A JAC Motors tem anunciado desde o ano passado a renovação de sua linha de veículos com foco em uma gama 100% elétrica. Neste ano, a marca iniciou a ofensiva em produtos sustentáveis para a área comercial.
Um dos frutos é a iEV330P, primeira picape 100% elétrica de porte médio fabricada em série. Por R$ 289.990, o modelo – que já foi avaliado por Mobiauto – chegou ao Brasil para brigar com Ford Ranger, Toyota Hilux, Chevrolet S10 e Volkswagen Amarok, com proposta direcionada ao trabalho.
O outro é o iEV1200T, caminhão 100% elétrico da marca chinesa que busca brigar no mercado de caminhões pequenos que circulam em perímetro urbano. De acordo com a empresa, já foram comercializadas 100 unidades do veículo, que é testado por empresas como Enel, Porto Seguro, etc.
Por aqui, a novidade enfrentará a concorrência do Volkswagen Delivery nas versões diesel e elétrica. Esse último passou a ser montado na fábrica de Resende (RJ), mas ainda não tem data para definida para compor o catálogo da marca nem valor sugerido para venda.
Leia também: Avaliação: 1ª picape elétrica do mundo é robusta como Hilux ou S10 a diesel?
Para ter uma base do tamanho e das especificações técnicas do novo veículo da JAC, vamos usar como referência o já conhecido VW Delivery 9.170, que circula pelas cidades realizando entregas em estabelecimentos e que conta com capacidade de carga parecida com a do rival chinês.
- Jac iEV1200T: 5.995 mm de comprimento; 2.160 mm de largura; 2.323 mm de altura; 3.365 mm de entre-eixos; 228 mm de altura livre do solo.
- VW Delivery 9.170: 6.295 mm de comprimento; 2.685 mm de largura; 2.440 mm de altura; 3.400 mm de entre-eixos; 166 mm de altura livre do solo.
Como podemos ver, o JAC tem dimensões um pouco menores que o Volkswagen. Além disso, é mais leve e tem menor capacidade de carga. Seu PBT (Peso Bruto Total) é de 7,5 toneladas, e a capacidade máxima de carga chega a 4 toneladas. Comparando, Delivery a diesel possui 8,5 toneladas de PBT e 6,5 toneladas de capacidade de carga.
Durante o teste, o caminhão mostrou versatilidade devido ao seu tamanho reduzido. Além disso, o conjunto de espelhos retrovisores externos, aliado ao sensor sonoro de estacionamento e à câmera de ré, facilita as manobras em perímetro urbano. O campo de visão amplo dá uma posição mais confortável para o condutor realizar baliza em espaços reduzidos – melhor do que em alguns veículos leves, por exemplo.
O conjunto motriz é composto por um motor elétrico de 177 cv e 122,4 kgfm de torque aliado ao câmbio automático de apenas uma marcha. O pacote de baterias de ferro lítio de 97 kWh gera uma autonomia de 200 km em ciclo NEDC (menos rigoroso do que o WLTP).
De acordo com o presidente do grupo SHC, representante oficial da JAC no Brasil, Sergio Habib, a autonomia é ideal para as empresas que realizam entregas em perímetro urbano, já que seus caminhões que rodam em média até 80 km por dia. Além disso, segundo ele, o aumento da autonomia dos elétricos é proporcional ao aumento de preços, ou seja, quanto maior a autonomia de um elétrico, maior seu preço.
Leia também: Como economizar no seguro do carro? 10 formas de conseguir desconto
A recarga elétrica pode ser feita de duas formas: tomadas convencionais de 220V ou trifásicas de 380V. No primeiro caso, o caminhão demora cerca de 12 horas para concluir a carga, enquanto em tomadas trifásicas as baterias enchem em duas horas.
Ainda, a fim de melhorar o rendimento da bateria – aumentando a autonomia e regeneração da carga elétrica -, o modo ECO limita o veículo à máxima de 60 km/h. Quando esse modo não está acionado, o caminhão pode chegar a um limite máximo de velocidade de 90 km/h.
O motor elétrico responde bem às situações comuns do perímetro urbano. Por ser automático e equipado com um motor que responde imediatamente com o máximo de torque, as partidas em aclive, por exemplo, são fáceis de serem realizadas.
E, embora tenha uma velocidade máxima considerada baixa, é suficiente para trafegar nas cidades, uma vez que as vias das avenidas principais possuem em média um limite de 60 km/h, com as mais rápidas no limite de 80 km/h para veículos pesados.
A potência do caminhão pode parecer baixa por haver picapes médias de motor diesel com mais cavalos. No entanto, em comparação com o Volkswagen Delivery, percebe-se que o JAC está alinhado com a proposta do mercado.
O motor elétrico JAC entrega 12 cv a mais e tem o dobro de torque do modelo 9.170, que é equipado com motor diesel de 165 cv e 61,2 kgfm de torque.
O ponto desfavorável ao iEV1200T é seu valor elevado. Ele oferece o dobro de torque, mas leva menos carga e ainda custa mais que o dobro da versão diesel do VW Delivery: são R$ 349.990 contra R$ 163.255 do rival.
Por esse preço, o grupo SHC promete uma redução significativa nos custos com manutenção, troca de peças e combustível, que, nas contas dá uma relação custo/benefício favorável aos comerciantes.
Leia também: VW Nivus, vale mais a pena o Comfortline ou o Highline?
Neste caso, Mobiauto realizou o cálculo para saber quanto tempo o veículo demoraria para “pagar” a diferença de investimento entre os modelos citados acima analisando apenas o uso de combustível.
De acordo com a JAC, o caminhão tem um custo de R$ 25 a cada 100 km rodados. Adotando R$ 3,20 como preço médio do litro do diesel, um caminhão equivalente movido com o combustível derivado do petróleo teria um gasto de R$ 53 a cada 100 km fazendo uma média de 6 km/l.
Dessa forma, levando em consideração os dados de consumo fornecidos pela fabricante chinesa, o caminhão elétrico teria de rodar pouco mais de 660.000 km para repor a diferença de valores com a economia de diesel.
Caso seja levado em consideração os valores de manutenção e das revisões – que não são nada baratas – em veículos com motor ciclo Diesel, a diferença pode ser paga em menos quilômetros. Mas, de qualquer forma a rodagem será elevada.
Além disso, o alto valor do chinês não garante um acabamento mais refinado. O painel em plástico rígido não possui nenhuma superfície macia ao toque e os três assentos são fabricado em um tecido básico.
A central multimídia é mais interessante que a apresentada na picape iEV330P, e é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. Porém, está configurada com software chinês, então é importante treinar o mandarim antes de mexer nela.
Ao que tudo indica, uma versão traduzida deve equipar as novas unidades do caminhão.
Leia também: Quais os melhores carros para viajar? Sete modelos bons de estrada
Compensa realizar esse investimento?
Para um trabalho específico talvez sim, mas de maneira geral talvez seja melhor esperar novas opções. A iniciativa da JAC é importante para que as demais empresas do mercado passem a se dedicar à produção de veículos comerciais sustentáveis.
Embora tenha um motor eficiente, o retorno frente ao motor diesel ainda é demorado devido ao valor elevado. E, levando em consideração que veículos comerciais urbanos têm baixa rodagem, as empresas levariam anos para contar com o retorno da diferença de valores.
Claro, o meio ambiente tem de ser levado em consideração, principalmente pelo fato do diesel ser um combustível com alto teor de poluição. Por isso é importante esperar novas por novas opções no mercado.
Uma delas é o e-Delivery da Volkswagen, um caminhão de porte pequeno que também é 100% elétrico, e que deve completar o catálogo da marca alemã em breve.
O veículo é 5 cm mais comprido, 6,5 cm mais largo, 5,3 cm mais alto e tem entre-eixos 10 cm menor que o JAC. O motor elétrico de uma marcha tem 245 cv e 21,2 kgfm de torque.
Esse conjunto promete carregar 7,5 toneladas de carga, e o caminhão terá autonomia de 200 km, assim como o JAC.
A proposta é a mesma que a do JAC, mas o veículo pode ter um preço mais competitivo, sendo maior e levando quase o dobro de carga que o chinês. Sua montagem local na planta de Resende (RJ) ajudará o veículo a se posicionar melhor no mercado. Situação desfavorável ao JAC, importado, especialmente no atual cenário da cotação do real frente ao dólar.
Leia também: VW Taos será assim e terá item “esquecido” por Nivus e T-Cross
Questionado sobre uma possível montagem no Brasil, Sergio Habib, afirmou ser inviável, já que é proibido importar baterias por avião e existe limite máximo de quantidade para transporte em container de navio. Isso porque o material tem alto risco de autocombustão.
Com isso, é mais viável que o conjunto de baterias seja transportado instalado nos veículos. Ou seja, a picape iEV330P e o caminhão iEV1200T seguirão sendo totalmente importados, dificultando a adequação de seu preço ao mercado e fechando mais possibilidades de negócio por aqui.
O caminhão se torna realmente interessante aos motoristas que buscam comodidade e redução de ruído, afinal, só o painel de instrumentos do veículo é capaz de entregar que ele está ligado, tamanho o silêncio dentro da cabine.
Essa ausência de sons demanda atenção redobrada do motorista. Sem fazer barulho, o veículo surpreende pedestres e até outros condutores nas ruas. Ou seja, o risco de acidentes pode aumentar caso o condutor não esteja atento à via e aos pedestres imprudentes que realizam travessias fora de faixa.
Talvez você também se interesse por:
Picape Fiat (ou seria Ram?) para brigar com Hilux e S10 está a caminho
Conheça as picapes mais econômicas vendidas no Brasil
Primeira picape elétrica do mundo está no Brasil, mas é robusta como uma diesel?
Picape Chevrolet rival da Toro terá SUV “gêmeo” de sete lugares