Na indústria automotiva global, só se fala em veículo elétrico. No entanto, deve levar um bom tempo para esses automóveis se tornarem acessíveis. No Brasil, o etanol deve ter um papel de destaque na transição para o elétrico.
A avaliação é do italiano Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na América Latina, empresa que trará seu primeiro elétrico ao Brasil no fim do ano, o Fiat 500e. A FCA é líder em vendas no país com as marcas Fiat e Jeep. Para ele, os elétricos ainda devem conviver, por um tempo, com o etanol no Brasil.
Quando os veículos elétricos terão preços mais acessíveis?
Como nos demais mercados, a demanda por carros elétricos vai crescer no Brasil. Não tenho dúvida. Mas a velocidade com que isso vai ocorrer é a grande questão.
No início, a FCA vai importar veículos, como todas as outras empresas. Depois de estudar a resposta do mercado e a possibilidade de viabilizar tecnologias mais baratas e competitivas, deveremos ter uma oferta maior. Até lá, o etanol será de suma importância.
Ele será importante na transição para motores mais limpos?
Sim. O Brasil vai seguir as demais regiões na eletrificação, mas será protagonista no etanol. O veículo elétrico não vai chegar amanhã nem nos próximos cinco anos em larga escala. Vai haver uma curva de crescimento em que o motor a combustão terá participação menor. Nesse cenário, o etanol continuará sendo de extrema importância, inclusive nessa transição.
Por quê?
A cadeia de produção do etanol torna o combustível altamente eficiente do ponto de vista das emissões de gás carbônico. Além disso, o setor sucroenergético está focado em produzir combustíveis mais eficientes e já tem uma oferta estável e previsível.
Quais são os desafios da FCA depois da fusão com a PSA Peugeot Citroën, anunciada em dezembro?
Todo processo de fusão e aquisição tem suas particularidades, mas existem áreas comuns no setor automotivo para sinergias, como a engenharia, o desenvolvimento de produtos e, claro, a eletrificação, que é obviamente um tema para se tratar de forma conjunta o mais rapidamente possível. Isso tudo faz parte de um estudo que está sendo realizado e deve terminar neste ano.
Qual é o papel do Brasil na estratégia da FCA no mundo?
Entre as quatro regiões da FCA, a América Latina apresenta o segundo maior faturamento do grupo. Parte importante dos planos estratégicos está sendo desenvolvida no Brasil. Por isso, o país vai receber um investimento expressivo, de 16 bilhões de reais, no período de 2018 a 2024. Vamos ampliar o papel tecnológico do Brasil na indústria automotiva.
No Brasil, a Fiat é forte em compactos; e a Jeep, em utilitários esportivos (SUVs). Como posicionar o grupo?
Temos um bom equilíbrio entre as marcas, que pode ser melhorado. Jeep é sinônimo de SUV. Para a Fiat, que é forte em carros de passeio e picapes, falta um SUV próprio, mas não pode ser uma cópia da Jeep. É preciso respeitar os valores e o DNA da marca e manter uma oferta democrática.
A política econômica do governo tem ajudado?
A agenda econômica do governo é interessante. Como indústria, nos atrai a proposta de abertura gradual do mercado. Paralelamente, o Brasil precisa ganhar competitividade para se integrar ao mercado global e não atuar somente no plano doméstico. A agenda passa pelas reformas que estão sendo trabalhadas, por isso somos otimistas e continuamos investindo.