem o conforto sonoro da cabine.
Opção racional
Diante de tudo o que pudemos avaliar com o Chevrolet Bolt, ele se mostra como a opção de carro elétrico mais racional do mercado brasileiro. Com excelente autonomia, ótimo pacote tecnológico, direção divertida e espaço para toda a família, os R$ 175 mil acabam se justificando, mesmo que, com esse valor, consigamos adquirir modelos à combustão com mais “status”, por assim dizer.
Ter um veículo elétrico no Brasil implica em muitas dificuldades, sobretudo àquelas relacionadas à infraestrutura. Mas, com um bom planejamento e estudo para aquisição do carro, é possível ter apenas o Chevrolet Bolt em sua garagem. O investimento é enorme, mas a recompensa é proporcional.
O Chevrolet Bolt pode ser encontrado em concessionárias Chevrolet das seguintes cidades: São Paulo (SP), Campinas (SP), São José dos Campos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Florianópolis, Joinville (SC), Recife (PE) e Vitória (ES) por R$ 175 mil.
O Chevrolet Bolt utilizado nesta análise foi gentilmente cedido pela General Motors do Brasil ao Canaltech.
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