Nos anos 2000, pelas ruas da Vila Matilde (zona leste de São Paulo), uma menina de nove anos desafiava a todos com seu veículo de quatro – pequenas – rodas. Quatro anos depois, ela se mudou sozinha para Los Angeles (EUA) para investir em sua carreira no skate. A decisão não poderia ter sido mais acertada: gerou grandes conquistas e uma garagem cheia de “carrões”. Estamos falando da skatista brasileira Leticia Bufoni.

Entre seus feitos estão ser a maior medalhista dos X-Games (campeonato de esporte radicais) ou ter feito parte da primeira seleção brasileira da história do skate em Olimpíadas. Mas Bufoni dedica boa parte de sua vida também a motos e carros.

Inspiração para Rayssa Leal, Bufoni também competiu na Olimpíada de Tóquio — Foto: Divulgação/COB

Assim como ocorreu com o skate, a paixão pelo mundo automotivo começou cedo, por influência do pai. Com 12 anos, época em que já ganhava dinheiro com competições de skate e patrocinadores, ela comprou sua primeira moto: uma Honda Biz.

Um ano depois, a skatista resolveu investir em carros e adquiriu um Fiat Uno. Porém, com apenas 13 anos, não podia dirigir; assim, o modelo era conduzido por pessoas da família.

“O Jeep Compass foi meu primeiro carro de verdade, o primeiro que pude dirigir”, conta a paulista. O SUV foi a escolha de Bufoni aos 17 anos. Nessa época, ela já vivia nos Estados Unidos. Vale lembrar que a idade mínima para tirar a carteira de habilitação no país é 16 anos.

Bufoni comprou o Jeep Compass 2010, que acabara de receber um facelift — Foto: Divulgação

Apesar de a atual geração do Compass ser a mais lembrada, o modelo comprado pela skatista nos Estados Unidos também foi vendido por aqui. Nos Estados Unidos, Bufoni não pensou duas vezes e, em 2010, comprou o modelo, que acabara de passar por um facelift. “Vi o Jeep, gostei e comprei. Com o carro eu podia ir a qualquer lugar sem depender de mais ninguém, era um sentimento de liberdade.”

No mesmo ano, a atleta se destacou nos X-Games ao conquistar a medalha de prata – cor também de seu utilitário.

Ela relata que escolheu o modelo por ser grande e alto, características que possibilitavam que o carro a transportasse para treinar outros esportes radicais, além de andar de skate.

Compass da atleta tinha tração integral, o que ajudava a chegar aos picos das montanhas para praticar snowboard — Foto: Divulgação

“Como o Compass era 4×4, eu conseguia subir montanhas e andar na neve com ele. Era o modelo que me levava para praticar snowboard”, conta.

Após um ano com o carro, Bufoni decidiu investir em outro automóvel: “Como eu viajava muito, ia para pistas de skate que ficavam longe, resolvi testar o Toyota Prius híbrido, que era febre aqui nos EUA”. Mas ela não parou por aí.

O ano de 2013 foi de muitas conquistas para Bufoni. Ela ganhou a primeira medalha de ouro nos X-Games e conseguiu realizar um sonho: comprar um BMW X6.

“O carro dos meus sonhos sempre foi o X6, e com 20 anos consegui comprar um. Era o carro que eu realmente queria desde pequena”, revela a atleta.

BMW X6: primeiro SUV cupê fica maior, mais potente e tecnológico, tem até grade iluminada

Ela explica que, ao se mudar para os EUA, passou a ver mais “carrões” pelas ruas que no bairro da Vila Matilde, onde morava, o que motivou ainda mais sua paixão por esses veículos.

Mesmo gostando muito de seu X6, que é um SUV cupê, Bufoni tinha – e ainda tem – uma queda por modelos esportivos.

“Eles me dão a sensação de estar dentro de um carro de corrida de verdade, porque são pequenos, baixos e rápidos.”

Quem acompanha Bufoni conhece seu antigo Audi R8 envelopado com a cor roxa. Equipado com motor V10 5.2 de 525 cv, o esportivo era exibido a todo momento nas redes sociais da atleta. Mas ela decidiu vendê-lo e confessa que sente saudade de seu xodó.

A skatista revela que seu “consolo” foi saber que um outro “brinquedinho” estava chegando. Recentemente, a atleta ganhou um McLaren 720 S da cor Volcano Yellow, e fala com bom humor: “Não é tão legal andar com ela na rua como é na pista. Com certeza, dirigir um McLaren desse na pista seria muito mais divertido”.

Entretanto, ela admite que “só o fato de estar dentro de um esportivo como esse, com seu poder de arrancada, faz toda a experiência valer a pena”. O 720 S é equipado com um V8 biturbo 4.0 e um motor elétrico que, juntos, entregam aproximadamente 730 cv de potência.

Com velocidade máxima de 341 km/h, o McLaren vai de 0 a 100 km/h em menos de três segundos – convenhamos, é um belo “brinquedinho”.

A atleta também tem um Land Rover Discovery Sport, que nos EUA é vendido com motor 2.0 turbo a gasolina de 250 cv, além de uma Harley-Davidson customizada: a moto tem banco só para o piloto, acabamento fosco, uma bolha ao redor do farol e assento adaptado que se estende sobre o para-lama traseiro.

Além das pistas de skate

A adrenalina de correr com veículos (não só com skates) sempre esteve presente na vida de Bufoni: “Quando eu era menor, adorava andar de kart. Acelerar esses esportivos me traz a mesma sensação”.

Foi durante os treinos de skate, inclusive, que ela começou a correr de kart. “Desde pequena eu queria dirigir, e esse foi o jeito que achei para matar a vontade ainda criança. No Shopping Aricanduva [zona leste de São Paulo] havia pistas de skate e de kart. Depois de andar de skate eu sempre passava pelo menos uma hora acelerando um kart lá.”

Bufoni conta que treinava todos os dias e até participou de campeonatos da categoria; no entanto, entre as manobras do skate e as corridas, escolheu a primeira opção. Ao se mudar para os EUA deixou de praticar kart, mas há alguns meses voltou a correr com o monoposto.

“Sempre que tenho tempo eu ando de kart, mas para isso preciso ir a Las Vegas, lá estão as melhores pistas.”

Não contente em andar de skate, acelerar carros esportivos e karts por aí, a atleta resolveu desbravar o mundo do drift. Em março deste ano, fez um curso com Diego Higa, piloto brasileiro do esporte. No último sábado (18), Bufoni apresentou seu carro adaptado no Fórmula Drift de Los Angeles. O Nissan 370Z foi projetado pelo campeão da categoria, Chris Forsberg.

“Todo preparado para drift, o carro tem a gaiola no centro e body kit [alterações nos para-choques dianteiro e traseiro, spoilers, entradas de ar do motor, escapamentos e suspensão], além de modificações para reduzir o impacto. O meu 370Z também tem rodas específicas para o esporte. Ele é todo ‘mexido’, tem até break, aquele freio de mão alto, típico do drift”, conta a skatista.

O 370Z de Bufoni deve dar as caras em muitas pistas nos EUA. Isso porque ela afirma que quer investir no drift. “Espero que eu consiga treinar bastante, ficar boa nessa modalidade e, quem sabe, um dia competir. Ainda não há um circuito feminino desse esporte, mas talvez eu possa ser a pessoa que ajude isso a acontecer um dia.”

Desbravar áreas ainda dominadas por homens, como a do skate e a automotiva, é uma especialidade de Bufoni. Seu amor por carros é tão aparente que, recentemente, a atleta foi convidada para fazer um tour pela sede da McLaren, na Inglaterra. “Quando recebi o convite, não acreditei. Nunca pensei que um dia poderia conhecer a sede da montadora, muito menos andar de skate lá.”

O momento mais marcante da visita remeteu ao seu país natal e ao interesse por Fórmula 1: “Sempre gostei de Fórmula 1, foi incrível poder colocar a mão no capacete do Ayrton Senna e no volante do carro dele. Foi algo inacreditável”, afirma entusiasmada.

Com skate, snowboard, kart e drift no currículo, ficamos curiosos para saber qual será o próximo desafio de Bufoni. E, claro, se for algo ligado à sua paixão por carros, a Autoesporte não vai deixar de relatar.

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