A Jeep é uma das marcas mais icônicas do mercado automotivo mundial e, de uns anos para cá, tem se destacado na produção de utilitários esportivos, segmento que, sobretudo no Brasil, é um dos mais competitivos. Seus veículos são conhecidos por aguentar o tranco desde a década de 1940, quando o Exército dos Estados Unidos, em meio à Segunda Guerra Mundial, precisava de carros que pudessem ajudar os soldados.

De lá para cá, muita coisa aconteceu e hoje a Jeep, além de sinônimo de veículo aventureiro e que foi feito para ir para o barro, também domina o asfalto das cidades, principalmente nas ruas esburacadas do Brasil, dignas de um off-road.

Seguindo a história de fazer carros icônicos, tal qual foi com o Jeep Wyllys e o Jeep Cherokee, a montadora, depois de adquirida pela Fiat para formar o grupo FCA (Fiat-Chrysler), precisava de um modelo capaz de balançar o mercado e marcar a volta à competitividade em alto estilo. Para isso, nada melhor do que apostar no segmento que em 2015 já despontava como o queridinho do mercado global: os SUVs.

O modelo foi o Renegade, que conseguiu aliar a pegada aventureira de um verdadeiro Jeep com tudo aquilo que uma pessoa urbana precisa para encarar o dia a dia em uma cidade agitada. O sucesso foi estrondoso e o modelo, que em breve ganhará sua primeira grande atualização depois de cinco anos de mercado, lidera o segmento em vendas gerais desde então, mesmo com concorrentes até mais modernos e equipados.

Mas o que será que fez o Jeep Renegade ter tanto sucesso assim? O Canaltech testou duas de suas versões: uma com motor 1.8 flex e outra com o 2.0 turbodiesel para tentar entender o que fez com que esse carro fosse tão bem assim.

Beleza, modernidade e robustez

A aparência do Jeep Renegade é, sem dúvidas, um ponto a ser destacado. A marca conseguiu aliar sua identidade antiga, principalmente com a grade frontal e conjunto óptico, com a modernidade exigida nos dias de hoje, com vincos e detalhes na lataria que passam um ar de agressividade.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Claro que gosto é gosto, mas muitos usuários de Renegade com quem conversamos atribuem ao design do SUV parte do seu sucesso. Além disso, o interior é algo que chama atenção, com materiais emborrachados em quase toda a cabine, diferente da maioria dos rivais, que usam e abusam do plástico duro.

Mesmo com o requinte e a modernidade presentes, o Renegade consegue ser robusto e transparece isso nos detalhes, desde os botões do ar-condicionado a empunhadura do volante. Além disso, a posição de dirigir é das melhores do segmento, com uma boa altura e campo de visão privilegiado, como poucos carros dentro da categoria.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Apesar da imensa gama de opções, o design pouco muda entre elas, seja nas mais em conta, seja nas mais completas e com preço salgado. Isso faz com que pessoas que não conheçam tão bem assim o carro o vejam na rua e sintam-se atraídos independentemente se é a versão Sport 1.8, de entrada, ou Longitude 2.0, uma das mais tops.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Com isso, o Jeep Renegade quebra paradigmas e consegue atingir boa parte dos clientes pelos detalhes e pela mensagem que quer transmitir, a de robustez aliada à modernidade e qualidade.

Encara quase tudo o que vê pela frente

Indo para o desempenho e conforto, também podemos ter boa noção do porquê esse SUV fazer tanto sucesso há anos. Para isso, é necessário separar as duas versões dirigidas pelo Canaltech: a Limited 1.8 e a Longitude 2.0. Mesmo que pela aparência as coisas mudem pouquíssimo, é no rodar que você pode perceber os pontos fortes e fracos de ambas opções.

Para ser sincero, os pormenores ficarão mais restritos à versão 1.8 flex. Isso se explica porque o motor 2.0 turbodiesel ficou simplesmente perfeito no Renegade. Com 170cv e 35,9 kgf/m de torque, o SUV fica muito ligeiro e forte, com acelerações espertas, retomadas seguras e bom consumo de combustível, mesmo com 1615kgs. Em nossos testes, foi possível fazer uma média de 11,5km/l em circuito misto. Se considerarmos apenas a estrada, beiramos os 15km/l e 10,5km/l na cidade.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Ainda falando sobre a versão Longitude, o que também ajudou a considerá-la apaixonante, para dizer o mínimo, foi sua suspensão independente (presente em todas as versões, é bom dizer) aliada à tração integral sob demanda. Sim, o Renegade é um 4×4 automático, ou seja, o carro escolhe quando o tracionamento será acionado, tal qual ocorreu em nossos testes com o Fiat Toro Ranch. E por falar no Toro, o câmbio também é o mesmo, um automático de nove marchas, outro dos mimos que tornam esse carro espetacular e muito gostoso de ser guiado.

Apesar de o tracionamento ser automático, ainda é possível escolher entre diferentes modos, como mud (lama), sand (areia), snow (neve) e low, que limita o carro nas duas primeiras marchas. As rodas na versão Longitude são aro 18, mas na versão Trailhawk, a topo de gama, são aro 17, o que facilita para um off-road mais seguro.

Já quando vamos para o 1.8, que usa o mesmo motor do Fiat Argo HGT, fica claro que, pelo menos nessa versão, o Jeep Renegade precisa de uma atualização urgente. Além de não ter um desempenho tão satisfatório, o 1.8 e-Torq de 139cv e 19,5kgf/m de torque é beberrão ao extremo, fazendo, no álcool, algo em torno dos 8,5km/l em circuito misto. Apesar disso, seu rodar é suave e silencioso e a buraqueira da cidade é vencida sem maiores problemas, já que ele, apesar de não ser 4×4, tem a suspensão independente nas quatro rodas, algo exclusivo na categoria.

As versões do Renegade que mais vendem são justamente as com motorização 1.8 porque o preço das turbodiesel são nada convidativos e fazem com que os clientes procurem modelos maiores e de categorias superiores, como o Jeep Compass, por exemplo, que chegou a liderar o mercado durante algum tempo.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Com isso em vista, a FCA deve lançar em breve os motores turbo flex feitos com base nos novíssimos Firefly que equipam as versões intermediárias do Argo e do Cronos. As variações, no entanto, ainda estão sendo estudadas, uma vez que teremos um 1.0 turbo que deve gerar algo em torno dos 130cv, e uma 1.3 turbo, que deve vir em versões de 150cv e 190cv (esta última para o Compass). Está confirmada, também, uma versão híbrida plug-in para o Jeep Renegade, que chegará ao Brasil depois da metade de 2021.

Os clientes do Renegade sabem que ele tem seus problemas, mas as virtudes, ainda mais levando em conta que ele é vendido majoritariamente nas grandes cidades, fazem com que ele vença a concorrência. O segredo, por aqui, é a suspensão, que torna as coisas muito, mas muito confortáveis. Mas está claro que o SUV compacto da FCA precisa ser atualizado urgentemente – e não apenas no motor de entrada.

A versão diesel, por sua vez, beira a perfeição. Mas ainda faltam coisas que falaremos a seguir.

Precisa de mais recheio

O Jeep Renegade não é um veículo dos mais equipados. Na versão Longitude turbodiesel, uma anterior à topo de linha, faltam itens como retrovisores rebatíveis, sensores de estacionamento dianteiros, park assist, e sistemas de segurança hoje presentes em concorrentes como Chevrolet Tracker e o recém-lançado Volkswagen Nivus.

Aquela robustez que atrai muita gente até hoje para o Renegade pode ser incrementada com pacotes tecnológicos mais interessantes. Tudo bem que o multimídia presente tanto na Longitude quanto na Limited é excelente e traz tudo o que precisamos, como os comandos do ar digital, itens do computador de bordo, conectividade com Android Auto e Apple Car Play e som de altíssima qualidade. Porém, está aquém, inclusive, de uma versão instalada no Fiat Toro, que tem até GPS nativo e navegação muito mais leve.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Isso tudo, claro, pode ser explicado pela concepção do veículo, que já é considerada antiga, uma que todos os seus rivais chegaram bem depois ou passaram para uma nova geração. Mas, calma, as coisas que faltam no Renegade não atrapalham na experiência de se ter um. Afinal, ele ainda conta com sete airbags, direção elétrica, piloto automático, freio de mão eletrônico, ar condicionado dual-zone, câmera de ré com auxílio gráfico, retrovisor fotocrômico, conjunto óptico full-LED, controle de estabilidade, controle de tração e troca de marchas no volante com os paddle-shifts.

Espaço pode (ou não) ser um problema

O Jeep Renegade não é o maior de sua categoria, mas isso não fez tanta diferença assim quando o comparamos com os rivais. Ele possui os mesmos 2,57m de entre-eixos que o Chevrolet Tracker e é menor do que o T-Cross (2,65m). Porém, ao entrarmos na parte traseira, a sensação de espaço é exatamente a mesma, com a vantagem de ter o teto um pouco mais alto do que os concorrentes.

O pecado, porém, vai para o minúsculo porta-malas, de apenas 320 litros. Pelo que apuramos, isso não deve mudar muito na próxima versão do Renegade, que pode ser apresentada agora em setembro. Para isso ocorrer, seria necessária uma boa mudança na plataforma do veículo, uma das mais rentáveis do mercado e que dá origem não apenas ao Renegade, mas também ao Compass e ao Toro.

O segredo do sucesso

Nos dias que passamos com o Jeep Renegade, dá para entender os motivos pelos quais ele faz tanto sucesso há anos. A resposta é: ele é um SUV de verdade. Não à toa, esse tipo de carro tornou-se sonho de consumo dos brasileiros e o Renegade consegue cumprir as expectativas dos clientes em quase todos os aspectos.

Imagem: Felipe Ribeiro/Canaltech

Apesar do pacote apenas razoável de itens tecnológicos e do espaço questionável, sua robustez, conforto e design únicos fazem com que ele conquiste e atenda às necessidades da maioria de seus usuários.

Mas, mesmo em time que está ganhando, algumas mudanças são mais do que bem-vindas. Um motor mais esperto e econômico para as versões de entrada torna-se urgente, além de um maior esmero com itens de segurança e conectividade, hoje presentes em modelos concorrentes e até mais avançados dentro da própria marca, como o Jeep Compass.

Todo produto líder de mercado conta com haters e com o Jeep Renegade não é diferente. Mas, ao dirigir um, logo você entende os motivos do sucesso.

O Jeep Renegade Longitude 2.0 4×4 pode ser encontrado por R$ 141.990. Já o Jeep Renegade Limited 1.8 sai por a partir de R$ 113.990

O Jeep Renegade Longitude analisado pelo Canaltech foi gentilmente cedido pela FCA. Já a versão Limited foi testada pelo repórter de maneira independente.



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