Foi no fim de 2019 que a Tesla fez estardalhaço com a Cybertruck, a controversa picape elétrica que será lançada apenas em 2021. Ao mesmo tempo, sua conterrânea Rivian R1T estava prevista para estrear em 2020, mas também ficou para o ano que vem.
Enquanto isso, vem da China a primeira picape elétrica produzida em série do mundo. Fabricada pela JAC, a iEV330P já pode ser reservada no Brasil por salgados R$ 289.900 antes de ser efetivamente lançada, algo que deve acontecer em outubro.
Antes disso, UOL Carros avaliou a picape em diversas condições e responde se a iEV330P é uma boa opção para o trabalho pesado ou se ainda não é a hora de abandonar os veículos a combustão.
Pontos Positivos
- Autonomia
- Espaço interno
Veredito
Quem procura uma picape para uso recreativo (ou seja, como um automóvel de passeio na maior parte do tempo) não deve comprar a iEV330P. Sua vocação é o trabalho pesado, e nisso ela se sai bem. Embora a capacidade de carga não seja tão grande assim (800 kg) e o preço seja bem elevado, a motorização elétrica pode representar uma boa economia nos custos de manutenção a médio e longo prazos.
Quem acompanha a trajetória das marcas chinesas no mercado brasileiro sabe que a JAC é uma das poucas empresas que sempre tiveram personalidade. Porém, isso não significa que seus produtos sigam uma mesma identidade visual, como acontece na maioria das fabricantes.
A iEV330P é um bom exemplo, já que tem um visual completamente descolado do restante da linha, como os também elétricos iEV20 e iEV40. Aqui não há presença maciça da cor azul (que evocam sua vocação sustentável de não emitir poluentes) pela carroceria ou detalhes futuristas. Na verdade, o estilo é conservador a ponto de parecer um modelo de quase 10 anos atrás diante das picapes atuais.
Mas o conjunto geral não desagrada, só é tradicional demais. Pelo menos há cromados na dose certa, especialmente na frente, que traz um estilo imponente mesmo sem recorrer a vincos e soluções rebuscadas.
Atrás, as linhas são bem resolvidas, embora as bordas da caçamba sejam baixas demais para os padrões atuais – o que, além de prejudicar a estética, afeta a acomodação da carga.
O interior surpreende positivamente por alguns detalhes. Se não enche os olhos como nas picapes médias mais tradicionais (vide S10 High Country e Ford Ranger Limited que participaram do nosso duelo), a cabine da iEV330P preza pelo visual limpo.
É muito fácil encontrar todas as funções pelo interior e existem até apliques em couro marrom no painel. O acbabamento não é requintado, mas também não se notam peças plásticas de qualidade ruim ou mal encaixadas.
A cor do revestimento da unidade avaliada era um tom de marrom de muito bom gosto. Poderia até estar em qualquer sedã compacto ou médio de entrada do nosso mercado. Os bancos dianteiros são confortáveis, mas atrás os ocupantes viajam em uma desconfortável posição com os joelhos elevados, que lembra as antigas picapes de meados dos anos 2000. Em contrapartida, o espaço interno é muito grande, a ponto de regular o banco dianteiro na sua posição e ainda ser possível cruzar as pernas.
Sabe aqueles vídeos de carros elétricos com arrancadas vigorosas que deixam superesportivos para trás? Pois é, isso não vai acontecer na iEV330P. E nem é para ocorrer mesmo, já que aqui o foco está no transporte de carga em vez de performance.
O motor elétrico alimentado por uma bateria de 67 kWh entrega aproximadamente 150 cv e torque de 33,6 kgfm disponíveis instantaneamente. Não vai ser suficiente para deixar todos para trás depois da luz verde, mas a picape transporta carga na caçamba sem muitos problemas.
Chamou nossa atenção a boa autonomia de 320 quilômetros, mais do que suficiente para cobrir deslocamentos urbanos e capaz até de realizar viagens sem grandes preocupações.
Só não pode é ter pressa, já que a velocidade máxima é limitada a 98 km/h – e a picape sofre um pouco para chegar lá.
Outro ponto importante é o seu comportamento dinâmico. A suspensão se comporta muito bem em pisos lisos, especialmente no asfalto, mas se mostra muito desconfortável fora dele. A calibragem tradicionalmente mole dos carros chineses atrapalha até a absorção de impactos leves, como pequenos buracos, que são prontamente transmitidos para os passageiros.
De acordo com a JAC, o custo do consumo de energia elétrica é de R$ 11 a cada 100 quilômetros rodados (20 kWh para 100 quilômetros).
A unidade avaliada ainda é um protótipo trazido para realizar testes, tanto é que ainda ostentava as placas verdes para este tipo de atividade. É por isso que a picape ainda tinha um carregador que mais parecia um transformador, suficiente para nos salvar desde que encontrássemos uma tomada do padrão chinês. Foi por isso que não pudemos recarregar a picape nos poucos pontos espalhados por aí.
Por sorte havia também uma tomada do padrão Tipo 2, que é utilizado nos carros elétricos da Europa – e que hoje pode ser encontrado em postos de combustível e supermercados espalhados nas grandes cidades do país.
De acordo com a JAC, a iEV330P será equipada com um sistema de recarga semelhante ao do iEV40, inclusive com a possibilidade de carregá-la em uma tomada convencional de 110 volts ou 220 volts. Nestas condições, porém, é claro que o tempo de carregamento será bem maior do que nas estações de recarga.
Mesmo custando quase R$ 300 mil, a picape não traz uma generosa lista de equipamentos.
Não há tecnologias como alerta de colisão, frenagem autônoma e outras assistências de condução presentes nas picapes mais tradicionais. Apesar disso, a iEV330P oferece conforto para quem vai utilizar o veículo para trabalho.
Por isso entenda-se ar-condicionado, direção elétrica, vidros elétricos nas quatro portas, travamento central das portas, central multimídia, câmera de ré, espelhos retrovisores com ajustes elétricos, rodas de liga leve, luzes diurnas em LEDs, faróis de neblina e sensores de estacionamento traseiros.
Segurança não é a principal virtude da picape, que só traz airbag duplo e freios ABS obrigatórios por lei.
Em contrapartida, os custos de manutenção estão entre as principais armas para fisgar os frotistas.
A fabricante ressalta que as despesas com trocas de peças serão bem menores do que nos veículos movidos a combustão. Isso porque um carro elétrico não possui peças como câmbio, radiador, filtro de óleo, correias e velas, entre outras.
Assim, a JAC estima um custo até seis vezes menor do que em um veículo térmico equivalente. A empresa ainda não definiu os custos de revisão, mas levando em consideração a tabela do iEV60 (que é movido por uma bateria de 63 kWh semelhante a da picape), o proprietário precisará desembolsar menos de R$ 800 para fazer as seis primeiras revisões.
A iEV330P é o caso raro (se não único) nas avaliações de UOL Carros. Simplesmente não há concorrentes na categoria em que estreia (picapes médias elétricas) não só no Brasil como no mundo.
Até seria possível apontar algumas picapes movidas a combustão como possíveis rivais. Entretanto, a diferença de preço entre elas (as versões mais caras custam de R$ 210 mil a R$ 240 mil) e até as propostas distintas atrapalhariam possíveis comparações.