A montadora chinesa Build Your Dreams (BYD) — Construa Seus Sonhos — chegou ao Brasil em 2013. Desde então, já investiu US$ 150 milhões na produção de ônibus elétricos. A maior parte do aporte ocorreu na fábrica de Campinas (SP), capaz de entregar até 2 mil chassis por ano ou 1 mil se o modelo for articulado. A empresa tem 60 unidades em circulação pelo Brasil e espera alcançar ao menos três dígitos até o fim de 2022. Para isso aposta no potencial de municípios de regiões metropolitanas, de capitais como São Paulo a cidades como Niterói, junto ao Rio de Janeiro. “Há um potencial enorme”, afirmou à DINHEIRO Marcello Von Schneider, diretor institucional e responsável pelo negócio de ônibus da BYD Brasil. “A cidade de São Paulo é o principal mercado, a locomotiva. Até da América Latina. Estamos falando entre 14 mil e 15 mil ônibus rodando diariamente.”
Além do mercado de transporte público convencional, outra característica nacional atrai a atenção. “Os veículos de fretamento, como chamamos os rodoviários para curtas e médias distâncias”, disse o executivo, ao lembrar que muitas companhias ainda utilizam ônibus fretados para o transporte de funcionários. “E com essa questão de sustentabilidade as empresas têm procurado os seus fornecedores e feito com que estudem ou migrem para uma tecnologia menos poluente.”
Além de questões referentes à sustentabilidade, a relação custo-benefício entre os modelos elétrico e convencional, a diesel, mostra-se discrepante. O custo operacional de um coletivo eletrificado durante os 15 anos de operação — o tempo permitido pela legislação — é muito menor, segundo o executivo. “A economia pode chegar a 65%”, disse Schneider. No mesmo período, segundo ele, uma empresa talvez tenha de comprar de dois a dois ônibus e meio a diesel devido ao desgaste. Ele ainda enumera outras vantagens. “Hoje você pode comprar por meio de um mercado livre ou de uma energia fotovoltaica numa condição muito melhor do que a do diesel, que é aquele preço e acabou.”
BOLSO O investimento para aquisição de um modelo elétrico, porém, é superior em relação ao movido a diesel. Enquanto os tradicionais custam em média R$ 600 mil, as unidades movidas a bateria partem em média de R$ 1,3 milhão e podem superar os R$ 3 milhões, dependendo dos acessórios, como no ônibus articulado D11B entregue recentemente pela BYD à prefeitura de São José dos Campos (SP). Doze exemplares irão circular pelas ruas da cidade, atendida também por uma frota de 34 carros elétricos, da BYD.
O universo de 60 ônibus da BYD em circulação pelo País pode parecer pequeno. No entanto, o mercado brasileiro tem apenas 350 modelos eletrificados, sendo a maioria trólebus, que recebem energia por meio de cabos instalados no trajeto. Os veículos produzidos pela BYD possuem autonomia de 250 quilômetros e são carregados completamente em até quatro horas. Apesar da expectativa de aumento dos negócios no segmento de eletrificados, o executivo defende a criação de uma política nacional de incentivo ao segmento. “A China começou assim. Com incentivos altíssimos para o carro elétrico”, disse.
Na Europa também há muitos subsídios de governos voltados para essa linha de mobilidade, menos poluente. “A grande questão é que o transporte público é uma responsabilidade das cidades. Então isso não interfere tanto no governo federal”, afirmou, ao destacar ainda que o ponto mais crítico e com grande potencial para desenvolvimento é a parte de financiamento. “E não só de veículo elétrico. Hoje se você conversar com muitos operadores de ônibus, eles não compram o veículo e, sim, compram crédito.” A saída, segundo ele, passa por uma operação em que as prefeituras deem garantia, “seja para o operador ou para a própria prefeitura comprar”. Algo temerário no Brasil, um lugar fiscalmente irresponsável na esfera pública.
Além da aposta no mercado de ônibus elétrico, a BYD voltará os olhos também para os carros de passeio. Em 2022, a empresa vai comercializar no Brasil de maneira direta dois modelos: o sedã Han e o SUV Tang. A companhia também investe em uma fábrica de baterias em Manaus, além de ter vencido a concorrência para o trem de subúrbio na Bahia e para o fornecimento de trens para a Linha 17 do monotrilho de São Paulo, entre Congonhas e o Morumbi. A BYD está com as energias carregadas. Seja para operar sobre trilhos, seja pelas ruas das cidades.