Que o brasileiro ainda tem medo de adquirir carros elétricos é fato. Apesar da crescente alta de vendas, o consumidor local ainda vê barreiras como falta de infraestrutura, preço alto e tempo de recarga, por exemplo. Mas, por aqui, há maior interesse do público local pelo tema que em países ricos. É o que aponta pesquisa da McKinsey & Company.
Os dados foram apresentados na feira de negócios C-MOVE, no Veículo Elétrico Latino-Americano – que aconteceu até este domingo (4), na capital paulista. Além de números comparativos entre Brasil e as principais potências mundiais em relação à eletromobilidade, o evento apresentou tendências e diretrizes que devem chegar ao País no curto e médio prazos.
A princípio, o documento aponta que existem quatro grandes fatores que podem alavancar a eletromobilidade no Brasil. São eles: consumidores, tecnologia, infraestrutura e incentivo regulatório. Afinal, “o brasileiro tem um apetite enorme por novas tecnologias”. “O nosso estudo identificou que existe uma intenção de adoção acima da média de países desenvolvidos”. É o que diz Felipe Fava, líder do centro da mobilidade do futuro da McKinsey na América Latina.
Brasileiros na onda da sustentabilidade
A ideia de ter um carro “amigo do meio ambiente” é bem visto por 64% dos brasileiros. Ou seja, um percentual acima de suíços e alemães, com 58% cada. Em contrapartida, a pesquisa aponta que o acesso à recarga (64%) e a autonomia de bateria (43%) estão entre as maiores preocupações.
“Isso é falta de informação, porque essa ansiedade (por carregamento) não tem fundamento. Basta carregar o carro em casa. É questão de prática, de vivência”, argumenta Fava. Mas, por ainda ser uma realidade distante do bolso da maioria dos brasileiros, o estudo aponta grande interesse do consumidor local por soluções como assinatura de veículos eletrificados e micromobilidade. Afinal, o carro elétrico mais barato do Brasil, o Caoa Chery iCar, parte de R$ 144.990.
Entretanto, apesar do alto custo de compra, os valores gastos com recarga são bastante inferiores ao custo com combustíveis tradicionais, como a gasolina. O ideal é ter ponto de recarga em casa. É por isso que empresas como a Triskel e a NeoCharge já vendem carregadores domésticos com preços a partir de aproximadamente R$ 5.000. Trata-se de um mercado em franca expansão.
População quer experimentar
O levantamento aponta que 70% dos entrevistados pensa em experimentar carros elétricos via serviços por assinatura. Contudo, 18% visa redução nos custos totais de propriedade. “Muitos não veem mais motivo em serem proprietários de um veículo. O interesse é mais em ter acesso a um carro, uma mobilidade compartilhada, do que sem ser dono”, argumenta Fava. Ainda segundo dados da pesquisa, 39% dos consumidores daqui querem usar outros meios, como patinetes e bicicletas elétricas, por exemplo. Isso dentro dos próximos 10 anos.
Aluguel de elétricos
No Brasil, desde 2020, cresceu a oferta de assinatura de carros e motos elétricas, e serviços de compartilhamento de veículos. Quem está prestes a chegar por aqui é o VEC Itaú. É o novo serviço de carros compartilhados que o banco vai lançar até o fim deste ano. O Jornal do Carro já testou o serviço, que terá até modelos de luxo na frota (leia mais).
A sigla VEC vem de “Veículo Elétrico Compartilhado”. Essa opção de mobilidade urbana tem o mesmo conceito da bicicleta compartilhada, há 12 anos no mercado brasileiro. De início, o foco serão as empresas. Assim, o aluguel para “pessoas físicas” começa em 2023.
Na frota, o VEC Itaú terá BMW i3, JAC IEV 40 e Jaguar i-Pace. Para alugar, basta ter um smartphone, cartão de crédito e Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Se tudo estiver em dia, basta baixar o aplicativo do serviço no telefone celular. Após preencher cadastro, é preciso esperar a validação pela plataforma.
Quando o serviço estiver em operação, os carros deverão ficar em estacionamentos. Ou seja, nada de bolsões, como é feito com as bikes. Afinal, no fim do aluguel, o usuário deverá plugar o veículo em uma tomada de parede para recargar as baterias.
Infraestrutura tem aumento gradativo
Por falar em recarga de baterias, vale dizer que o número de eletropostos vem aumentando no Brasil. No total, o País tem 1.300 estações de recarga para veículos elétricos, conforme levantamento da startup de mobilidade, Elev. De acordo com o estudo, só a cidade de São Paulo reúne 445 pontos. Assim, 34% dos carregadores públicos e semipúblicos para carros elétricos e híbridos plug-in se concentra em solo paulista. Além disso, conforme noticiou o Jornal do Carro, o crescimento só de julho para agosto deste ano foi de 11,25%.
Dessa forma, São Paulo dá os primeiros passos e tem posto de gasolina instalando eletroposto. A Shell, por exemplo, inaugurou recentemente a primeira estação de carga rápida para carros elétricos na capital paulista. O ponto, que fica na Marginal do Tietê, Zona Norte da capital, tem potência de 50 kW. No mais, há diversas estações de recarga disponíveis em locais públicos e estabelecimentos, como supermercados e shoppings, por exemplo.
Embora o Brasil ainda não tenha lei específica que permita cobrança de energia, alguns locais cobram a recarga dos clientes. Cabe lembrar que, desde 2018, uma portaria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permite a cobrança de por empresas que disponibilizem pontos de recarga. É o que diz o artigo 9º da Resolução Normativa nº 819. De acordo com o texto, “é permitida a recarga de veículos elétricos de propriedade distinta do titular da unidade consumidora. Inclusive, para fins de exploração comercial a preços livremente negociados”.