Se a mistura das carrocerias de SUV e cupê podia causar algum estranhamento tempos atrás, esse conceito se espalhou rapidamente pelo mercado e hoje há diversas opções com essa silhueta atraente, porém não tão prática. Porque é uma faca de dois gumes: apesar de oferecer um ar de esportividade e estilo bem marcante, o espaço para os passageiros de trás, um dos apelos de um SUV tradicional, fica prejudicado. É o caso do RS Q3 Sportback.

Bem, não há como negar que o bichão é bonito e vira pescoços por onde passa. Ainda mais nesta chamativa cor verde Kaylami — um mimo de R$ 37 mil extras no valor total do carro, que custa salgados R$ 512.990. É o único opcional, porém.

O desempenho do motor de cinco cilindros merece ser exaltado, pois torna o RS Q3 Sportback um carro divertido e arisco de pilotar — Foto: Divulgação

O time da Audi se esforçou para deixar o dócil e familiar Q3 com uma cara mais agressiva, com a grade dianteira em formato colmeia, o para-choque diferenciado e as enormes entradas de ar sob os farois matriciais de LED. Atrás, as mudanças são poucas, como o novo para-choque e um spoiler integrado ao teto para ajudar no downforce.

Por dentro, os materiais são primorosos. No carro testado, detalhes e costuras eram todos na cor vermelha, um contraste interessante com o tom da carroceria. Mas é possível escolher o acabamento azul ou o preto, o que a Audi chama de “opcionais sem custo”. Essa lista inclui, por exemplo, capas de retrovisores de alumínio, preto brilhante ou da cor do veículo, detalhes do console central de alumínio ou preto brilhante, pinças de freio pretas e até mesmo rodas de 20″ com diferentes designs.

Interior traz costuras vermelhas que contrastam com o verde da carroceria — Foto: Divulgação

Faltou trazer o opcional mais interessante disponibilizado para o RS Q3 lá fora, os freios de carbono-cerâmica. Isso porque o preço é alto: no andar de cima, RS 6 Avant, RS 7 Sportback e RS Q8 oferecem o equipamento cobrando meros R$ 95 mil. Por outro lado, é um alerta de que você não deve andar no mesmo ritmo do pelotão de topo da Audi.

Como não poderia deixar de ser para um carro que custa mais de meio milhão de reais, há uma longa lista de equipamentos de série. Apesar disso, ainda faltam tecnologias que muitos concorrentes já oferecem, como monitoramento de ponto cego, frenagem autônoma de emergência e assistente de tráfego cruzado ou de estacionamento, por exemplo.

O já famoso Audi Virtual Cockpit mostra os instrumentos de forma clara, enquanto a central MMI traz diversas funções do carro — Foto: Divulgação

Entre os destaques estão teto solar panorâmico, bancos esportivos de couro Nappa com costuras em formato colmeia, volante esportivo com base plana revestido de Alcantara, partida por botão, seis airbags, assistente de partida em rampa e controle de descida, ar-condicionado automático de duas zonas, câmera de ré, controle de cruzeiro adaptativo com aviso de saída de faixa, painel de instrumentos digital com tela de 12,3″, central multimídia com tela de 10,1″ sensível ao toque com navegação e conexão com Android Auto e Apple CarPlay, carregador de celular por indução e sistema de som 3D da Bang & Olufsen.

Também há algumas gracinhas que fazem diferença nos detalhes: um pacote de iluminação customizável que possibilita escolher entre 30 cores de luzes internas, além da iluminação ao abrir as portas, quando o nome Audi Sport aparece projetado no chão. Um luxo!

O conforto no banco de trás, que já não era dos melhores, fica mais prejudicado pela linha de teto 45 mm mais baixa, o que, apesar de dar um visual marcante por fora, atrapalha quem vai dentro — ainda mais quem tem acima de 1,80 m de altura.

Por outro lado, o porta-malas, com abertura e fechamento elétricos, tem um ótimo volume mesmo com a caída acentuada da traseira: são 530 litros de capacidade — curiosamente, o mesmo tamanho de toda a linha Q3.

Já em termos de mecânica, vale a ressalva: em time que está ganhando não se mexe. Por isso, o RS Q3 Sportback é equipado com o mesmo arisco (e premiadíssimo) motor 2.5 turbo de cinco cilindros usado na primeira geração da versão apimentada do SUV e que equipa atualmente TT RS e RS 3. O propulsor, porém, “emagreceu” 26 kg graças ao bloco de alumínio e ao virabrequim oco. São 1.700 kg de peso total, mais leve que rivais como Porsche Macan Turbo e BMW X4 M40i.

Potência e torque, aliás, não estão para brincadeira: são 400 cv e 49 kgfm, o suficiente para levar o modelo aos 100 km/h em 5,7 segundos, de acordo com nosso teste em pista. É um bom número, mas fica longe dos 4,5 s anunciados pela montadora alemã. Limitada eletronicamente, a velocidade máxima é de 280 km/h.

Com centro de gravidade mais alto, é preciso cuidado ao entrar nas curvas; faltam também algumas tecnologias — Foto: Divulgação

As retomadas, por sua vez, são bem ligeiras, levando menos de 3 segundos para ir de 40 km/h a 80 km/h ou de 60 km/h a 100 km/h. Ou seja, se for preciso ultrapassar um caminhão bitrem na estrada de mão dupla, é só dar aquela espiada marota e tacar-lhe pau que o RS Q3 não vai decepcionar.

Até 85% do torque pode ser canalizado para o eixo traseiro por meio do câmbio automático de sete marchas e do consagrado sistema de tração integral quattro. O RS tem suspensão rebaixada em 10 mm, se comparado ao Q3 Sportback comum, para melhorar a estabilidade, mas ainda assim o centro de gravidade mais alto faz com que a carroceria role mais nas curvas.

Outro ponto positivo é a direção elétrica progressiva, bastante estável em velocidades altas e extremamente macia em baixas, contribuindo para que o SUV-cupê seja ágil e muito fácil de manobrar. Ele pode ser o menorzinho da família de SUVs, porém tem um porte até considerável, com mais de 4,5 metros de comprimento.

O RS Q3 é uma atração nas ruas, ainda mais neste verde de R$ 37 mil — Foto: Divulgação

Para deixar o desempenho ao gosto do freguês, o sistema Audi drive select dá uma mãozinha. Você pode ajustar os modos de condução em diferentes parâmetros, como direção, câmbio, suspensão, tração e até mesmo o som emitido pelo motor, entre conforto, normal e esportivo. Ao definir a combinação que mais agrada, é possível gravar na memória do sistema como RS 1 ou RS 2, acessando sua escolha facilmente por um botão no volante.

No dia a dia, o RS Q3 Sportback é um carro bem amigável, por incrível que pareça, apesar de suas configurações esportivas. O câmbio pode hesitar e ser letárgico em algumas situações, especialmente quando se pisa mais fundo, mas nada que atrapalhe consideravelmente a dinâmica.

Mas se você quer aventura e diversão, coloque tudo em modo Dynamic, inclusive o câmbio em modo Sport — nesse caso, é aconselhável fazer as trocas de marchas por meio das borboletas atrás do volante. Mas certifique-se de estar em uma pista com asfalto lisinho para não detonar a suspensão, que já é mais dura normalmente nos RS e fica ainda mais firme nessa configuração. Ah, e não se esqueça de aproveitar o ronco forte e gostoso emitido pela saída dupla de escapamento.

Grade preta no estilo colmeia deixa o visual do SUV-cupê mais agressivo — Foto: Divulgação

Você vai gastar mais combustível, é claro, mas vai valer a pena. Só não dá para rodar sempre dessa forma, ou é melhor ser sócio do posto mais próximo (e se for para levar ao pé da letra, lembre-se de que esse tipo de carro só bebe gasolina premium, hein!). Falando nisso, uma pausa para abordar esse quesito: o consumo do modelo (com a configuração no modo normal, obviamente) não é dos piores, com média de 10,2 km/l. Quem sabe ele não ganhe em breve a ajuda de um sistema híbrido leve, presente em muitos outros modelos da marca, para ajudar nessa economia? Alô, alô, Audi!

Só não confie de olhos fechados que os deuses da tração quattro trabalhando junto com os controles de estabilidade e tração farão todo o trabalho para você. A aceleração é bem rápida e até assusta em alguns casos, mas a estabilidade não acompanha a tocada na mesma medida, então é preciso entrar nas curvas com cuidado para não rodar. Ele pode não acompanhar o ritmo dos irmãos maiores, já que não tem recursos como rodas traseiras esterçantes ou os fatídicos freios de cerâmica, mas que o RS Q3 Sportback é um carro divertido, isso não há como negar.

Audi RS Q3 Sportback

Teste
ACELERAÇÃO
0 – 100 km/h: 5,7 s
0 – 400 m: 13,9 s
0 – 1.000 m: 24,5 s
Veloc. a 1.000 m: 225,4 km/h
Vel. real a 100 km/h: 98 km/h
RETOMADA
40 – 80 km/h (Drive): 2,7 s
60 – 100 km/h (D): 2,8 s
80 – 120 km/h (D): 3,2 s
CONSUMO
Urbano: 7,9 km/l
Rodoviário: 12,6 km/l
Média: 10,2 km/l
Aut. em estrada: 806 km

Audi RS Q3 Sportback

Ficha Técnica
Preço: R$ 512.990
Motor: Dianteiro, transversal, cinco cilindros em linha, 2.5, 20V, injeção direta, turbo, gasolina
Potência: 400 cv a 5.900 rpm
Torque: 48,9 kgfm a 1.950 rpm
Câmbio: Automatizado de dupla embreagem, 7 marchas, tração integral
Direção: Elétrica
Suspensão: Independente, McPherson (D) e multibraços (T)
Freios: Discos ventilados
Pneus: 255/40 R20
Tanque: 64 litros
Porta-malas: 530 litros (fabricante)
Peso: 1.700 kg
Central multimídia: 10,1 pol., sensível ao toque
DIMENSÕES
Comprimento: 4,51 metros
Largura: 1,85 m
Altura: 1,55 m
Entre-eixos: 2,68 m

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