Um recente anúncio de uma montadora brasileira mostra que o carro eletrificado é um caminho sem volta.

Após fechar a fábrica em Jacareí (SP) para reformas e adaptar a planta para receber linhas de híbridos e elétricos a partir de 2025, a Caoa Chery, que também produz veículos em Anápolis (GO), anunciou que todo o line-up de veículos seria eletrificado.

Ou seja, a linha de carros passa a ter opções térmicas (flex ou gasolina) e eletrificadas (híbridos leves, híbridos plug-in e elétricos).

Enquanto algumas montadoras e importadoras preferem lançar elétricos e híbridos em doses homeopáticas, adicionando aos poucos as novidades (Toyota, Nissan e Renault, por exemplo), há outras eletrificando todos os veículos — caso de JAC, Volvo e Lexus, que não vendem mais no Brasil modelos apenas a gasolina.

A estratégia da Caoa Chery é justamente não dar um passo inalcançável. Ao oferecer opções eletrificadas e flex ou só a gasolina, a montadora consegue avaliar essa demanda e atender melhor os consumidores.

Pequena diferença de preço coloca o híbrido, mesmo sendo leve, em vantagem – Imagem: Divulgação

Dentro dos portfólios, as marcas também decidem se trazem um carro exclusivamente elétrico ou híbrido, ou se estendem a oferta como uma nova versão àquela linha já existente.

Vamos citar o caso da Toyota: um RAV-4 só existe na versão híbrida enquanto o Corolla Cross pode ser adquirido com motor flex ou híbrido flex. Ou ainda no caso da Peugeot, com o e-208 que se soma às demais versões térmicas do hatch.

Outros nascem puramente elétricos, como o novo BMW ix e o Porsche Taycan.

Nesta reportagem, vamos comparar os carros que possuem versões a combustão com similares eletrificados e colocar na ponta do lápis o preço, o consumo e a autonomia.

No caso dos veículos flex, considerarmos o consumo quando abastecidos com gasolina, já que com o combustível fóssil os números são mais favoráveis.

Para ficarem mais equilibradas, as comparações são feitas com os modelos mais próximos em potência e torque — por exemplo, no caso do Peugeot 208, foi escolhida a versão 1.6 e não a 1.0. Confira a seguir:

Modelos elétricos x versões similares térmicas


Modelo

Propulsão

Autonomia

Consumo
(cidade/estrada)

Potência/
torque

Preço
mínimo
*
Renault Kwid
E-Tech
elétrico 298 km —   65 cv / 11,5 kgfm R$ 146.990
Renault Kwid flex 589 km 15,5 km/l 68 cv /
9,4 kgfm
R$ 64.690
Peugeot 208 e-GT elétrico 340 km 136 cv / 26,5 kgfm R$ 276.990
Peugeot 208 flex 564 km 12 km/l 120 cv / 15,7 kgfm R$ 94.990
Mini Cooper
S E 3P (BEV) Exclusive
elétrico 234 km 184 cv / 27,5  kgfm R$ 248.590
Mini Cooper S 3P Exclusive gasolina 453 km 11,7 km/l 192 cv /  28,5 kgfm R$ 228.290
Citroën e-Jumpy elétrico 330 km 136 cv / 26,5 kgfm R$ 329.990
Citroën Jumpy turbodiesel 704 km 10,2 km/l 120 cv/
30 kgfm
R$ 161.990
Peugeot e-Expert elétrico 330 km 136 cv / 26,5 kgfm R$ 329.990
Peugeot Expert turbodiesel 704 km 10,2 km/l 120 cv/
30 kgfm
R$ 161.990
Fiat e-Scudo elétrico 330 km 136 cv / 26,5 kgfm R$ 329.990
Fiat Scudo turbodiesel 800 km 12,4 km/l 120 cv/
30 kgfm
R$ 187.490
Fonte: Montadoras
*Os preços, sujeitos a alteração, são baseados em Brasília e podem variar conforme o ICMS de cada estado

Elétrico ou térmico, qual carro vale mais a pena?

Os carros puramente elétricos tendem a ser mais caros que os similares a gasolina, flex ou diesel, mas é preciso fazer contas.

Primeiramente, se considerar que as recargas são — ainda — gratuitas em wallbox (unidade de carregamento) de eletropostos públicos, o que ocorre na grande maioria, o custo será nulo.

Se o dono do carro abastecer em casa, o custo com a energia chega a ser 25% do que se gasta com gasolina. Se tiver placas de energia solar em casa, o custo de recarga será de 7% em relação à gasolina.

Outra vantagem econômica do carro elétrico é a manutenção: sem filtros, lubricantes, velas, cabos, sistema de escape e tantos outros, as revisões são muito mais em conta. Afinal, de uma média de 2.400 peças de um modelo a combustão, o elétrico é reduzido a 250.

Por ser mais eficiente e aproveitar melhor a energia, o carro 100% elétrico também sofre menos desgastes.

Na comparação de um Peugeot 208, por exemplo, após rodar 60 mil quilômetros, seu dono terá desembolsado cerca R$ 5 mil em revisão. Já a do similar elétrico custará R$ 2.100.

Se for considerar apenas o bolso, devido ao alto custo do elétrico, ainda vale mais a pena levar os modelos térmicos de Peugeot 208 e Renault Kwid e as versões comerciais dos furgões de Peugeot, Citroën e Fiat.

Mas é curioso ver o caso do Mini Cooper: por uma diferença de R$ 20 mil já é possível pensar em todos os benefícios de um carro elétrico na garagem.

Híbridos x versões similares térmicas


Modelo

Motor

Autonomia

Consumo
(cidade/estrada)

Potência combinada/
torque

Preço
mínimo
*
BMW 330e M Sport Híbrido plug-in e gasolina 952 km (cidade) e 1.072 (estrada) 25,3 km/l 292 cv / 42,8 kgfm R$ 379.950
BMW 320i GP flex  708 km 12 km/l  184 cv /
30,5 kgfm
R$ 300.950
BMW X3 xDrive30e X Line híbrido plug-in e gasolina  1.517 km 30,3 km/l 292 cv / 42,8 kgfm R$ 399.950
BMW X3 M40i gasolina 559 km 8,6 km/l 387 cv /  50,9 kgfm R$ 589.950
Mini Cooper S E Countryman ALL4 (PHEV) Exclusive híbrido plug-in e gasolina 57 km (só elétrico)
490 km (combinado)
23,6 km/l 224 cv /  39,3 kgfm R$ 272.990
Mini JCW Countryman ALL4 gasolina 532 km 10,4 km/l 192 cv /  28,6 kgfm R$ 347.290
Jeep Compass 4xe híbrido gasolina 44 km (só elétrico)
927 km (combinado)
25,4 km/l 240 cv /   27,5 kgfm R$ 349.990
Jeep Compass
TD 350
turbodiesel 711 km 11,8 km/l 170 cv /  35,7 kgfm R$ 220.490
Toyota Corolla Hybrid híbrido flex 662 km 13,1 km/l 122 cv / 16,6 kgfm R$ 187.090
Toyota Corolla Altis flex 637 km 12,7 km/l 177 cv / 21,4 kgfm R$ 175.390
Toyota Corolla Cross Hybrid XRV híbrido flex 556 km 15,4 km/l 122 cv / 16,6 kgfm R$ 196.290
Toyota Corolla Cross XRE flex 571 km 12,1 km/l 177 cv / 21,4 kgfm R$ 171.290
Caoa Chery Tiggo 5X Pro 1.5T flex Hybrid híbrido leve flex 816 km 16,2 km/l 160 cv / 25,5 kgfm R$ 169.990
Caoa Chery Tiggo 5x Pro flex 546 km 10,7 km/l 150 cv / 21,4 kgfm R$ 154.490
Caoa Chery Tiggo 7 Pro 1.5T flex Hybrid híbrido leve flex 800 km 15,7 km/l 160 cv / 25,5 kgfm R$ 199.990
Caoa Chery Tiggo 7 Pro gasolina 551 km 10,8 km/l 187 cv/ 28 kgfm R$ 193.790
Caoa Chery Tiggo 8 Pro 1.5T Hybrid Plug-in híbrido  plug-in gasolina 77 km (só elétrico)/
810 km (combinado)
42,7 km/l 317 cv / 56,6 kgfm R$ 269.990
Caoa Chery Tiggo 8 gasolina 563 km 11 km/l 187 cv /
28 kgfm
R$ 210.990
Fonte: Montadoras
*Os preços, sujeitos a alteração, são baseados em Brasília e podem variar conforme o ICMS de cada estado

Híbrido ou a combustão, qual carro vale mais a pena?

Os exemplos de carros híbridos são mais numerosos no mercado brasileiro e não é à toa. Primeiramente porque no Brasil, o custo de importação eleva bastante o valor dos elétricos, já que todos eles vêm de fora — nenhum tem produção nacional.

Há também uma explicação “cultural” à maior oferta de híbridos. Além do preço mais acessível em relação aos elétricos, a falta de estrutura em eletrocarga preocupa pessoas interessadas em gastar menos com combustível e evitar a poluição.

Por isso, para muitos brasileiros, faz mais sentido comprar um híbrido, que tem preço mais acessível e melhor consumo e esperar mais alguns anos (e mais confiança) para ter um 100% elétrico.

Hoje, a tecnologia híbrida oferecida por aqui tem três formatos: híbrido leve, híbrido e híbrido plug-in. Vamos explicar cada um.

Versões híbrida e gasolina do Mini Countryman: raro caso que a eletrificada custa bem menos – Imagem: Divulgação

Híbrido leve estende a autonomia do carro

O híbrido leve é chamado também de extensor de autonomia. Ele funciona assim: um gerador/motor BSG substitui o alternador e o sistema recupera a energia cinética gerada nas frenagens. Essa energia é armazenada em uma bateria 48V e utilizada para auxiliar e aumentar o torque e a potência vindos do motor a combustão quando solicitados.

Na prática, o carro tem um ganho por volta de 15% no consumo.

Os novos Caoa Chery Tiggo 5x e Tiggo 7 são exemplos de modelos que usam essa tecnologia. Por isso, os ganhos de potência e torque não são tão elevados, embora haja uma expressiva economia de combustível. As diferenças de preço desses modelos podem compensar o menor consumo.

Já o sistema da Toyota mais evoluído é o híbrido, que possui um propulsor elétrico que trabalha em conjunto com o motor a combustão.

Nesse tipo, não há recarga na tomada nem o motorista decide qual sistema opera, já que ele é automático. A bateria é recarregada pela energia na regeneração das frenagens.

Os motores da Toyota são distintos: enquanto o híbrido utiliza a opção flex 1.8, a outra versão utiliza um flex 2.0 bem mais potente.

No caso do Corolla sedã, a diferença de preço do híbrido (R$ 12 mil) pode valer a pena se o motorista rodar mais na cidade (onde ele é mais econômico) e não fizer questão de mais potência.

Nessas mesmas condições, o SUV Corolla Cross híbrido custa R$ 25 mil a mais.

Veja também: Do salário mínimo ao milhão? O passo a passo para conquistar a liberdade financeira

A evolução da espécie

Os híbridos plug-in são mais evoluídos ainda que o híbrido leve e o híbrido convencional porque as baterias lhe dão mais alcance.

No geral, esses veículos utilizam dois motores elétricos para tracionar e permitem que o motorista escolha se roda apenas no elétrico ou na gasolina (ainda não temos um híbrido plug-in flex). No modo elétrico, é possível atingir autonomia de até 80 quilômetros, conforme o modelo.

Embora também tenham sistema de regeneração, as baterias requerem carga pela tomada. Mas o motorista não fica na “mão”. Se a carga zerar, o motor a gasolina o leva até onde for preciso ou, pelo menos, será mais fácil e rápido reabastecê-lo.

Se antes as opções plug-in no mercado brasileiro eram restritas a Volvo, Porsche e BMW, hoje passamos a ter mais alternativas acessíveis, como o Jeep Compass e o Caoa Chery Tiggo 8.

No caso do Jeep, é mais vantajoso apostar no híbrido aquele motorista que roda bastante e quer compensar no consumo. São R$ 130 mil que separam a versão híbrida que faz média de 25 quilômetros por litro (km/l) de gasolina em relação à turbodiesel, mais acessível e que faz quase 12 km/l.

A diferença é bem menor no Tiggo 8: por R$ 59 mil a mais, o híbrido promete média acima de 40 km/l e muito mais potência e torque — o SUV vem equipado com motor 1.5 a gasolina que opera com outros dois elétricos.

No consumo combinado, a Caoa Chery promete autonomia de 810 km antes de reabastecê-lo com gasolina ou eletricidade.

Exceções de carros híbridos mais baratos que similares a gasolina

Neste comparativo, chamam a atenção dois exemplos de carros que são mais baratos nas versões híbridas do que nas movidas a gasolina.

Embora mais potente, o BMW X3 M40 i “beberrão” custa R$ 190 mil a mais que o modelo híbrido plug-in mais próximo, o X3 xDrive30e X-Line.

Além disso, o eletrificado chega a oferecer três vezes mais autonomia em relação ao modelo somente a gasolina. O interessado pode ficar naquele dilema entre emoção e razão.

Outro exemplo é o Mini Cooper Countryman. A versão híbrida é mais potente, mais econômica e mais barata: R$ 273 mil. O similar a gasolina custa R$ 347.290 e bebe o dobro. Neste caso, não há dúvidas que levar o híbrido é o melhor negócio.   

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