Modelos mais antigos tiveram queda menos acentuada, enquanto os mais novos mostram uma recuperação mais acelerada. Associação de lojistas espera fechar 2020 com o mesmo número de vendas de 2019. Loja de carros usados em São Paulo
Fábio Tito/G1
Com a reabertura de concessionárias e lojas de carros multimarcas em muitas cidades, o setor começa a esboçar aumento nas vendas, depois de registrar quedas consideráveis em março, abril e maio.
E é o segmento de usados que tem mostrado sinais mais claros de recuperação depois do início da pandemia do coronavírus.
Imagem de arquivo de uma concessionária em SP
Fábio Tito / G1
Como comparação, a venda de carros e comerciais leves novos em junho deste ano foi 42,5% menor do que no mesmo período do ano passado. Entre os usados, o tombo foi inferior, de 32,1%.
Também é preciso considerar que o mercado de carros usados é bem maior do que o de novos: 3,34 milhões de unidades contra 763 mil no primeiro semestre de 2020, segundo números da Fenabrave, a associação das concessionárias.
Ainda assim, o setor de usados acredita que 10% das 48.600 lojas de carros já fechou ou vá fechar até o fim da pandemia. “Também nos preocupa o desemprego do setor, já que muitas vendas são online”, disse Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto, entidade que reúne lojistas de carros seminovos e usados.
Segundo ele, este segmento emprega 650 mil pessoas, direta ou indiretamente. Nesse caso, a previsão é que 25 mil vagas sejam fechadas.
Mesmo com menos lojas abertas, a associação vê com otimismo os números de vendas de usados de junho. Caso eles se repitam ao longo do ano, a queda do primeiro semestre poderá ser revertida.
“A recuperação tem sido mais rápida do que esperávamos. Esse ano, se continuar como foi junho e está sendo julho, acreditamos que podemos empatar com o ano passado”, disse o presidente da Fenauto.
Em 2019 foram comercializados 14.592.691 veículos, 2,2% mais do que em 2018.
“Os compradores existem, é que as pessoas estavam segurando”, completou.
Lojas de carros usados recebem modelos mais antigos
Nilson Porcel/EPTV
Estoques estão altos
Quando esses compradores decidirem ir atrás de um carro, encontrarão mais opções nas lojas. Isso porque os estoques estão mais altos.
De acordo com o Estudo de Performance de Veículos usados, realizado pela empresa de consultoria em distribuição de veículos MegaDealer em parceria com a startup AutoAvaliar, os pátios das concessionárias têm carros para 69 dias de vendas, o índice mais alto já registrado em 2020.
Esse estudo leva em conta dados de 2 mil concessionárias de todo o Brasil.
“Quando o estoque passa de 60 dias, a preocupação é que é o capital do concessionário que está parado. Por isso, a necessidade de fazer caixa deve deixar as margens menores”, explica Fabio Braga, da MegaDealer.
A fala de Braga vai ao encontro dos dados fornecidos pela KBB, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos que usa informações de classificados e anúncios.
Em junho, veículos seminovos, com até 3 anos de uso, ficaram 1,52% mais baratos em relação ao mês anterior. Mesmo em maio, os preços já haviam caído 0,66% ante abril. Essas desvalorizações ainda são maiores do que a média de 2020, de 0,79%.
Os carros de 3 a 10 anos de uso também seguiram a mesma tendência de queda nos preços. Em maio, a desvalorização foi de 2,24%, um pouco acima dos 1,73% observados em junho. Nos dois meses, porém, a redução nos valores foi superior à média anual, que é de 0,75%.
A queda nos preços pode ser a oportunidade para quem está buscando comprar um carro.
“Com a pandemia, surgiu o medo de usar o transporte públivo”, disse Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics”.
A opinião é compartilhada por Ilídio dos Santos, da Fenauto, e também por Fabio Braga, da MegaDealer.
“Se o capital é menor, insuficiente pra comprar um carro zero, a busca acaba sendo por um seminovo ou usado”, completou Milad.
Além disso, especialistas acreditam que exista uma demanda reprimida por carros usados e seminovos. “Existe uma leva de pessoas que anda buscando um veículo, mas não concretizou a compra pela instabilidade ou pela falta de segurança na renda”, explicou Ana Renata Navas, diretora geral da KBB Brasil.
Ela afirma que as buscas na plataforma aumentaram 34% em junho na comparação com maio. Mesmo em maio, a KBB já havia registrado alta de 31% sobre abril.
Perfil das vendas
Considerando a idade dos carros vendidos, aqueles mais antigos sofreram quedas menores do que os menos usados. Por outro lado, o crescimento maior é exatamente entre os modelos mais recentes, com até 3 anos de uso. É o que mostra o gráfico abaixo.
Essa busca por modelos mais novos também pode ser percebida no preço médio dos carros vendidos. É o que mostra o estudo da MegaDealer e da AutoAvaliar.
O preço venda médio em maio de 2020, já quando muitas lojas reabriam após o início da pandemia, foi de R$ 46,1 mil, contra R$ 43,1 mil em abril e R$ 42,1 mil do ano de 2019 inteiro.
“Os carros mais baratos pararam de vender porque a renda mais baixa afeta o poder de compra. Aí vemos a subida no ticket médio”, disse Fabio Braga, da MegaDealer.
Usados ‘rejeitados’
O estudo também mostra que a maioria dos veículos mais antigos sequer fica nas concessionárias. O destino de boa parte desses modelos são os lojistas multimarcas.
Fenômeno contrário ao que acontece entre os usados mais novos, que quase sempre ficam nas próprias concessionárias.
É curioso observar, porém, que os maiores lucros na hora da revenda estão com os modelos mais “velhinhos”. Um carro 2007, por exemplo, é vendido, em média, com 18% de lucro, o dobro da margem de um carro 2019.
“Será que não há uma oportunidade de lucro nos bons velhinhos, que normalmente são repassados? Eles têm rentabilidade muito boa. Pode ser um caminho”, disse Fabio Braga.
Ainda sobre a rentabilidade, a pesquisa mostra que o lucro bruto dos concessionários analisados voltou aos patamares pré-pandemia, acima de 11%.
No entanto, Braga acredita que essas margens devem se estabilizar em um patamar mais baixo nos próximos meses. Culpa dos estoques altos, que vão forçar os lojistas a baixar os preços, conforme tendência apontada pela KBB.
Outra oportunidade para as lojas pode ser o desespero de quem precisa vender um carro para conseguir dinheiro rápido. Porém, essa condição, segundo Milad Kalume, da Jato, só é válida para aqueles lojistas com melhores condições financeiras.
Afinal, quem está buscando limpar o pátio dificilmente quer (ou pode) bancar a compra de mais carros.
Fonte: Auto Esporte