Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Foto: Sergio Quintanilha / Reprodução

Um dia depois que a ONU lançou um alerta global sobre as dramáticas consequências que virão do aquecimento global, a Anfavea apresentou um amplo estudo sobre os caminhos da descarbonização de veículos leves e pesados no Brasil. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, o país será afetado de qualquer maneira pela eletrificação, mas pode escolher entre três cenários. 

No primeiro cenário, o inercial, ou seja, não fazer nada além do que já está sendo feito, o país terá uma participação pífia no novo mundo de veículos eletrificados. Mesmo assim, as vendas de veículos eletrificados passarão do atual 1% de participação para 12% em 2030 e 32% em 2035 (incluindo todo tipo de eletrificação, inclusive os híbridos leves).

No segundo cenário, o de convergência global, as vendas de veículos eletrificados chegarão a 22% em 2030 e a 62% em 2035. Este cenário, entretanto, exige participação de políticas públicas, como incentivos na produção e fabricação de veículos elétricos.



Dois cenários para a frota brasileira.

Dois cenários para a frota brasileira.

Foto: Anfavea

Há um terceiro cenário, o de protagonismo nos biocombustíveis, que exigirá do país fortes investimentos em infra-estrutura, na fabricação e no comércio desses veículos. “Podemos ter uma avalanche de investimentos no Brasil nesta década”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Podemos ter nos próximos 15 anos um pacote de investimentos superior a 150 bilhões de reais. Não podemos perder isso.”

Neste cenário, o Brasil se torna uma potência na questão dos biocombustíveis. Nesse caso, não haveria tanto foco na eletrificação, mas sim na descarbonização, por meio da combinação do etanol com a propulsão elétrica. Em relação ao uso de biocombustíveis, os veículos leves (automóveis de passeio e comerciais) representariam 53% do mercado em 2030 e 61% em 2025. Os veículos pesados (caminhões e ônibus) passariam a 25% em 2030 e a 30% em 2035.

Os números são de um estudo da BCG (Boston Consulting Group), que analisou o panorama mundial de eletrificação dos veículos. “Os custos da bateria estão caindo mais rápido do que o previsto”, disse Masao Ukon, da BCG. Em 2010, apenas 1 milhão de veículos produzidos no mundo eram eletrificados. Em 2018, esse número havia subido para 5,5 milhões, em 2019 passou a ser de 8,2 milhões e em 2020 alcançou 8,4% milhões (sendo 23% totalmente elétricos).



Participação dos carros eletrificados no mundo.

Participação dos carros eletrificados no mundo.

Foto: Anfavea

Segundo a Anfavea, o Brasil pode se tornar relevante até neste mercado, pois tem reservas de matéria-prima para a produção de baterias: 2,4 mil toneladas/ano de Lítio, 61 mil ton de níquel, 96 mil ton de grafite e 1,7 mil ton de manganês. Além disso, na produção de etanol, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial com 32,4 bilhões de litros/ano, atrás apenas dos Estados Unidos (59,7 bilhões de litros) e muito à frente da Europa, que está em terceiro lugar com 5,5 bilhões de litros. “Esta é uma vantagem que o Brasil já tem instalada, é uma vantagem que já está nas ruas”, disse Henry Joseph Junior, da área técnica da Anfavea.

O caminho da descarbonização passa também pelo custo de propriedade do veículo eletrificado, que está caindo. Segundo Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea, com uma utilização de 12.000 km/ano, a paridade de preço entre um carro compacto a combustão com um híbrido ocorrerá somente em 2035. No caso de um médio, ocorrerá em 2029. E no caso de um SUV médio, ocorrerá em 2029.

Porém, com uma utilização maior, de 35.000 km/ano, a paridade no preço do carro compacto (segmento B) ocorre já em 2025 e a do carro médio (segmento C) ocorre em 2027. Já com uma forte utilização de 60.000 km/ano, a paridade no preço ocorre em 2029 para carros do segmento B e em 2024 para carros do segmento C. “Uma política pública de preços dos combustíveis influencia o custo total de propriedade do veículo”, disse Saltini. O custo total considera a aquisição, o financiamento, a substituição da bateria, o combustível, a manutenção, o IPVA e o residual.

A Anfavea pleiteia protagonismo no Brasil na descarbonização, pois várias empresas seguem a tendência global de redução de emissões. A Ambev quer reduzir 25% até 2025, a JBS quer zerar as emissões até 2040, a L’oréal pretende zerar já em 2025 e o Uber terá uma frota 100% elétrica até 2040. É um mercado enorme, que o país não pode ignorar, na visão da Anfavea.

Atualmente, a emissão de CO2 no Brasil tem uma média de 144 g/km do tanque à roda e de 112 g/km do poço à roda. Ou seja: há uma redução de 22% na medição do poço à roda, que considera o ciclo completo da produção e abastecimento. Considerando apenas as emissões do tanque à roda, há uma emissão de CO2 de 149 g/km na gasolina e de 136 g/km no etanol. Por isso, é preciso que o etanol esteja de alguma forma ligado também a um motor elétrico para que essa redução seja mais significativa.

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